Chacrinha, o pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), foi um estudante de Medicina que não se formou. Todavia, legou para os ex-futuros colegas um bordão “pé no chão” imprescindível para a saúde da relação médico-paciente: “Quem não se comunica se trumbica!”.
Não é uma expressão ao gosto da Academia, mas é de uma veracidade ímpar, cada vez mais consistente e que se perpetua como matéria-prima para as inovações de ferramentas de comunicação, inclusive, no que se refere à linguagem corporal – a comunicação extraverbal, com alto vigor de expressão.
Uma queixa de não comunicação sob aspecto qualitativo e quantitativo sustenta um percentual considerável de reclamações de paciente/familiar sobre médicos aos conselhos de Medicina, atestando que o significado que o autor deu ao bordão existe no mundo real, embora a palavra “trumbica” esteja meio afastada dos dicionários. Afinal, a nossa língua é viva, no sentido do idioma e da anatomia.
A frase “Quem não se comunica se trumbica!” poderia estar em uma placa na beira do leito, certamente, sem conflitar com uma externa: “Silêncio, hospital”. Esclarecer não é o mesmo que importunar. Curiosamente, a indefectível buzina do Chacrinha ajuda nessa figura.
“Relação médico-paciente” é termo clássico e abrangente e a comunicação entre esses dois indivíduos é um de seus aspectos. Já o termo “conexão médico-paciente” é uma expressão moderna, que incorpora tecnologias de apoio cada vez mais eficientes e obrigatórias. Conectar-se na beira do leito carrega o potencial de transformar (maus) momentos inesquecíveis em (admissíveis) momentos esquecíveis. É capital partir da premissa de que toda palavra dita e todo movimento corporal tem um sentido de comunicação.
Definitivamente, não cabe mais aquele tempo em que o avental do médico era decodificado como barreira para livre comunicação, em que perguntas eram autocensuradas pelo paciente como inconvenientes para uma autoridade sempre ocupada com “assuntos mais relevantes”. Jovens médicos que não se sentem à vontade para a conexão com pacientes devem pensar cuidadosamente sobre a escolha da especialidade – há linha de pensamento de Richard M. Schwartzstein, inclusive, afirmando que estudantes de Medicina avessos à empatia não deveriam se formar.
Um ponto de destaque é quando o paciente está mais emotivo e nem sempre há essa percepção por parte do médico. Conectar-se com a realidade afetiva do outro empodera pela empatia, comportamento que proporciona uma percepção mais realista de como a situação está sendo vivenciada. Assim, o profissional conhece o paciente, o que favorece a tolerância e gera vantagem referente ao princípio da Autonomia, equilibrando os tempos de emissão e recepção das palavras.
Por mais que a vulnerabilidade a críticas seja constante em qualquer cuidado com as necessidades de saúde, ela é razão suficiente para um diálogo que faça prestar atenção nos sentimentos do paciente. As sombras no espaço mental desse indivíduo podem ser, assim, iluminadas, dando oportunidade a esclarecimentos e mudanças de comportamento, visando à prevenção de denúncias de negligência e de imprudência.