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Artigo: avanços e retrocessos da relação médico-paciente

Por:

Universo DOC

- 06/05/2020

A Medicina Ocidental, em sua origem, era essencialmente humanística. Suas raízes se assentavam na filosofia e na natureza. Seu sistema teórico partia de uma visão holística, que entendia o homem como um ser dotado de corpo e espírito, inserido num contexto maior. As doenças eram consideradas consequências do desequilíbrio na interação entre o homem (vítima da enfermidade) e a natureza que o rodeava. Essa era a lei universal.

A partir da compreensão dessa relação – idealmente harmônica, o médico seria capaz de diagnosticar a verdadeira causa da doença, assim como sua cura. Isso o tornava, fundamentalmente, um humanista pelas circunstâncias. Foi com base nesse escopo que se alinharam os parâmetros fundamentais do modelo do médico hipocrático. Ou seja, um médico deveria estar ancorado sobre dois pilares-mestres para o exercício da Medicina: a história com o exame físico e, em especial, a relação médico-paciente.

Essa relação favorecia a extração das informações para a formulação do diagnóstico e das opções terapêuticas. Assim, o médico era um homem que aliava conhecimentos científicos e humanísticos na prática profissional. Também era um homem respeitado, pois o ato de “curar”, exercido por ele, não era apenas técnico, mas humano-científico.

Esse foi o modelo adotado pelos médicos do Ocidente, que se perpetuou, historicamente, com a evolução da Medicina. Esses avanços aconteceram, associados ao crescente desenvolvimento tecnológico, o que gerou mudanças na forma de atuação dos médicos e na sua formação acadêmica.

Com isso, a Medicina passou a ser vista como uma ciência exata e biológica, perdendo pouco a pouco o seu caráter humanístico, pois a adoção de recursos tecnológicos e de condutas já não dependiam diretamente de uma boa relação médico-paciente. Dessa forma, a necessidade de desenvolver uma estreita relação com o paciente foi sendo, gradativamente, substituída por exames e medicamentos cada vez mais sofisticados.

Estava, então, criado o conceito do médico cientificista. Ou seja, um profissional que não mais utilizava os princípios hipocráticos para a condução de cada caso, mas se baseava apenas em evidências clínicas e tecnológicas que propiciassem um diagnóstico. Os pacientes, antes vistos como indivíduos únicos, com patologias próprias, se tornaram seres com doenças.

Essa degradação do relacionamento médico-paciente foi também estimulada pelo interesse materialista cada vez maior de alguns médicos, assim como pela pressão exercida sobre os profissionais. Em ambos os contextos, pela precariedade assistencial ou pela priorização do lucro, se desnorteia o vínculo de confiança entre o paciente e o médico.

Ora, o médico e o paciente devem estabelecer parceria em busca de um objetivo comum: desenvolver e efetivar um plano terapêutico. Mas para que o êxito se configure, é importante que o diálogo se estabeleça. O resgate dessa relação médico-paciente, até então desvalorizada, como forma de complementar a ênfase dada aos recursos tecnológicos, surge como opção de se reumanizar a prática da Medicina, amparada sobre um novo paradigma, onde os dois modelos – o hipocrático e o cientificista – se encontram e se complementam.