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Agressividade e preconceito no consultório médico

Por:

Bárbara Mello

- 10/01/2020

morte

O trabalho do médico engloba vários desafios e situações desgastantes. Muitas vezes, o profissional deve encarar longas jornadas de trabalho sem interrup­ções, o que demanda muita paciência e disposição. Além disso, é preciso ter ha­bilidades que permitam um bom relacionamento com os pacientes.

No entanto, nem sempre isso é possível. Infelizmente, os casos de agressão e preconceito contra profissionais da saúde são mais frequentes durante a carreira médica do que se possa imaginar. Esses episódios normalmente envolvem impaciência por parte dos pacientes, quando exige-se do médico mais do que ele pode realizar.

Preconceito por ser jovem 

Atualmente com 30 anos, a pediatra Beatriz Menezes afirma ter passado situa­ções de preconceito por ser muito jovem durante sua atuação como residente. “Por diversas vezes, as mães dos meus pacientes me perguntavam se eu ainda estava na faculdade e se seus filhos seriam mesmo atendidos por uma médica tão jovem. In­clusive, uma vez, uma mãe chegou a duvidar da minha conduta por me achar muito nova”, relata.

Beatriz conta que a maneira que encontrou para lidar com a situação foi explicar para as mães dos pacientes que não estava mais estudando, pois já era formada na especialidade. “A maioria ficava tranquila, com um sorriso e aceitava a conduta”, declara.

Quando o médico sofre ameaças

Psiquiatra da rede municipal de Santos, em São Paulo, Hélio Rocha Neto afirma já ter passado por situações em que pacientes agiram de forma violenta durante o atendimento, por não aceitarem sua conduta ou, simplesmente, por não terem seus pedidos atendidos.

Em um desses episódios, o psiquiatra conta que atendia pacientes em uma sala de suturas, onde muitas pessoas aguardavam pelo atendimento. Na fila de espera, o pai de um menino de 10 anos, que apresentava um corte no pé, exigia que o filho fosse atendido imediatamente, queixando-se da demora.

“Infelizmente, ele havia chegado depois de cinco pessoas e não havia porque ter o direito de passar na frente delas. Ao ser informado sobre isso, ele ficou ainda mais furioso, chegando a investir contra a porta quando ela foi fechada”, detalha Neto.

O psiquiatra relata que a equipe de segurança teve que intervir, expulsando o indivíduo do local. Contudo, o pai do paciente saiu do hospital afirmando que voltaria para “acertas as contas” com os funcionários. Aos profissionais da Saúde, Hélio re­comenda que, ao passar por situações semelhantes, é essencial manter a calma e ser cortês. “Sua segurança é primor­dial, tanto para a sua saúde, quanto para a do paciente”, acrescenta.

O impacto da agressão verbal

Juan Félix Costa é médico recém-for­mado e se especializa em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital dos Servidores do Estado de São Paulo. Mesmo estando no início de sua trajetória profissional, o médico relata já ter passado por um epi­sódio em que foi agredido verbalmente, sofrendo ameaças de perseguição duran­te um atendimento.

“O paciente não compreendeu minha conduta em meio ao caos da unidade de atendimento na qual nos encontrávamos. Exigente, ele não percebia que eu estava com minhas mãos atadas, não podendo fazer mais do que o mínimo para garantir o seu bem-estar”, descreve.

A situação chegou a causar, no profissional, medo de retornar à ati­vidade normal. “Mas não me deixei abater por esse episódio único e voltei outras vezes à unidade, com o objeti­vo de exercer meu sonho de menino de ser médico e ajudar as pessoas da maneira mais digna possível”, resume.

Como melhorar a relação médico-paciente?

Por parte do médico:

  • Prestar um atendimento humanizado, marcado pelo bom relacionamento pes­soal e pela dedicação de tempo e aten­ção necessários;
  • Saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e compreendendo suas expecta­tivas, com registro adequado de todas as informações no prontuário;
  • Explicar detalhadamente, de forma simples e objetiva, o diagnóstico e o tra­tamento para que o paciente entenda a doença, os benefícios do tratamento e, também, as possíveis complicações e prognósticos;
  • Estar disponível nas situações de ur­gência, sabendo que essa disponibili­dade requer administração flexível das atividades.

Por parte do paciente:

  • Lembrar-se de que, como qualquer outro ser humano, o médico tem virtudes e defeitos, observando que o trabalho médico é uma atividade naturalmente desgastante;
  • Não exigir o impossível do médico, que só pode oferecer o que a ciência e a M­edicina desenvolveram. Da mesma forma, jamais culpar o médico pela doença;
  • Não exigir dos médicos exames e me­dicamentos desnecessários, lembrando que o sucesso do tratamento está mui­to mais na relação de confiança que se pode estabelecer com o médico;
  •  Seguir as prescrições médicas (reco­mendações, dosagens, horários etc.) e evitar a automedicação.