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Especial Mentes Revolucionárias da Medicina – Parte 2

Por:

Universo DOC

- 10/01/2020

Neste especial, trazemos cinco profissionais que, de alguma forma, revolucionaram a Medicina. Nosso segundo entrevistado é Dr. José Pachón Mateos. Nascido em Sevilha, na Espanha (seu nome não nega), o médico e cientista chegou ao Brasil aos 2 anos de idade e, por isso, se considera brasileiro – e com sotaque mineiro.

José Pachón Mateos

José Pachón Mateos
Foto: Juan Cogo

 

Formado pela Faculdade Federal de Medicina do Triângulo Mineiro, especializou-se em Cardiologia pelo Instituto de Cardiologia do Estado de São Paulo e, posteriormente, obteve o doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Estimulados pelo pai arquiteto, que também sempre nutriu interesse pela Eletrônica, seus irmãos e ele investiram na área das arritmias cardíacas, que lida, fundamentalmente, com os problemas de condução elétrica do coração. Nas palavras de Pachón, essa é, “talvez, a área de maior importância na Medicina”.

 Medicina como um estilo de vida

Em São Paulo desde 1979, o médico é, hoje, diretor do Serviço de Marca-Passo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC) e do Serviço de Arritmias do Hospital do Coração de São Paulo (HCor) e professor de pós-graduação na USP. Sua equipe – composta de profissionais altamente respeitados, incluindo familiares, que também têm no sangue o amor pela Medicina – acompanha-o nos hospitais citados e no Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, onde exerce o cargo de diretor do Serviço de Arritmias.

Os Pachón são pioneiros. Na década de 1980, quando houve um aumento no interesse mundial em solucionar as arritmias, os irmãos desenvolveram um método de estudo eletrofisiológico, que utiliza como via o esôfago, e patentearam o aparelho que, em seguida, foi fabricado na França e distribuído pelos Estados Unidos e pela Europa. Nomeado cardioestimulador transesofágico, o dispositivo simplificou o diagnóstico e o entendimento de muitas arritmias, permitindo o início dessa especialidade nas regiões mais remotas de nosso país, da América do Sul e da África. Isso só foi possível depois de muitos testes experimentais realizados ainda na época em que o médico estava na universidade.

“Essa era uma área bem pouco desenvolvida. Naquela época não existia, ainda, a internet ou, mesmo, os computadores pessoais, e livros que abordassem a área das arritmias eram extremamente raros. Ainda na faculdade, eu era responsável pelas aulas de Fisiologia Médica e, ao produzir muitas atividades experimentais, principalmente na área da atividade elétrica do coração, consegui desenvolver o aparelho em questão. A partir disso, a área se expandiu rapidamente no Brasil e no exterior. Hoje, nosso país é reconhecido internacionalmente nesse segmento. Parte desse sucesso é oriunda de um grande número de excelentes profissionais, em todas as regiões do país, que descobriram sua aptidão para a eletrofisiologia pelo fato de terem acesso a essa forma simplificada do estudo das arritmias ainda durante a vida acadêmica ou durante a residência”.

Mais tarde, na década de 1990, Pachón desenvolveu o método da estimulação septal em ventrículo direito, amplamente difundido e aplicado até os dias de hoje. Em seguida, antes do advento dos ressincronizadores, a evolução da estimulação septal permitiu o desenvolvimento da estimulação ventricular bifocal direita, técnica utilizada, no mundo todo, para tratar a insuficiência cardíaca. Esse trabalho, inclusive, foi premiado com o Rudolg Virchow International Award, conferido pelo Instituto de Patologia da Universidade de Humboldt, em Berlim.

Além dessas inovações, Pachón desenvolveu, no Serviço de Marca-Passo do IDPC e no HCor, a ablação espectral por radiofrequência da fibrilação atrial, que permitiu identificar o miocárdio compacto, o miocárdio fibrilar e novos mecanismos de arritmias, como a ressonância dos ninhos de FA (AF-Nests) e a taquicardia de background. Esses conceitos são fundamentais para o entendimento da fisiopatologia da fibrilação atrial, mostrando que não é uma arritmia desorganizada, mas um conjunto de arritmias bem definidas e recursivas.

Ainda, o mapeamento espectral identifica os pontos de maior densidade neuronal no endocárdio e permite ablacionar o neurônio pós-ganglionar parassimpático. Isso faz com que a resposta cardioinibitória seja eliminada e abre um novo capítulo na eletrofisiologia: o tratamento da síncope neurocardiogênica e das bradiarritmias funcionais, sem o implante de marca-passo, chamado de cardioneuroablação. Esses conceitos e metodologias resultaram em patentes registradas no United States Patents and Trademark Office. Além disso, compuseram um tema exclusivo nos últimos dos congressos da Heart Rhythm Society, realizados em Boston e São Francisco, nos Estados Unidos.

Porém, na visão de Pachón, o trabalho só começou: “O sentimento é de que estou em um estímulo diário para seguir contribuindo para melhorar a vida dos pacientes e facilitar o trabalho de meus colegas que aderem ao uso das técnicas que desenvolvemos em equipe. Essa atividade precisa ser constantemente alimentada, de maneira árdua e exaustiva, para que possa crescer”.

Reportagem de Bruno Bernardino e Paula Netto