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Aprendizado em constante evolução

Por:

Juliana Temporal

- 22/12/2022

Novas formas de se informar e de se atualizar vêm mudando a educação médica. Além disso, hoje, as novas gerações e os médicos maduros podem compartilhar aprendizado e experiências

O exercício da Medicina é um ofício complexo. É preciso prática contínua e troca de experiências entre os pares, pois não existe um organismo igual ao outro. Uma mesma medida responde de forma diversa em pacientes diferentes. Considerando isso, não há outra opção: a atualização profissional é imperativa para o exercício da Medicina com segurança.

Um médico atualizado impacta de forma mais efetiva e rápida em qualquer tratamento, evitando a exposição do paciente a técnicas ultrapassadas ou com alta relação custo-benefício, o que potencializa um sistema de saúde mais sustentável e com menos desperdício.

Os tempos atuais trouxeram novas formas de atualização médica. Se antes as formas existentes eram os materiais impressos ou congressos presenciais, hoje existem muitas alternativas que vão se encaixar, cada uma, na necessidade e nos hábitos de cada médico, sejam eles jovens ou maduros.

Vídeos, podcasts e outros formatos da era digital ganham cada vez mais importância. No entanto, os materiais impressos também ainda têm sua importância quando são necessárias informações mais detalhadas e referenciadas.

Efeito no atendimento

Para Humberto Corrêa, professor de Psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, o conhecimento humano avança em passos largos em todas as áreas do conhecimento. Se no passado houve grandes sábios, pessoas que sozinhas acumulavam vastos conhecimentos de áreas tão distintas, como a Matemática, a Botânica, a Filosofia e as Artes, hoje isso seria dificilmente viável. Essa realidade é a mesma na Medicina.

“Um artigo de Peter Densen, intitulado Challenges and opportunities facing medical education, traduz em números essa percepção. Em 1950, o tempo estimado para que o conhecimento médico dobrasse era de 50 anos; em 1980, sete anos; e em 2010, três anos e meio. Ou seja, a velocidade do crescimento do conhecimento aumenta de forma exponencial. Essa realidade faz com que a atualização constante seja uma necessidade para o bom atendimento dos pacientes. Algo que considero muito importante é que os médicos sejam formados para ‘aprender a aprender’, com sólidos conhecimentos em metodologia científica e julgamento crítico, inclusive de seu próprio aprendizado”, considera.

Diferença de gerações

Possivelmente, os médicos mais jovens, inseridos desde cedo na cultura digital, tenham mais facilidades e preferências por novos meios, enquanto que as gerações intermediárias e as mais maduras ainda tenham no material impresso uma fonte confiável (sem prejuízo das novas tecnologias) de busca de informação.

Segundo André Maranhão, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o advento das redes sociais foi uma quebra de paradigma importante, somente superada pela criação da internet. Atualmente, qualquer revista médica está sendo consumida de forma on-line, com múltiplos links interativos, com vídeos e esquemas gráficos.

Além disso, existem diferenças nas legislações internacionais, em que alguns países permitem publicação on-line aberta de qualquer técnica cirúrgica e sua divulgação em massa pelas redes sociais e por canais do YouTube.

“Esse cenário no Brasil ainda é discutido e a regulamentação médica não permite isso fora de ambiente ou plataforma científica, embora um bom número de profissionais de outras áreas da Saúde faça de forma indiscriminada. A vantagem disso é o acesso universal de conteúdo científico, o que democratiza o conhecimento em todos os cantos do mundo. A desvantagem mais apontada é que surgem grandes paladinos do conhecimento, sem embasamento científico confirmado e apoiado por seus pares, mas que, pelas suas habilidades de marketing, conseguem audiência dentro e fora do meio médico”, ressalta.

Informação e desinformação

Maranhão enfatiza, ainda, que é possível afirmar com toda certeza que, atualmente, o consumo de informação pelos médicos é primariamente on-line, seguido pelos eventos científicos para um maior aprofundamento, organizados por sociedades de especialidades ou de forma privada, incluindo a indústria farmacêutica ou de materiais e equipamentos.

“Ambos os formatos são consumidos, pois ainda temos muitos médicos (jovens ou não) que preferem o estudo com um artigo científico estruturado, sendo essa a forma mais reconhecida no meio acadêmico e sua impressão é facultativa, de acordo com o gosto de cada um. É claro que os formatos mais interativos, que passam a emoção do ‘ao vivo’ fazem parte do momento atual, ainda mais após o período pandêmico, no qual as pessoas se educaram para o formato digital, sendo as lives em plataformas, como Instagram e YouTube, as grandes vedetes de acesso amplo. Já os podcasts surgem como novo formato para consumo em trânsito, pois não precisam de imagem para assistir, o que facilita a aquisição de informação apenas com um fone de ouvido”, avalia.

De acordo com Corrêa, por sua facilidade e disponibilidade, a internet se tornou, sim, importante fonte de informação, talvez até a principal, ao menos para conhecimentos mais superficiais. No entanto, é preciso lembrar que uma grande quantidade de conhecimentos superficiais não é suficiente para os grandes desafios clínicos que a Medicina impõe. Situações complexas muito raramente admitem soluções simples e superficiais.

“A internet e as redes sociais podem também ser fontes de desinformação. Um médico que não tem conhecimento de base sólida terá mais dificuldade em adquirir novas informações de qualidade. Um médico, sem uma boa formação em metodologia científica, não conseguirá avaliar a qualidade das informações recebidas e fazer uma hierarquia de relevância das mesmas”, acredita o psiquiatra.

Aprendizado entre gerações

Para Maranhão, é importante lembrar que o médico maduro (com mais de 50 anos de idade) provavelmente fez Medicina sem internet ou com muito pouco conteúdo on-line, sem redes sociais, em um momento em que o crescimento profissional exigia alta dedicação em bibliotecas e absoluta devoção ao convívio nos plantões médicos. São médicos que assistiram de perto a todo esse desenvolvimento, fazendo com que todos se adaptassem, principalmente, durante a pandemia de Covid-19.

“A vantagem do jovem é que ele já nasceu no cenário tecnológico. Então, tem bastante habilidade em internet, comunicação e marketing, mas nem sempre poderá oferecer a experiência de quem viveu anos de prática clínica. O que pode ser aprendido é que não dá mais para esperar que o paciente venha a você presencialmente, sem antes ter uma experiência virtual agradável quando pesquisar seu nome na internet”, observa.

Segundo o cirurgião plástico, o convívio entre ambas as gerações é salutar. Ouvir a experiência de cada um é importante para que se possa oferecer condições cada vez melhores para os pacientes. “O que sempre reforçamos é: não dá para desconsiderar a experiência dos jovens em tecnologia e a dos maduros em vida”, enfatiza.

Corrêa complementa, ainda, que todos os médicos, tanto jovens quanto maduros, devem continuar aprendendo, se formando e se especializando. As novas tecnologias – e com elas as novas formas de atualização – vieram para ficar e serão cada vez mais interativas e sofisticadas. “Os médicos maduros podem se inspirar nos mais jovens na busca por se habituarem ao mundo digital, que se torna cada vez mais presente em nosso cotidiano”, defende.

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