“Às vezes, faz bem ficar doente”.
Henry D. Thorreau
“A cura está ligada ao tempo e, às vezes, também às circunstâncias”.
Hipócrates.
Há um tempo, recebi um e-mail de uma colega endocrinologista contando-me que havia recebido o diagnóstico de um câncer de pulmão. Ela, que sempre cuidou de alimentação, praticava exercícios físicos e não fumava.
Com a consciência aguçada dos prognósticos possíveis, características de nós, médicos, ela estava tendo que repensar e revalidar todas as escolhas que havia feito até então e reprogramar as próximas, baseadas em sua nova condição.
Curiosamente, na mesma época, eu mesmo estava vivendo um momento de perda, luto e desestruturação emocional sem precedentes, passando a apresentar sintomas somáticos, claramente oriundos do abalo sofrido. Graças à memória da colega, lembrei-me do método que eu mesmo havia proposto em uma coluna para a qual escrevo, e iniciei um processo de reflexão, auxiliado por amigos e por uma terapeuta.
Lembro-me dos vários momentos em que identifiquei em meus pacientes – ou mesmo em colegas, cuidadores – a incapacidade momentânea de se entregar à busca de sua cura, talvez por estarem fixados ao processo de negação tão característico ao momento inicial da descoberta de uma doença terminal ou um fato irrecuperável, que foge ao nosso controle.
Em Da morte ao morrer, Elizabeth Kübler-Ross cita as cinco etapas por que passamos nesses momentos: negação, raiva, depressão, barganha e, finalmente, aceitação. No início, um choque. Medo. Tentamos evitar o que nos afronta. Culpa. Em seguida, frustração, ansiedade, irritação. Vergonha. Depois desligamento, falta de energia, sensação de que nada pode ajudar. Então, um início de diálogo, busca de apoio externo, desejo de contar a história, luta para encontrar sentido no que está acontecendo. Finalmente, exploram-se as opções existentes e cria-se um novo plano no lugar dos antigos. Aceitação.
Tais etapas podem ser perpassadas de forma lenta (ao longo de anos) ou rápida (semanas), mas passar por elas pode significar o retorno do autoempoderamento, da autoestima, da sensação de segurança e de tomar o caminho para o retorno a uma vida significativa.
Se uma mensagem pode ser passada, esta é clara e simples: tenha consciência da etapa pela qual está passando, não deixe de sentir o momento que está vivendo. Mas não se esqueça que é preciso seguir. Nossa vida aqui só tem razão de ser pelo sentido que damos a ela. Enquanto esse sentido está temporariamente perdido, estamos como que “oniricamente anestesiados”, aguardando um “despertar”. Tal despertar virá com a realização prática com as soluções conscientes e com os devires sencientes que elaborarmos.
Não sei o que está acontecendo em sua vida, mas ela é bela e cheia de possibilidades. Acorde e mexa-se. E saiba que não é sinal de fraqueja pedir ajuda, se for preciso. Isso é saúde.