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Clínicas de varejo despontam em cenário nacional

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Universo DOC

- 10/01/2020

Cada vez mais, tem se percebido, no Brasil, o crescimento das chamadas clínicas de varejo (uma versão nacional das americanas retail clinics ou walk-in clinics). O livro Inovação em Saúde – Como reduzir custos e melhorar resultados usando uma nova ciência, do pesquisador de gestão e estratégia Clemente Nobrega, explica que esse tipo de clínicas trouxe uma série de aspectos que são essenciais para o estabelecimento de um novo ecossistema de saúde: “a desconstrução do especialista médico, novos formatos de prestação de serviços em atenção básica, a importância de foco e padronização para qualidade e custos, a primazia crescente da enfermagem como ‘ferramenta’ de desafogar atendimentos e a desmistificação de premissas, como a relação médico-paciente, entre outras”.

O que viria a ser conhecido, mais tarde, como clínicas de varejo apareceu na década de 1970, quando o médico e empresário Bruce Irwin criou a American Family Care (AFC), uma das primeiras redes de clínicas especializadas em oferecer cuidados primários nos Estados Unidos. Inspirada em lições vindas das empresas de varejo e fast-food, a filosofia da empresa é de atender mais de um milhão de pacientes por ano. Isso se reflete no lema da companhia – “A assistência correta. Agora mesmo” –, que lembra o atendimento rápido, prestado no drive-thru dos fast-foods.

Posteriormente, em 2000, um empreendedor chamado Rick Krieger viveu uma experiência que todos conhecem: não conseguia marcar horário para que um médico atendesse seu filho pequeno com infecção de garganta. “Ficava me perguntando por que não havia uma maneira de obter atendimento de forma descomplicada para uma desordem relativamente simples, um jeito rápido e conveniente, sem ter que esperar uma emergência por duas horas. Não estou falando de diabetes, câncer ou doenças do coração! Estamos falando de resfriados, garganta inflamada e infecções de ouvido”, pontua Krieger. Assim nasceu a companhia que tem como slogan “You’re Sick. We’re Quick” – em tradução literal: “Você está doente. Nós somos rápidos”.

Com alguns parceiros, sendo um deles médico, e com a cooperação de uma rede local de supermercados, dentro do qual Krieger instalou a primeira Minute Clinic, foi dado início ao conceito de clínica de varejo. Com uma taxa fixa de US$35 (somente em dinheiro), os pacientes tinham direito a análise, diagnóstico e prescrição de desordens comuns, como infecção de garganta, gripe, infecção de ouvido, conjuntivite e alergias.

Clínicas expressas despontam em cenário nacional

Com o sucesso da Minute Clinic, que hoje está em mais de 800 localizações, em 28 estados americanos, as clínicas expressas deixaram de ser atividades de segunda categoria e se tornaram uma opção real para muitas atividades do cuidado primário, sendo imitadas mundo afora. No Brasil que, pela primeira vez em dez anos, teve seu mercado de planos de saúde em retração devido à crise, as clínicas se mostraram uma alternativa viável. É um segmento de atendimento básico, de baixa complexidade, que cresce com a ineficiência do sistema público de saúde e com a dificuldade das classes C e D em desembolsar valores mensais para manter um plano de saúde. “As pessoas não querem ir para o SUS”, afirma Antônio Carlos Brasil, da Acesso Saúde, que tem hoje 16 clínicas expressas em funcionamento no país. “E a gente nota que a maioria desses novos pacientes tinha convênios médicos, mas perderam o plano de saúde junto com os seus empregos”, complementa.

Diego Freitas, diretor de marketing e sócio da ClickMed, clínica de varejo que funciona em uma cidade-satélite de Brasília, Sobradinho, aponta que a crise afetou o mercado porque distanciou uma classe da sociedade dos atendimentos de saúde. “Infelizmente, algumas pessoas têm o dinheiro contado para o dia a dia e acabam não conseguindo separar uma quantia para atendimentos médicos, mesmo com o preço sendo acessível. Por

outro lado, pessoas que não podem pagar por planos de saúde ou se moveriam para outras cidades, agora têm acesso a um serviço barato, com atendimentos que variam de R$99 a R$120”, explica Diego.

A ideia da clínica de varejo é justamente essa: dar acesso à população a bons médicos, a um preço acessível e justo. “É para que a pessoa possa pagar e não fique tanto tempo esperando na fila, como acontece nos hospitais. Aqui na ClickMed, os clientes recebem atendimento personalizado e especial, sem precisar pagar um valor absurdo por isso”, comenta Diego. “O serviço da clínica de varejo é positivo também para o médico que nela trabalha, por conta do retorno recebido em fluxo de pacientes. Além disso, esse profissional tem um ambiente muito bom para trabalhar, sempre limpo e higienizado, com espaço para refeições e boa manutenção”.

O presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin, destacou que, somente em 2015, 150 mil consultas deixaram de ser realizadas em prontos-socorros privados na cidade de São Paulo, devido à redução do número de beneficiários de planos de saúde. Ele explica que a demanda agora é atendida por clínicas populares, consultórios particulares ou pelo SUS.

Em sua opinião, as clínicas expressas são uma tendência de mercado que terá sua perenidade testada quando a economia retomar o crescimento e a parcela de desempregados retornar ao mercado de trabalho, voltando a ter planos de saúde e a usar hospitais privados. “Quem faz um atendimento profissional participará do processo de consolidação. Quem apenas ‘entrou na onda’ pode perder a clientela”, comenta ele.

De qualquer forma, no contexto de crise em que vivemos, as clínicas de varejo são um respiro que funcionam como uma forma complementar de atendimento básico de saúde e estímulo para que setores como prontos-socorros aperfeiçoem sua qualidade de atendimento, focando em casos de alta complexidade, o que contribui para o escoamento de casos e consequente melhoria na situação da saúde pública e privada no Brasil.

 

Algumas clínicas de varejo disponíveis no Brasil:

Dr. Agora

Dr. Consulta

ClickMed

MinutoMED

Cuidar +

Acesso Saúde

 

Texto por Bruno Bernardino