O cenário moderno permite que todos estejam conectados de alguma forma, recebendo e produzindo conteúdo a todo momento. Desse modo, as pessoas não são apenas receptoras, mas também produtoras de informação. A questão complica-se quando os usuários das redes sociais utilizam as plataformas para difundir notícias falsas, as chamadas fake news.
As fake news estão presentes em todos os nichos e é fácil encontrá-las sendo compartilhadas pelas pessoas, que, sem saber da veracidade das notícias, acabam acreditando e reproduzindo as mensagens mentirosas. Na área da saúde, não é diferente. A circulação de informações truncadas é capaz de causar pânico no paciente ou fazer com que esse indivíduo tome medidas para sua saúde sem consultar um profissional, apenas baseando-se em um conteúdo da própria internet.
Atualmente, existem empresas especializadas em fact-checking, ou seja, em verificação de informações que circulam pela internet, como é o caso da Agência Lupa, primeira agência de fact-checking do Brasil. De acordo com Cristina Tardáguila, diretora da agência, a propagação de notícias falsas é algo que pode levar uma pessoa a tomar decisões das quais irá se arrepender.
“A base para qualquer decisão que a pessoa irá tomar na vida é a informação que ela dispõe sobre o assunto. Partindo dessa ideia, as notícias falsas colocam em risco esse pilar, pois se você tem uma informação de má qualidade, certamente tomará decisões erradas, aumentando a chance de arrependimento”, alerta Cristina.
De acordo com a diretora da agência, a área de saúde é alvo de muitas notícias e informações falsas que se proliferam de forma rápida. Um exemplo é o caso dos rumores que envolveram a vacina contra a gripe. Após uma checagem, a agência mostrou que os boatos, que já estavam, em algumas horas, com mais de 257 mil interações no Facebook, causando medo na população em relação à vacinação, eram falsos.
Pânico no consultório médico
Apesar de existir o fact-checking, a informação falsa consegue difundir-se em um tempo muito curto, atingindo um número muito alto de pessoas e gerando medo na população. Diante disso, é comum que o médico receba pacientes com uma visão errada sobre certo problema devido aos rumores que circularam nas redes sociais.
De acordo com o pediatra e infectologista André Ricardo, é necessário estabelecer uma relação de confiança com o paciente e buscar esclarecer tudo, sem deixar espaço para dúvidas que possam ser preenchidas com alguma informação mentirosa. “Recentemente, pacientes chegaram assustados até mim por causa de notícias falsas em relação à vacina da febre amarela.
Essas informações deturpadas perpetuam-se no imaginário popular e complicam a relação médico-paciente. A melhor forma de combater as fake news é conversar de forma clara e certificar-se que o paciente entendeu o que você passou para ele”, explica o profissional.
O papel das redes sociais
Diante dessa situação, surge uma dúvida: afinal, as próprias redes sociais, como o Facebook e o Twitter, devem ou não fazer um trabalho de verificação e exclusão de informações falsas? De acordo com André Ricardo, seria importante que esses meios de comunicação modernos criassem um filtro do que está sendo perpetuado e removessem as informações comprovadamente falsas, evitando que alcançassem um maior número de pessoas.
“Essa questão de como as redes sociais deveriam lidar com informações falsas é um assunto de debate, pois precisamos saber até que ponto podemos censurar a internet, porém acho que seria necessário ter um filtro ou barreira para lidar com esse tipo de informação”, afirma André Ricardo. Ainda sobre esse tema, Cristina acredita que as redes sociais não devem e não possuem capacidade de controlar o fenômeno das fake news.
“Isso não é algo que eles querem ou devem ter, porque o fact-checking é um trabalho jornalístico e não de TI apenas. Os profissionais de TI devem ampliar e auxiliar o trabalho minucioso que ainda precisa ser feito pelo ser humano, e o jornalista é o que mais tem essa capacidade. A remoção das fake news das redes sociais é algo preocupante, pois não basta deletar uma informação, o melhor é você apostar em propagar mais a informação verdadeira”, elucida Cristina.
Auxiliando o paciente a identificar fake news
O profissional precisa estar preparado para auxiliar seus pacientes e sanar todas as dúvidas, além de aconselhá-lo sobre a existência de notícias falsas e sobre como reconhecê-las. De acordo com Cristina, é preciso alertar os pacientes a respeito dos perigos das informações que eles encontram na internet e os possíveis malefícios em acreditar nelas. “O especialista precisa dizer e mostrar para o paciente que ele deve sempre confiar no médico e não no Google ou em qualquer rede social, além de auxiliar o paciente a consultar um profissional antes de tomar qualquer medida que possa prejudicar a própria saúde. As pessoas devem desenvolver a capacidade de duvidar, praticando o exercício da autoproteção e da reflexão”, recomenda Cristina.
Passo a passo das fake news
- Leia a matéria inteira e não apenas o título. Muitas notícias utilizam uma chamada sensacionalista, e o conteúdo da notícia pode ser algo diferente;
- Fique atento às datas. Algumas notícias da área da saúde utilizam dados antigos e desatualizados, que não têm mais ligação com a realidade do atual cenário;
- Verifique a fonte utilizada para sustentar a informação. O ideal é que os dados venham sempre de órgãos oficiais;
- Observe sempre o autor da informação. É necessário estar atento ao link e à credibilidade da página;
- Desconfie de sites cheios de banners coloridos, alguns podem até ser vírus;
- Cheque sempre a informação nos sites oficiais das sociedades, associações médicas, órgãos públicos etc.