Uma palavra com apenas cinco letras, que está por todos os cantos: ética. O Brasil vive um momento único. Chegamos ao fundo do poço e podemos, pela primeira vez, enterrar de vez o ‘jeitinho’ que sempre foi tão característico de nosso povo, mas que, disseminado em todos os setores e na sociedade, trouxe junto a corrupção generalizada e sistematizada. Serão novos ventos que trarão novos tempos? Só o futuro dirá.
O Médico e o Jornalista – afinal a imprensa não é nenhum monstro – uma publicação da DOC Content, que tive o prazer de escrever, juntamente com o também jornalista Cacá Amadei, e que acaba de ser lançada – traz um capítulo inteiro dedicado à ética na comunicação. Mas como a comunicação é apenas o reflexo de atitudes conjuntas de uma empresa, clínica ou consultório, o capítulo é, na verdade, um ensaio sobre a própria vida.
Não é possível ser ético apenas ao comunicar. A ética tem que estar em todos os processos e a comunicação será apenas consequência. No capítulo mencionado, convidamos a psicóloga Deborah Bretas, que é uma estudiosa em Comunicação, para auxiliar em um entendimento mais amplo do tema. “A Ética é o exercício individual de reflexão sobre os conteúdos morais codificados por uma certa sociedade, em um dado momento histórico. Ela pressupõe a sustentação da vida em comunidade”, contextualizou Deborah.
A especialista ainda foi além: “em última instância, a Ética busca reconhecer quais aspectos de uma dada moralidade favorecem a sustentação do que chamamos a vida humana e os que a ameaçam. Reconhece a alteridade como base da vida social. O ‘Eu’ e ‘Outro’ e a sua interdependência. Podemos entender que o ser humano é basicamente dependente. Estabelece relações com o mundo além de sua individualidade. Precisa do ar, da água, do alimento e da influência do outro para edificar e sustentar aquilo que chamamos de vida humana. Nessa compreensão surge o sentido de alteridade. ‘Eu’ e o ‘Outro’. Emerge o campo
das relações, onde se estabelece a necessidade da reflexão ética. Daquilo que devo, posso e quero fazer e daquilo que não devo, não posso e não quero fazer. Comunicar com ética é praticar essa reflexão todos os dias”.
A comunicação ética é consequência de todo um processo global e não um ato isolado. Caso contrário, será um discurso vazio, um ato forjado que, em algum momento, será desnudado. Um bom exemplo é o Ética Saúde – acordo setorial de iniciativa da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Implantes (Abraidi) e do Instituto Ethos – que se tornou um divisor de águas, inicialmente no mercado de Dispositivos Médicos Implantáveis, e hoje é uma referência em todo o segmento da Saúde.
O Ética Saúde é o maior exemplo de que é possível fazer diferente e que é insustentável, nestes novos tempos, agir de forma diversa. Não é por acaso que até as pequenas empresas do setor de Saúde têm estruturado departamentos de compliance e vêm buscando as relações éticas nos negócios.
A Ética não pode ser um discurso, caso contrário cairá como um castelo de cartas. Não faltam exemplos para olharmos em todos os setores da sociedade que se apropriaram do discurso ético, mas, na prática, agiam ou ainda agem na escuridão.
Como escreveu o filósofo alemão Immanuel Kant: “Tudo o que não puder contar como o fez, não faça!”. É evidente que o filósofo não está falando contra a privacidade, mas em relação a algo que, ao ser feito, causará vergonha, que é antiético. Ético é ser ético. Cinco letras apenas, mas que fazem todo o sentido nas atitudes e não somente nas palavras.
Voltando ao artigo que encerra o livro O Médico e o Jornalista cito Bob Marley, que, de forma conclusiva, um dia afirmou: “São as atitudes e não as circunstâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo o respeito, é apenas o que você diz”.