A empatia tem o poder de mudar as relações humanas de maneira geral. Na Medicina, uma dose dessa prática no atendimento pode potencializar a terapêutica instituída e melhorar a relação entre médico e paciente. No entanto, durante uma pandemia, esse comportamento se torna urgente. A fragilidade diante do desconhecido, o medo, a insegurança e as dúvidas são motivadores para que a humanização no atendimento cresça e se faça presente.
Uma pessoa atendida por profissionais com empatia é informada com delicadeza e tem as suas preocupações ouvidas com atenção pelo profissional de saúde. Para Guilherme Sargentelli, pediatra do Hospital Municipal Lourenço Jorge, no Rio de Janeiro, a empatia é fundamental ao atendimento médico, em qualquer momento da vida.
“Conseguir colocar-se no lugar do paciente é primordial para que o médico possa ser mais assertivo e proporcionar uma maior transferência no momento da consulta. Na pandemia, essa condição amplia-se exponencialmente”, defende o médico.
Em 2003, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Humanização com a finalidade de promover mudanças na cultura do atendimento de saúde no Brasil. Apesar do tempo, alguns princípios do documento são extremamente necessários nos dias de hoje, principalmente durante a pandemia. Entenda como alguns deles podem ser aplicados neste momento:
Colaboração
O antigo modelo de cuidado em que o profissional de saúde assumia uma posição de autoridade e o paciente devia seguir suas orientações deve ceder lugar ao trabalho colaborativo entre esses dois públicos. Nesse formato, médico e sua equipe, paciente e familiares são envolvidos em todas as etapas do atendimento e do tratamento, participando de maneira conjunta da tomada de decisões. Assim, é oferecido conforto sem comprometer a eficácia do tratamento.
Comunicação
Ao buscar um serviço de saúde, o paciente não procura apenas a solução para uma queixa física, mas também algum conforto emocional. Essa é a premissa básica do atendimento médico humanizado – escutar a queixa, sem minimizar sintomas ou negligenciar alguém com dificuldade de expressar o que sente, é o primeiro passo para acolher o indivíduo de forma empática.
Descomplicar as informações, substituindo termos técnicos por linguagem acessível também é fundamental para aproximar as duas partes e desenvolver um vínculo de confiança. Passar informações com clareza é outro ponto-chave, sobretudo para comunicação de diagnósticos difíceis, quando se deve assegurar que o paciente entendeu o que foi dito.
Atenção às equipes
A empatia também deve abranger a rotina interna de médicos, equipes e gestores em suas unidades de saúde. A ideia é que proporcionar boas condições de trabalho e um ambiente saudável para os profissionais de saúde se reflete diretamente na qualidade do cuidado prestado aos pacientes. Durante o estresse de uma pandemia, por exemplo, é interessante disponibilizar atendimento psicológico aos profissionais da saúde, principalmente aqueles que trabalham na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Satisfeitos e recebendo cuidados da própria saúde mental, esses profissionais se tornam mais preparados para prestar um atendimento humanizado aos pacientes.
Apesar de haver uma barreira inicial durante as consultas, ainda há espaço para práticas empáticas, mesmo com o isolamento social. “Promover a empatia implica em uma postura de escuta do médico, de dar voz ao paciente, para que ele sinta que sua fala teve repercussão e que o médico está interessado no seu caso. Isso pode ser auxiliado pelo sorriso dos olhos, por uma fala sem julgamentos do profissional e por uma compreensão de que aquele é um momento único de apoio ao paciente”, conclui Sargentelli.