A arte é utilizada pelo homem para diversos fins, desde a Era das Cavernas. Comunicar-se, expressar emoções, materializar ideias, liberar a imaginação, tudo isso pode ser feito por meio da arte. Seu uso como terapia, porém, passou a ser feito a partir do século XIX. São diversas as modalidades artísticas que podem ser utilizadas com cunho terapêutico: o teatro, a música, a dança, a pintura, modelagem, literatura e as artes plásticas. Todas podem e devem ser instrumentos de desenvolvimento e cura, e podem ser aplicadas tanto em clínicas como em consultórios.
Segundo o médico Alexandre Schreiner, psiquiatra especializado em público infanto-juvenil pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub/UFRJ), manifestações artísticas são uma forma de encontrar um caminho nesta vida “cada vez mais massificada, impessoal e tecnicista”.
Por isso, a Arteterapia é uma área que incentiva o desenvolvimento de artes plásticas por pessoas que vivem algum tipo de trauma, doenças ou dificuldades na vida ou, mesmo, para quem busca desenvolvimento pessoal. De acordo com a Associação Brasileira de Arteterapia, é “uma forma de trabalhar utilizando a expressão artística como base da comunicação entre cliente e profissional, paciente e médico”.
União de terapias
Para o enfermeiro Rafael Morganti, que cursa o terceiro ano do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental no Ipub/UFRJ, a aliança entre a arteterapia e o tratamento convencional tem se mostrado uma potente ferramenta de produção de cuidado. Opinião compartilhada por Dr. Alexandre Schreiner, para quem a vida humana e seus problemas têm uma complexidade que, em geral, extrapola a competência individual. Logo, a partir do momento em que se faz necessário mais de um núcleo de formação para atender da melhor maneira um paciente, forma-se uma equipe multidisciplinar que integra diversos profissionais da Saúde e de outras áreas.
Para Schreiner, a relação entre os integrantes da equipe é fundamental, bem como é importante que se invista na troca multiprofissional, quase como uma condição do próprio exercício da Medicina. Segundo a psicóloga, arteterapeuta e gestora de uma clínica especializada na área, Angela Philippini, cada profissional deve agregar pressupostos de sua área de conhecimento, correlacionando essas informações ao contexto institucional e ao caso clínico em questão.
De acordo com Angela, a escolha do tipo específico de arte que será ofertado ao paciente é feita pela equipe, respeitando limitações e especificidades, com o quadro clínico e, sempre que possível, atendendo à singularidade e à preferência expressa da pessoa que está sendo acompanhada, bem como às demandas do tratamento.
Histórico da Arteterapia
Carl Gustav Jung, famoso psiquiatra e psicanalista suíço, foi o primeiro a utilizar atividades artísticas em seu consultório, nos anos 1920. Ele acreditava na criatividade como uma função psíquica natural e mostrou ser possível promover a cura por meio da expressão artística e verbal.
No Brasil, em 1923, o estudante Osório César, interno do Hospital do Juqueri, em São Paulo, desenvolveu estudos sobre a arte dos alienados. Em 1925, ele criou a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri.
No Rio de Janeiro, a psiquiatra Nise da Silveira estava insatisfeita com o uso de eletrochoques e lobotomia. Criou, então, em 1946, o Serviço de Terapêutica Ocupacional, que chegou a oferecer 17 diferentes tipos de atividades em ateliê. Pelas imagens criadas no ateliê, era possível acessar as vivências interiores dos participantes e pacientes. Assim, somente pelo fato de estarem se expressando, a arte já cumpria uma função terapêutica.
Com colaboração de Bruno Bernardino