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Médico e mídias digitais: como essa relação influencia sua carreira?

Por:

Julia Lins

- 20/08/2020

mídias digitais

Há décadas, o papel do médico não se limita apenas ao conhecimento técnico e uma boa atuação em consultórios. Cada vez mais, os pacientes esperam que o médico seja mais ativo fora do consultório e isso envolve as mídias digitais. Desse modo, as mídias no atendimento médico acabam possibilitando a comunicação, o compartilhamento de informações e um alcance maior de potenciais pacientes.

Somando quase 2 milhões de seguidores nas redes sociais, o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto é um verdadeiro exemplo de como unir a Medicina às mídias digitais. Além da carreira médica, Gomes Pinto é consultor do programa Encontro com Fátima Bernardes e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). O neurocirurgião conta um pouco de sua trajetória e dá algumas dicas de como se posicionar nas mídias digitais para auxiliar na prática médica.

Como tudo começou

A relação de Gomes Pinto com as mídias começou há mais de dez anos, quando ele se formou e abriu seu próprio
consultório. “Assim que terminei a residência médica em Neurocirurgia, comecei a organizar o meu consultório
e entender que seria necessário ter um site. Foi, aí, o passo inicial. Organizado por mim, comecei a montar textos,
explicando um pouco mais sobre as doenças, e isso foi crescendo”, lembra.

Porém, foi durante o doutorado, em 2007, que o médico organizou um grupo de hidrodinâmica cerebral e, com isso, recebeu um convite da produção do programa Encontro para uma participação para explicar um pouco sobre memória. “A partir daí, tudo deslanchou, com participação em programas de televisão; até que a Globo me chamou para um contrato de participação no programa. Desde 2013, toda terça-feira, participo do programa da Fátima Bernardes, levando um pouco de conhecimento médico e neurociência para toda a população”, conta.

Mídias na Medicina

As redes sociais estão cada vez mais presentes na vida do médico. Com elas, os profissionais têm a
oportunidade de levar conhecimento médico para a população leiga. O neurocirurgião acredita que, hoje em dia,
a Medicina e as redes sociais se complementam e fazem parte do mesmo processo.

“É lógico que a participação na televisão me coloca em um papel diferenciado como comunicador, que é diferente de um indivíduo que atende simplesmente opera, mas tudo faz parte do mesmo propósito, o de ser um consultor não só de doenças, mas de saúde, para toda a população. Então, tudo faz parte disso: informar a população, formar os médicos residentes e passar informação para os pacientes e seus familiares. Tudo isso faz parte do mesmo contexto”, defende.

De acordo com o especialista, as redes sociais atuam como ferramenta de aproximação entre o médico e o paciente.
“As mídias digitais podem ajudar mostrando que o indivíduo é especialista em determinado assunto, levando informações de qualidade, sempre tendo como objetivos principais a verdade e a determinação de informar a população seguindo os preceitos do nosso juramento de Hipócrates”, pontua Gomes Pinto.

Apesar dos benefícios do mundo digital, é preciso tomar cuidado com o conteúdo. O Código de Ética Médica proíbe o profissional médico de realizar consultas, diagnósticos ou prescrever por qualquer meio de comunicação em massa. “Existe uma diferença entre marketing e informação à população. O marketing médico não deve ser feito totalmente por meio das mídias sociais, até porque existe uma série de normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O melhor marketing para o médico é o bom trabalho e o relato dos pacientes. Eles, sim, podem fazer a diferença, comentando em suas redes sociais. Lembre-se de que, nas mídias digitais, a função do médico é educacional e de esclarecimento”, destaca.

Sobre as redes

Entre as redes disponíveis, destacam-se quatro: Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn. Porém, apesar da variedade, cada uma delas apresenta uma proposta diferente e tudo depende do objetivo do usuário. “Acredito
que o mais importante é o médico identificar com qual rede social ele prefere trabalhar, em qual se sente mais à vontade. Considerando que esteja voltado para relações mais profissionais, o LinkedIn acaba sendo o mais indicado. O Facebook é mais popular, com uma liberdade maior para escrever dicas, orientações, além de permitir a introdução de links. Já o Instagram é mais usado visualmente, com imagens coloridas e rápidas para orientar a população com uma linguagem mais simples e visual”, orienta.

Apesar de não ser um fator determinante, Gomes Pinto acredita que o poder das redes agrega valor ao trabalho do médico. “Quando um indivíduo tem um problema de saúde, ele quer ser bem atendido, quer atenção, quer um profissional que saiba o que está fazendo, que ofereça a ele a possibilidade de melhora. É claro, no entanto, que todos gostam de informação, e as mídias sociais oferecem essa possibilidade de informação organizada, gratuita e de valor”, justifica.

Estar presente ativamente nas redes sociais também é uma vantagem para chamar a atenção do público jovem. Uma
pesquisa realizada no ano passado pela ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia) revela que 70% dos jovens quase não vão ao médico, por isso é tão importante criar maneiras de captar a atenção dessa parcela da população. “O público mais jovem entende que, se o médico está inserido no meio midiático, ele sabe o que está acontecendo, sabe dos problemas, das dificuldades e das curiosidades, ou seja, está sempre atualizado e, com isso, seu interesse aumenta”, acredita Gomes Pinto.

Como se posicionar nas redes sociais?

Para alcançar seu público-alvo e levar informação de maneira eficiente aos seus pacientes, confira, abaixo, algumas dicas para se posicionar da melhor forma possível nas redes sociais:

  • Fotos e vídeos do ambiente são fundamentais: publicar fotos do consultório e da recepção é fundamental para mostrar a estrutura do local. Fotos da equipe e do próprio médico também são bem-vindas. Para o paciente, é muito importante conhecer a aparência do local e de quem vai atendê-lo, pois é uma forma de se identificar com o profissional ou não.
  • Verifique a fonte de suas postagens: antes de publicar qualquer conteúdo nas redes, é fundamental checar a fonte para não divulgar notícias falsas. Além disso, esteja atento aos direitos autorais, pois o compartilhamento de vídeos ou fotos de terceiros pode violar os direitos do autor.
  • Produza conteúdo breve e relevante: para que o paciente entenda o conteúdo com mais facilidade, publique postagens simples e objetivas. Ao utilizar uma linguagem muito técnica, ele pode perder o interesse ou ter dificuldade em entender os termos. Caso queira usar palavras estrangeiras, o melhor é destacar a expressão e logo em seguida traduzi-la.
  • Fique atento à qualidade da imagem: nas redes sociais profissionais, a qualidade da imagem é fundamental. O Instagram, por exemplo, utiliza imagens como destaque, por isso seus conteúdos devem ser de alta qualidade para que a imagem fale por si só. Da mesma forma, os vídeos também precisam ter uma ótima produção, a fi m de passar profissionalismo ao seu potencial paciente e, assim, conquistar sua confiança para realizar um procedimento ou consulta.
  • Faça marketing de conteúdo: não adianta se expor sem ter um bom conteúdo. Ao produzir conteúdo de qualidade, de forma a se posicionar como especialista dentro de um segmento, é grande a chance de conseguir captar mais pacientes interessados naquela especialidade.

Desafio das mídias

Com as tecnologias, a relação médico-paciente tem se tornado cada vez mais complexa. Atualmente, há a presença
do chamado “paciente expert”, termo que se refere ao paciente que busca ativamente informações sobre sua doença. De acordo com Gomes Pinto, a liberdade de acesso é uma faca de dois gumes, que pode auxiliar ou atrapalhar o médico em diversos momentos.

“A educação do paciente faz toda a diferença. Hoje, ele pode fazer uma busca sobre sua enfermidade. Porém, não tendo um editor, pela questão da liberdade de acesso aos buscadores como Google, o paciente, muitas vezes,
tem acesso a informações falsas ou que não se aplicam a ele ou a seus familiares. Então, o paciente está educado,
entendendo que há esse acesso livre à informação, mas que, por vezes, quem dirá qual é a informação correta que se aplica ao caso dele é o profissional da Saúde. Isso é o que faz a diferença”, ressalta o neurocirurgião.

Ética nas mídias sociais

Apesar de ser um ótimo espaço para divulgar seu serviço, as mídias digitais possuem regras de uso, permitindo e proibindo algumas atividades. Confira a lista com algumas permissões e proibições, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM):

Permitido

  • Publicar foto com seus grupos de trabalho e sua equipe médica;
  • Divulgar, de forma comedida, que participou de cursos e de congressos, desde que possa comprovar;
  • Publicar seu endereço de consultório ou clínica, desde que não em matérias científicas e de esclarecimentos da
    coletividade;
  • Publicar que realiza procedimentos, desde que reconhecidos cientificamente e ligados a sua especialidade;
  • Fazer orientações gerais sobre doenças, sem, no entanto, prescrever ou direcionar suas informações a casos
    detectáveis.

Proibido

  • Publicar foto de seu paciente ou em conjunto com o mesmo, fazendo referência a esse vínculo (quebra de sigilo);
  • Divulgar foto de “antes e depois” (promessa de resultado);
  • Publicar foto de paciente na sala cirúrgica, relatando o que será realizado ou o que acabou de acontecer (quebra
    de sigilo, autopromoção e concorrência desleal);
  • Publicar que não existem complicações em seus procedimentos ou que todos os seus pacientes estão satisfeitos
    (promessa de resultado, sensacionalismo, autopromoção e concorrência desleal);
  • Publicar fi guras de modelos ou artistas, vinculando-os ao nome do médico ou à clínica (autopromoção, sensacionalismo e quebra de sigilo).

Fonte: Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) e Conselho Federal de Medicina (CFM)