Não é novidade que, para tornar-se um médico, é preciso ter determinação. Desde o início da jornada, que começa no vestibular, esse profissional enfrenta diversos desafios, como provas que exigem muito conhecimento e uma competitividade exacerbada pelas vagas na faculdade. Quando finalmente conclui a graduação, ele se vê diante de outra situação complicada: escolher a residência que vai cursar. Então, para conseguir iniciá-la, também precisa demonstrar um domínio extraordinário sobre os conhecimentos da Medicina, passando por vários testes de alta complexidade.
No momento de inserir-se no mercado de trabalho, parece fácil conquistar seu espaço depois de tantos anos de estudo. Mas o cenário pode ser diferente: muitos médicos não se sentem totalmente preparados para dar esse passo na carreira.
Você já ouviu falar em fellowship?
Tornar-se um superespecialista é uma alternativa para superar essa insegurança. A dúvida é o que se deve fazer para alcançar esse status. Uma das melhores opções, que vem sendo explorada ao longo dos anos, é o fellowship, uma espécie de estágio, que serve para imergir e aprofundar o aprendizado médico dentro da especialidade escolhida.
Com diversas opções, tanto no Brasil quanto no exterior, o fellowship é um investimento que tem como objetivo oferecer ao profissional um contato com o que há de melhor no mercado, desde os hospitais até os grandes nomes dentro da especialidade.
De acordo com o oftalmologista Bruno Fontes, que fez fellowship em Córnea, essa etapa da vida do profissional deve ser pensada nos mínimos detalhes e ser encarada como um período de crescimento, amadurecimento e construção de sua carreira. “Primeiro, é necessário definir a especialidade na qual deseja imergir. No caso da Oftalmologia, a pessoa precisará escolher se deseja fazer em córnea, glaucoma ou retina, por exemplo. Depois, deve procurar os centros de referência daquela especialidade ou se o continente/país que ela quer conhecer possui centros de referência”, ressalva.
Além disso, Bruno também explica que existem dois tipos de fellow e que o profissional precisa estar atento a isso. “Para você fazer o clinical fellow, ou seja, fazer cirurgia lá fora, é necessário ter a validação do diploma, um processo mais complexo. Então, em geral, vamos para o exterior fazer o research fellow. A diferença entre eles, basicamente, é se você vai fazer cirurgia ou se vai ter mais autonomia na prescrição de medicamentos e no atendimento. Existem alguns lugares do Canadá e da Europa que aceitam o clinical fellow sem a validação do diploma. Porém, tudo precisa ser bem esclarecido antes do médico viajar para que não haja nenhum tipo de decepção”, reitera.
Por que devo fazer um fellowship?
- Aprender na prática, com especialistas e equipes retomadas
- Vivenciar casos interessantes que chegam em serviços de referência
- Ampliar oportunidades de acesso ao mercado
- Diferenciar-se no mercado de trabalho
- Enriquecer o currículo
De olho nas finanças!
Na maioria dos casos, esse processo envolve a mudança do profissional, seja de estado ou até mesmo de país. No segundo caso, é ainda mais complexo: muda-se a moeda, os valores dos impostos, taxas e o custo de vida no geral. Por isso, o fellowship deve ser pensado como um benefício em longo prazo e que mudará significativamente a trajetória do médico. “Dedique-se muito a aprender; fique o máximo possível no serviço; tenha o máximo de contato possível com o staff e com a equipe médica. É um momento de imersão, de estudo e de determinação, sem ansiedade e afobação! Quanto mais você publicar lá fora, mais retorno terá em termos de reputação e de investimento”, aconselha.
O especialista reforça: “Todos os gastos devem estar embutidos na hora de escolher o seu destino. É necessário ter planejamento, pois isso varia muito de lugar para lugar. Tem cidades que são mais caras que as outras, têm locais que dão alojamento, têm locais que dão bolsa para o fellow, da própria instituição ou, de repente, de alguma pesquisa específica que a pessoa vá fazer”.
Quando penso em Fellowship, penso em…
Enganam-se, entretanto, aqueles que acreditam que o fellowship é apenas um intercâmbio. Para fazê-lo, são necessários alguns pré-requisitos. Em primeiro lugar, é imprescindível ter feito residência. Ou seja, sem ela, dificilmente o médico entrará nos processos seletivos, que são exigentes. O oftalmologista cita outras questões: “para ser aceito, o profissional precisará ter, no mínimo, uma carta de recomendação. Portanto, é preciso que algum professor ou médico aqui do Brasil, que tenha um bom relacionamento lá fora, escreva essa carta”. Alguns programas pedem experiência profissional de, pelo menos, dois anos, e proficiência em inglês comprovada por provas como o TOEFL (Test of English as a Foreign Language).
Existem, ainda, casos como o Canadá, em que o médico recebe uma licença do College of Physicians & Surgeons (CPS) – equivalente ao Conselho Federal de Medicina no Brasil – para que possa atuar no hospital em que estiver inscrito. Mas, quando o fellowship termina, automaticamente termina essa licença, que só será renovada se o profissional for contratado pelo hospital, e será válida apenas pelo período do contrato.
Por isso, é crucial escolher o local onde deseja estudar. Após esta etapa, é preciso elencar alguns critérios de escolha para os centros que realizam o fellowship. Com o auxílio de Bruno Fontes, listamos alguns itens para lhe auxiliar:
- Confira o número de publicações produzidas no centro e o impacto científico delas;
- Certifique-se de como é o corpo clínico da instituição. Procure uma equipe competente, com boa reputação e que seja atuante e esteja presente no local onde fará o fellow;
- Pesquise sobre os médicos da instituição, se eles possuem publicações na área, se têm atividade científica interessante;
- É imprescindível que o médico que ministrará o fellow tenha grand round ou seções para discussão de casos, orientação na hora do ambulatório, e na cirurgia também, se for necessário.