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O médico e as mídias: como essa relação influencia a sua carreira?

Por:

Julia Lins

- 10/01/2020

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Há décadas, o papel do médico não se limita apenas ao conhecimento técnico e uma boa atuação em consultórios. Cada vez mais, os pacientes esperam que o médico seja mais ativo fora do consultório e isso envolve as redes sociais. Desse modo, as mídias no atendimento médico acabam possibilitando a comunicação, o compartilhamento de informações e um alcance maior de potenciais pacientes.

Somando quase 2 milhões de seguidores nas redes sociais, o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto é um verdadeiro exemplo de como unir a Medicina às mídias digitais. Além da carreira médica, Gomes Pinto é consultor do programa Encontro com Fátima Bernardes e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). O neurocirurgião conta um pouco de sua trajetória e dá algumas dicas de como se posicionar nas redes sociais para auxiliar na prática médica.

Como tudo começou

A relação de Fernando Gomes Pinto com as mídias começou há mais de dez anos, quando ele se formou e abriu seu próprio consultório. “Assim que terminei a residência médica em Neurocirurgia, comecei a organizar o meu consultório e entender que seria necessário ter um site. Foi, aí, o passo inicial. Organizado por mim, comecei a montar textos, explicando um pouco mais sobre as doenças e isso foi crescendo”, lembra.

Porém, foi durante o doutorado, em 2007, que o médico organizou um grupo de hidrodinâmica cerebral, e, com isso, recebeu um convite da produção do programa Encontro para uma participação para explicar um pouco sobre memória. “A partir daí, tudo deslanchou, com participação em programas de televisão; até que a Globo me chamou para um contrato de participação no programa. Desde 2013, toda terça-feira, participo do programa da Fátima Bernardes, levando um pouco de conhecimento médico e neurociência para toda a população”, orgulha-se.

Mídias na Medicina

“É lógico que a participação na televisão me coloca em um papel diferenciado como comunicador, que é diferente de um indivíduo que atende e simplesmente opera, mas tudo faz parte do mesmo propósito, o de ser um consultor, não só de doenças, mas de saúde, para toda a população. Então, tudo faz parte disso: informar a população, formar os médicos residentes e passar informação para os pacientes e seus familiares. Tudo isso faz parte do mesmo contexto”, defende.

De acordo com o especialista, as redes sociais atuam como ferramenta de aproximação entre o médico e o paciente. “As mídias digitais podem ajudar mostrando que o indivíduo é especialista em determinado assunto, levando informações de qualidade, sempre tendo como objetivo principal a verdade, e informar a população seguindo os preceitos do nosso juramento de Hipócrates”, pontua Gomes Pinto.

Apesar dos benefícios do mundo digital, é preciso tomar cuidado com o conteúdo publicado. O Código de Ética Médica proíbe o profissional médico de realizar consultas, diagnósticos ou prescrever por qualquer meio de comunicação em massa. “Existe uma diferença entre marketing e entender que nós precisamos informar a população.

O marketing médico, na verdade, não deve ser feito totalmente por meio das mídias sociais, até porque existe uma série de normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O melhor marketing que existe para o médico é o bom trabalho e o relato dos pacientes.

Eles, sim, podem fazer a diferença para o profissional, comentando em suas redes sociais. Lembre-se de que, nas mídias digitais, a função do médico é educacional e de esclarecimento”, destaca.

Entre as redes disponíveis, destacam-se quatro: Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn. Porém, apesar da variedade, cada uma delas apresenta uma proposta diferente e tudo depende do objetivo do usuário. “Acredito que o mais importante é o médico identificar com qual rede social ele prefere trabalhar, em qual se sente mais à vontade.

Entendendo que seja algo de relacionamento mais profissional, o LinkedIn acaba sendo o mais indicado. O Facebook é mais popular, com uma liberdade maior para escrever dicas, orientações, além de permitir a introdução de links.

Já o Instagram é mais usado visualmente, com imagens coloridas e rápidas para orientar a população com uma linguagem mais simples e visual”, orienta. Apesar de não ser um fator determinante, Gomes Pinto acredita que o poder das redes agrega valor ao trabalho do médico.

“Quando um indivíduo tem um problema de saúde, ele quer ser bem atendido, quer atenção, quer um profissional que saiba o que está fazendo, que ofereça a ele a possibilidade de melhora. É claro, no entanto, que todos gostam de informação e as mídias sociais oferecem essa possibilidade de informação organizada, gratuita e de valor”, justifica.

Estar presente ativamente nas redes sociais também é uma vantagem para chamar a atenção do público jovem. Uma pesquisa realizada no ano passado pela ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia) revela que 70% dos jovens quase não vão ao médico, por isso é tão importante criar maneiras de captar a atenção dessa parcela da população.

“O público mais jovem entende que, se o médico está inserido no meio midiático, ele sabe do que está acontecendo, dos problemas, das dificuldades e das curiosidades, ou seja, está sempre atualizado e, com isso, seu interesse aumenta”, acredita Gomes Pinto.

Desafios das mídias digitais

Com as tecnologias, a relação médico-paciente tem se tornado cada vez mais complexa. Atualmente, há a presença do chamado “paciente expert”, termo que se refere ao paciente que busca ativamente informações sobre sua doença. De acordo com Gomes Pinto, a liberdade de acesso é uma faca de dois gumes, que pode auxiliar ou atrapalhar o médico em diversos momentos.

“A educação do paciente faz toda a diferença. Hoje, ele pode fazer uma busca sobre sua enfermidade. Porém, não tendo um editor, pela questão da liberdade de acesso aos buscadores como Google, o paciente, muitas vezes, tem acesso a informações falsas ou que não se aplicam a ele ou a seus familiares. Então, o paciente está educado, entendendo que há esse acesso livre à informação, mas que, por vezes, quem dirá qual é a informação correta que se aplica ao caso dele é o profissional da Saúde. Isso é o que faz a diferença”, ressalta o neurocirurgião.

Como se posicionar nas redes sociais?

  1. Fotos e vídeos do ambiente são fundamentais: publicar fotos do consultório e da recepção é fundamental para mostrar ao paciente a estrutura do local. Fotos da equipe e do próprio médico também são bem-vindas. Para o paciente, é muito importante conhecer a aparência do local e de quem vai atendê-lo, pois é uma forma de se identificar com o profissional ou não.
  2. Verifique a fonte de suas postagens: antes de publicar qualquer conteúdo nas redes, é fundamental checar sua fonte para não divulgar notícias falsas. Além disso, esteja atento aos direitos autorais, pois o compartilhamento de vídeos ou fotos de terceiros pode violar os direitos do autor.
  3. Produza conteúdo breve e relevante: para que o paciente entenda o conteúdo com mais facilidade, publique postagens simples e objetivas. Ao utilizar uma linguagem muito técnica, ele pode perder o interesse ou ter dificuldade em entender os termos. Caso queira usar palavras estrangeiras, o melhor é destacar a expressão e logo em seguida traduzi-la.
  4. Fique atento à qualidade da imagem: nas redes sociais profissionais, a qualidade da imagem é fundamental. O Instagram, por exemplo, utiliza imagens como destaque, por isso seus conteúdos devem ser de alta qualidade para que a imagem fale por si só. Da mesma forma, os vídeos também precisam ter uma ótima produção, a fim de passar profissionalismo ao seu potencial paciente e, assim, conquistar a sua confiança para realizar um procedimento ou consulta.
  5. Faça marketing de conteúdo: não adianta aparecer sem ter um bom conteúdo. Produzir conteúdo de qualidade, de forma a se posicionar como especialista dentro de um segmento, é grande a chance de conseguir captar mais pacientes interessados naquela especialidade.

5 motivos para ser digital:

  • Oportunidade de visibilidade;
  • Atingir novos nichos;
  • Interagir e tirar dúvidas dos pacientes;
  • Passar credibilidade e confiança aos usuários por meio de conteúdos e avaliações;
  • Gerar tráfego para o site da instituição.

Ética médica nas mídias sociais

Apesar de ser um ótimo espaço para divulgar seu serviço, as redes sociais possuem regras de uso, permitindo e proibindo algumas atividades. Confira a lista com algumas das permissões e das proibições, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM):

É permitido:

  • Publicar foto com seus grupos de trabalho e sua equipe médica;
  • Publicar, de forma comedida, que participou de cursos e de congressos, desde que possa comprovar;
  • Publicar seu endereço de consultório ou clínica, desde que não em matérias científicas e de esclarecimentos da coletividade;
  • Publicar que realiza procedimentos, desde que reconhecidos cientificamente e ligados a sua especialidade;
  • Fazer orientações gerais sobre doenças, sem, no entanto, prescrever ou direcionar suas informações a casos detectáveis.

É proibido:

  • Publicar foto de seu paciente ou em conjunto com o mesmo, fazendo referência a esse vínculo (quebra de sigilo);
  • Publicar foto de “antes e depois” (promessa de resultado);
  • Publicar foto de paciente na sala cirúrgica, relatando o que será realizado ou o que acabou de acontecer (quebra de sigilo, autopromoção e concorrência desleal);
  • Publicar que não existem complicações em seus procedimentos ou que todos os seus pacientes estão satisfeitos (promessa de resultado, sensacionalismo, autopromoção e concorrência desleal);
  • Publicar figuras de modelos ou artistas, vinculando-os ao nome do médico ou à clínica (autopromoção, sensacionalismo e quebra de sigilo).

Raio-X das mídias digitais

WhatsApp: com 1,2 bilhão de usuários no mundo e sendo uma das mídias digitais mais usadas no Brasil, é uma forma de se comunicar com pacientes e com profissionais da área, servindo como uma ferramenta de troca de informações.

Facebook: atualmente, é a maior rede social do Brasil e do mundo, somando mais de 2 bilhões de usuários, sendo 130 milhões apenas no nosso país. Essa é uma das redes mais importantes para sua clínica ou seu consultório se fazer presente.

YouTube: sendo a maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube possui 98 milhões de usuários no país. Como muitas pessoas preferem ver vídeos a ler conteúdos, produzi-los pode ser uma boa estratégia para impactar seus pacientes em potencial.

Instagram: com quase 60 milhões de usuários no Brasil e com o maior índice de engajamento entre as redes sociais, o Instagram é o aplicativo que mais cresce no mundo. A rede é uma plataforma visual, sendo uma oportunidade de postar fotos sobre os bastidores, dia a dia, dos funcionários do consultório ou clínica.

Twitter: a rede, caracterizada por textos curtos e atualizações sobre notícias e novidades em tempo real, reúne 30 milhões de usuários no Brasil.

Snapchat: hoje com 187 milhões de usuários em todo o mundo, a plataforma se destaca pela instantaneidade. Nela, você pode postar vídeos e imagens que ficam no ar por apenas 24 horas.

LinkedIn: é a maior rede social corporativa do mundo e conta com 29 milhões de usuários brasileiros. Por meio dela, é possível criar um forte networking profissional, além de melhorar seu marketing pessoal.