O overdelivering é uma prática que vem ganhando adeptos em vários setores de negócios – e as clínicas e consultórios médicos não estão alheios a isso. O conceito se resume, basicamente, em entregar mais do que o cliente (no caso dos estabelecimentos médicos, o paciente) espera, a fim de tornar sua experiência a mais completa e satisfatória possível. Como define Maísa Marques, administradora, especialista em Saúde e diretora de marketing da Shosp (empresa de softwares para clínicas e consultórios), esse é um meio de surpreender o paciente.
Prática benéfica e reconhecida
Felipe Lourenço, especialista em Informática e Gestão em Saúde pela Universidade de São Paulo (USP) e CEO da iClinic, empresa especializada em soluções on-line para gestão de clínicas e consultórios médicos, afirma que qualquer estabelecimento médico pode praticar o overdelivering. “Entre os benefícios que a prática pode trazer ao consultório estão, além do próprio aumento do número de pacientes, a diversificação de procedimentos e acréscimo do faturamento”, completa.
Lourenço argumenta que alguns médicos ainda resistem à ideia de que seus consultórios sejam empreendimentos e precisem ser bem geridos, assim como negócios convencionais. No entanto, o aumento da concorrência no mercado tem tornado a busca por um diferencial cada vez mais necessária. “O médico precisa conhecer teorias de marketing, gestão, controle das finanças e gerenciamento de equipes”, adverte.
Overdelivering na prática
Lourenço defende que, muitas vezes, apostar na fidelização daqueles que já conhecem o serviço é bem mais barato e fácil do que criar uma estratégia de atração de novos pacientes. Para isso, medidas simples são de grande valia. “Uma prática que se mostra muito efetiva é confirmar a consulta, o que pode ser feito pela recepcionista. O paciente se sente muito acolhido quando recebe uma mensagem do consultório – e, claro, as chances de ele esquecer a consulta reduzem drasticamente, o que também é bom para o médico, já que diminui o absenteísmo”, argumenta. Na busca por realizar o overdelivering, porém, os consultórios devem tomar certas precauções. “Segundo uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), não é permitido dar descontos aos pacientes, nem oferecer condições diferenciadas de pagamento como uma forma de promoção. Essas são técnicas que muitas empresas utilizam no overdelivering, mas que são restritas na área médica”, alerta o CEO da iClinic.
Para Maísa, o ponto-chave é a humanização no atendimento. “Uma relação como a dos antigos médicos de família não existe mais, de modo geral. Então, é preciso encontrar outros meios de aproximar e humanizar a relação entre médico e paciente – e o overdelivering é uma delas. É importante saber quem são, por exemplo, os pacientes que interromperam a terapia, ou os que foram a uma primeira consulta e não voltaram mais. Assim, é possível entender como melhorar o tratamento, tanto o médico quanto o interpessoal”, afirma. Para aqueles que desejam preservar sua privacidade – não receber mensagens no WhatsApp fora do horário de trabalho, por exemplo –, pode-se criar um número específico para atendimento: “Assim, o canal continua aberto, o é uma surpresa positiva para o paciente”.
Como praticar o OVERDELIVERING
Felipe Lourenço, CEO da iClinic, dá alguns exemplos de como a sua clínica pode praticar o overdelivering:
- OFERECIMENTO DE AMOSTRAS GRÁTIS: “Isso ajuda o paciente a começar o tratamento mais rapidamente, além de reduzir os custos dele com o medicamento”.
- PÓS-ATENDIMENTO: “Você pode criar um canal de comunicação com seu paciente para saber como ele está se sentindo com o tratamento, se tudo está correndo conforme o planejado, se ele tem alguma dúvida e até para enviar algumas informações sobre a patologia diagnosticada. Você pode fazer isso por e-mail ou por aplicativos de mensagens, como o WhatsApp. Isso deixa os pacientes muito satisfeitos e é um cuidado que eles normalmente não esper am”.
- ESTRATÉGIA: “Na hora de montar sua estratégia, é importante se colocar no lugar do paciente e fazer alguns questionamentos, como: ‘O que o paciente espera do consultório?’. E, claro, levar em consideração o tempo e o dinheiro que podem ser investidos no overdelivering”.
Texto por André Klodja