A terceirização na Saúde é cada vez mais crescente. Entre os objetivos para adotar a terceirização nessa área, estão otimizar resultados, aumentar produtividade e reduzir custos de consultórios, clínicas e hospitais. Mas será que é exatamente isso que acontece na prática?
Para Fábio Couto, diretor geral do CBV – Hospital de Olhos, localizado em Brasília (DF), a terceirização pode ser vista como uma oportunidade para o gestor concentrar seus esforços e energia sobre atividades que podem refletir em maior resultado, melhoria de performance, maior produtividade, otimização de processos, possível economia em mão de obra e, até mesmo, ganho de espaço físico. Porém, o processo pode ter algumas desvantagens, como o sentimento de não pertencimento do colaborador terceirizado, a falta de compromisso do terceirizado na gestão do serviço e o risco trabalhista, caso o terceirizado não assuma suas responsabilidades legais devidamente.
“De acordo com estudiosos, a terceirização é vista como um processo planejado para a transferência de atividades delegadas a terceiros, contribuindo com a empresa, na concentração apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua. Talvez o maior cuidado do médico, como gestor, deva ser entender o momento do seu negócio, identificar os principais ganhos e perdas para tomar a decisão, fazer um estudo de viabilidade da terceirização e encontrar o parceiro certo para contratar. É preciso muito cuidado para não criar um clima de questionamento ou de insatisfação, quando o colaborador da empresa fizer comparações com a questão salarial e/ou de benefícios do terceirizado. Geralmente, as diferenças podem causar situações polêmicas”, afirma Couto.
No CBV, o gestor revela que, por muito tempo, não houve a cultura de terceirização. Porém, com o crescimento do negócio, foi necessário mudar o olhar para algumas alternativas, pensando na própria governança e no alcance das metas. “Iniciamos o nosso processo de outsourcing com serviços bem específicos, depois ampliamos para outros serviços, como locação e gestão de impressoras, de lavanderia e de engenharia clínica. Percebemos ganhos importantes, como redução de custos e mão de obra, sem falar na possibilidade de transferir a responsabilidade da gestão dessas áreas para parceiros especializados, com expertise adequada para cada serviço. O desafio é sempre de adaptação, de controle e de readequação da própria área, sem se esquecer das pessoas. Tive também o cuidado em realocar talentos e aproveitar a mão de obra da melhor forma”, frisa.
Couto ressalta, ainda, que não existe uma regra ou a melhor opção de terceirização no serviço de saúde, pois isso depende muito da visão do gestor, alinhada ao propósito e às circunstâncias do negócio. Segundo ele, é difícil afirmar o que pode ser mais vantajoso, pois um ganho não anula o outro, seja pela eficiência operacional, pela redução de custos ou pela inovação tecnológica.
“É inegável que o simples fato de terceirizar, muitas vezes, não reduza o custo direto. Porém, certos ganhos, como o aumento da performance, o foco no resultado, a profissionalização e o serviço prestado de forma mais especializada, podem ser motivos fortes que justificam a mudança. Ainda temos paradigmas importantes a serem superados por alguns profissionais, mas observo uma tendência de mudança, um olhar mais inovador e uma visão de futuro em médio e longo prazos sobre os prováveis ganhos, ao tempo que o negócio se desenvolve, cresce e se profissionaliza”, enfatiza.
Resultados expressivos
De acordo com o pediatra Antonio Carlos Turner, diretor Médico da Clínica Total Kids, do Rio de Janeiro, a contratação de terceiros para realizar operações ou atividades específicas deve ser compreendida pela transferência de responsabilidade de um serviço, produção ou processo de uma organização para um parceiro externo especializado e focado. Particularmente na área da Saúde, pelo uso intenso e diversificado de mão de obra, a terceirização alcança resultados expressivos.
“A estratégia de terceirização em serviços de saúde apresenta vantagens diretas na reorganização dos serviços, na diminuição de custos, na agilidade das decisões e, indiretamente, reduz os gargalos de reposição do quadro de pessoal e o pronto atendimento às novas demandas. Esse ambiente favorece a melhoria da eficácia das ações de gestão e atenção à saúde, pela simples possibilidade de aumentar o foco e a especialização sobre tudo que é importante à qualidade percebida dos serviços ofertados ao público interno e externo”, pondera Turner.
Na Total Kids, segundo o pediatra, o foco da terceirização está na oferta de serviços altamente especializados, como é o caso da gestão administrativa, da tecnologia da informação e dos serviços de manutenção, e em serviços médicos especializados de Cardiologia. “Dessa forma, a Total Kids tem obtido um crescimento de 30% ao ano desde 2018. O médico gestor precisa ter o cuidado de não perder o foco no acolhimento ao paciente e de seus responsáveis, bem como na humanização e no aprimoramento do atendimento”, observa.
Atenção ao contratar uma empresa terceirizada
Em entrevista à Revista DOC, a advogada trabalhista do Grupo Asse Contabilidade Médica, Alexandra Vaimberg, ressalta os benefícios e malefícios da terceirização na Saúde, assim como os cuidados que o médico gestor deve ter com a contratação dos serviços.
DOC – Quais são os benefícios e os malefícios da terceirização na Saúde?
Alexandra Vaimberg – Benefícios são muitos, como padronização dos processos internos, contratar uma contabilidade especializada voltada para a área da Saúde, maior flexibilidade em relação à implementação das rotinas, sem necessidade de um custo alto de contratação de funcionários de RH e de contabilidade. Assim, haverá o benefício de focar em sua atividade principal sem se preocupar com outras rotinas, aumentar a produtividade e melhorar os resultados financeiros. Um dado muito importante à segurança do negócio é só dividir informações confidenciais a quem se confia. Em relação aos malefícios, enxergo como único não conhecer profundamente as rotinas e expertise do cliente no seu funcionamento por não estar dentro do consultório e da empresa médica. Foi o que levou o Grupo Asse há 50 anos a se especializar somente no assessoramento contábil médico, com a finalidade de trazer diversos benefícios para a saúde contábil de consultórios e clínicas.
DOC – Que cuidados o médico gestor ou empreendedor deve ter ao terceirizar?
AV – A terceirização tem como objetivos a redução de custos, a melhoria nos serviços prestados e o incremento da produtividade e da competitividade. Apesar da grande flexibilização legislativa que vem ocorrendo nos últimos anos, não se pode esquecer de se tomar os cuidados necessários para que a terceirização não venha ocasionar problemas ao médico gestor.
DOC – Que problemas a terceirização pode ocasionar?
AV – Em especial no aspecto trabalhista, a contratação de uma empresa terceirizada traz facilidades ao gestor, já que a empresa contratada ficará responsável por todos os encargos trabalhistas daqueles que realizarão o serviço contratado, além da responsabilidade do médico, via de regra, ser subsidiária em caso de uma ação trabalhista ser movida. Entretanto, para que a terceirização seja um instrumento facilitador e não se torne uma dor de cabeça para o médico, alguns cuidados devem ser tomados. O principal é que a empresa terceirizada deve ser idônea e ter profissionais qualificados para exercerem as funções que serão exigidas. Portanto, buscar empresas com referência no mercado é uma boa medida a ser adotada. A verificação da empresa junto à mídia (em sites como o Reclame aqui) é indicada. Além disso, uma boa pesquisa de mercado deve ser realizada para que se tenha noção do custo médio do serviço que se pretende contratar. Caso encontre valor muito abaixo dos demais, desconfie! Muitas vezes, o barato sai caro. Outro cuidado a ser adotado é contratar empresas que sejam transparentes quanto aos seus procedimentos internos. A empresa contratada deve disponibilizar documentos e informações requeridos pela contratante, em especial quanto aos aspectos trabalhistas, tributários e financeiros. É preciso ter em mente que o descumprimento de aspectos trabalhistas, bem como a incapacidade da empresa terceirizada em adimplir tais obrigações, pode ocasionar prejuízos ao gestor.
DOC – Ao assinar um contrato com um terceirizado, que cuidados se deve ter?
AV – Um contrato de terceirização bem redigido tem caráter preventivo. A assistência por profissional especializado é vital para que sejam reduzidas as chances de problemas futuros. Ao assinar um contrato com terceirizado, é importante verificar as condições da empresa contratada, incluir direitos e obrigações das partes e mecanismos de fiscalização do contrato. Aspectos como prazos, valores, procedimentos, penalidades, direitos e obrigações deverão constar do instrumento. A exigência e a verificação de documentação societária (em caso de empresa), de certidão negativa de débitos e de certidão negativa do INSS fornecida pela Receita Federal também devem ser observadas. É preciso atentar para que a definição do objeto do contrato de prestação esteja bem clara, a fim de garantir que o que foi tratado entre as partes estará assegurado contratualmente. A descrição de obrigações e de direitos das partes, bem como das penalidades em caso de eventual descumprimento, não deverá deixar dúvidas. Outro aspecto que deverá estar contido no contrato é acerca da rescisão contratual, tanto de forma natural (validade do contrato), quanto em caso de rescisão antecipada e suas condições. A celebração de contrato de prestação de serviços com terceirizado é a criação de mecanismo de ação preventiva quando bem redigido, poupando dores de cabeça ao médico gestor.
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