A pandemia de Covid-19 trouxe um aumento no número de óbitos em várias partes do mundo – inclusive no Brasil. Essa morte carrega um peso a mais, que é a obrigação que os pacientes têm de ficar distantes de familiares e amigos em seus últimos dias, a falta de recursos, o atendimento precário em várias partes do país e enterros sem as devidas despedidas tão importantes ao luto.
Somado a isso, há o despreparo em lidar com a morte. Um artigo publicado na InfoMoney (“O impacto econômico da morte”), da educadora financeira Silvia Hala, trouxe uma reflexão para o fato de que pais e mães evitam conversar com os filhos sobre o assunto. Segundo Silvia, isso acontece porque eles não sabem explicar ou para poupar as crianças das dificuldades do mundo.
A meu ver, aqui entra a capacidade cada vez menor que temos de nos comunicar. A multiplicidade de meios – mídias sociais, mensagens instantâneas, plataformas para conexões ao vivo – é inversamente proporcional à qualidade das mensagens. As interligações excessivas nos distraem das vias essenciais e fazem com que tenhamos diálogos rasos.
A notícia de morte é somente a consequência de todo processo superficial em viver. Perdemos a capacidade de dar uma informação fatal porque temos medo de acessar o mais profundo. Não por acaso, a notícia vem carregada de desespero e angústia. Quando ouvimos sobre empatia, poucos se colocam no lugar do outro, tentam sentir o que a outra pessoa vive.
Para os profissionais de saúde, esse contexto ainda é carregado pelo estresse do dia a dia. A pandemia trouxe a realidade da morte para as diversas equipes de saúde, até para aquelas que lidavam menos com o assunto. Não só com a morte dos outros, mas com a própria – e o risco de levar o vírus para dentro de casa.
Lições do coronavírus
Entre os aprendizados que a pandemia nos trouxe, a humanização ainda maior dos atendimentos de saúde é, para mim, a número um. É o legado da Covid-19. A morte é carregada de muita dor, mas também é momento de gratidão por uma vida inteira vivida, pelo tempo que seja. Tudo, neste planeta azul, tem um começo, um meio e um fim. Precisamos celebrar um nascimento e saber agradecer no momento da partida, reconhecer a finitude e contemplá-la como a benção final. E viver esse “meio” da melhor forma possível, íntegros e dentro do processo.
O título do artigo traz uma pergunta – e você, leitor, que chegou até aqui, imagino, aguarda uma resposta deste especialista em comunicação. Comunicadores somos todos nós: assim que nascemos, aos berros, anunciamos a nossa chegada ao mundo e, quando partimos, nos despedimos da forma que é possível a cada um e em sua própria trajetória. Eu era um expert em ter dificuldades para lidar com a morte e somente dentro das minhas profundezas encontrei as respostas. Atualmente só sei uma coisa: não há fórmula, cada um terá que encontrar a resposta, mas a capacidade todos nós temos. Portanto, basta, ao atravessar as estradas, não deixar passar uma paisagem sequer.