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Especial Mentes Revolucionárias da Medicina – Parte 3

Por:

Universo DOC

- 10/01/2020

Chegamos à terceira parte de nossa série de entrevistas e, desta vez, contamos a história de José Osmar Medina Pestana. Nascido na pequena Ipaussu, cidade do interior do estado de São Paulo, com pouco mais de 10 mil habitantes, Medina veio de uma família sem médicos. Desde criança, nutria admiração pelo clínico geral da cidadezinha, Rafael de Souza, o que serviu de inspiração para a escolha pela Medicina. Entretanto, antes disso, o médico experimentou outra profissão: a de torneiro mecânico. Formado em um curso técnico aos 15 anos de idade, exerceu a atividade até os 19.

José Osmar Medina Pestana

José Osmar Medina
Foto: Juan Cogo

 

O período foi suficiente para que o aspirante a médico acumulasse recursos financeiros e iniciasse o curso preparatório para o vestibular de Medicina. Dedicação e sorte contribuíram para que o objetivo fosse alcançado. Medina foi aprovado na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) – considerada uma das melhores na época –, em 1979. Durante todo a graduação, trabalhou como técnico de laboratório. A conclusão da residência médica em Nefrologia aconteceu no Hospital São Paulo (o Hospital Universitário da Unifesp), onde atuou como chefe de plantão do pronto-socorro e na liderança do grupo de transplante renal.

Após a especialização, o nefrologista obteve o título de doutor em Transplante Renal, tendo concluído, ainda, mais dois cursos de pós-doutorado na área, fora do país – na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, o médico se especializou na área clínica de transplante renal. Já, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, estudou transplante experimental.

Quando retornou ao Brasil, ele criou e consolidou o Hospital do Rim e Hipertensão (HRIM) como instituição líder mundial em transplantes renais. O trabalho liderado por Medina e sua equipe levou a instituição a atingir, em 2014, a marca de 10 mil transplantes realizados. O grupo aumentou, com sucesso, a proporção de transplantes renais de doadores falecidos, o que permitiu a redução da taxa de doadores vivos de mais de 70%, no início das atividades, para menos de 25%, atualmente. “Liderar e manter o HRIM como o principal centro de transplantes do mundo por 18 anos seguidos é um feito que engrandece toda a sociedade brasileira, pois o sucesso do transplante depende da participação de todos”, declara o especialista. Com números tão expressivos, logo a equipe passou a participar de estudos multicêntricos internacionais e a treinar médicos que trabalhavam com transplantes em todo o país, chegando a capacitar mais de 600 profissionais.

O sucesso do HRIM propiciou a Medina ocasiões memoráveis na carreira. Uma delas foi o convite para ser professor visitante da Universidade de Harvard, onde recebeu um prêmio do lendário Joseph Murray, primeiro médico a realizar um transplante de órgãos e a ser agraciado com o prêmio Nobel de Medicina. “Tive oportunidade de receber homenagens pelo trabalho que fazemos em equipe no HRIM, tanto no Brasil quanto no exterior. Mas considero esse o mais importante”, relembra. Anos antes, o médico havia sido eleito fellow do Royal College of Surgeons of England, por seu trabalho notável com transplante de órgãos.

Rotina e voluntariado

Medina não só dirige o HRIM, mas é também professor titular da disciplina de Nefrologia da EPM, presidente do conselho da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), membro do Conselho Superior Estratégico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ocupa a cadeira número 50 da Academia Nacional de Medicina (ANM). A rotina do profissional abrange até 14 horas de trabalho por dia e ainda sobra tempo para atividades alternativas. “Presto assistência médica voluntária a pacientes de Ipaussu e também desenvolvo ações com 30 alunos de graduação do curso médico na forma de mentoria. Faço isso há 14 anos, em paralelo ao trabalho com transplantes. Dedico-me cada vez mais a esse projeto voluntário, de que sou coordenador, com intuito de estimular os alunos de graduação a buscarem atividades comunitárias do tipo e a desenvolverem uma identidade pessoal que seja logo reconhecida pela sociedade”, explica.

Por esse tipo de trabalho desenvolvido em diferentes comunidades, como o auxílio prestado à saúde de índios do Xingu, Medina já foi reconhecido com títulos de cidadão honorário paulistano, soteropolitano e baiano.

Reportagem de Bruno Bernardino e Paula Netto