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A Telegeriatria e os desafios no atendimento ao paciente idoso

Por:

Beatriz Soares

- 17/05/2023

Telegeriatria

Os avanços tecnológicos aplicados à Medicina tornaram possíveis a criação de outros formatos de consultas, abrindo espaço para o que hoje conhecemos como atendimento remoto.

Diante disso, nasceu a Telegeriatria – o atendimento remoto ao paciente idoso. Pensando nessa nova forma de comunicação e, em paralelo, nas dificuldades que esse paciente pode apresentar. Qual o papel do médico para facilitar a consulta?

Segundo definição presente no livro Guia de Telegeriatria, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a Telemedicina é a utilização de tecnologias digitais para o exercício remoto da Medicina, com o objetivo de promover assistência, saúde e prevenção de doenças. Conforme foi possível observar na passagem pelo período pandêmico em 2020, o qual elucidou a importância da inserção de novas formas de comunicação, a Telemedicina ganhou mais espaço e notoriedade.

Telegeriatria e o paciente idoso

Nesse cenário, a Telegeriatria surge com o intuito de dar suporte e acesso ao paciente idoso por meio de especialistas que fornecem serviços médicos e cuidados especializados para a sua faixa etária. “A Telegeriatria dá acesso para que mais pessoas idosas tenham um atendimento diferenciado com o médico geriatra, o que agrega valor à saúde da pessoa idosa”, explica a geriatra Alessandra Tieppo, uma das autoras do Guia de Telegeriatria.

Entretanto, apesar disso, a idade dos pacientes sugere que a falta de proximidade com a internet e os novos meios de comunicação podem dificultar o geriatra no processo do teleatendimento ao idoso.

“A geração muito idosa, acima dos 80 anos, é de uma época em que havia pouca tecnologia. Então, é uma geração que tem um pouco mais de dificuldade. Também é uma geração com alto grau de analfabetismo. Tudo isso torna difícil o uso das tecnologias”, reforça o geriatra Roni Chaim Mukamal, também autor do Guia de Telegeriatria.

Diante disso, é preciso que o geriatra tenha em mente que dificuldades na compreensão do que é o teleatendimento, bem como o não entendimento das ferramentas sociais, o levam a se deparar com um paciente inseguro e por muitas vezes relutante, o que pode dificultar a condução da consulta remota.

Por isso, trouxemos abaixo algumas situações que podem se mostrar presentes e como o geriatra pode contornar a situação:

Dificuldade na compressão do paciente

Por ruídos de comunicação ou falta de clareza no que se deseja transmitir, o paciente pode ter dificuldades na compressão do que foi dito pelo profissional, o que poderá contribuir para a ineficiência do tratamento ou colocar sua vida em risco.

Diante disso, para certificar-se que o paciente tenha entendido corretamente as instruções passadas a ele, é interessante que o profissional da Saúde mantenha contato na pós-consulta, ligando e enviando um documento com os principais pontos a se destacar do atendimento.

Dificuldade para mexer na ferramenta do atendimento

O paciente não saber utilizar a ferramenta utilizada para o seu atendimento pode atrasar o início do atendimento, atrapalhando toda a agenda de horário do profissional, além de causar mal-estar antes da consulta ser iniciada.

Uma dica importante presente no Guia de Telegeriatria diz que o profissional (ou seu assistente de equipe) pode gravar um vídeo antes da consulta, com instruções de como mexer na ferramenta, bem como dicas de como se preparar para o atendimento.

Dificuldade para lembrar do que foi dito anteriormente

Nesse caso, o idoso pode encontrar dificuldade para lembrar do que foi dito nas consultas anteriores, como suas queixas e os procedimentos que foram aplicados.

Nesse contexto, o geriatra pode separar os primeiros minutos do atendimento para realizar, junto com o paciente, um breve resumo da consulta anterior.

Entender que, mesmo à distância, se trata de uma consulta

Por se tratar de uma consulta em formato digital, o idoso pode apresentar dificuldade em compreender que é uma consulta válida e isso pode atrapalhar a condução do atendimento pelo seu médico.

Um bom caminho para reforçar ao paciente a importância do atendimento remoto é o geriatra manter a cordialidade e, tanto no início quanto no decorrer da consulta, transmitir confiança ao paciente e detalhar o passo a passo do que será realizado.

Pré-consulta

  • Disponibilizar um tempo maior para a consulta;
  • Certificar-se que o idoso está ciente do atendimento;
  • Entrar em contato, reforçando a data;
  • Revisar o que foi dito nas consultas anteriores para repassar com o paciente antes da consulta.

Pós-consulta

  • Separar os minutos finais para revisar o que foi dito na consulta;
  • Enviar as instruções escritas para facilitar o paciente a lembrar o que foi passado;
  • Solicitar à secretária que entre em contato para verificar se o paciente ficou com alguma dúvida acerca do atendimento.

Instruções

O paciente idoso, muitas vezes, possui um cuidador e/ou acompanhante, que também precisa de instruções, tanto para passar segurança ao idoso antes e depois da consulta, quanto para entender o processo e, assim, se necessário, auxiliar o paciente. Por isso, é interessante que o profissional de Saúde conheça algumas instruções que podem instruir tanto o idoso quanto o seu cuidador.

“É importante deixar isso muito bem definido antes de a consulta acontecer. Quando ela acontecer, é importante manter a cordialidade com o idoso e orientar se a posição da câmera está favorável ou se está sendo visível para o paciente. Dessa forma, o geriatra consegue conduzir para que a consulta aconteça de forma mais efetiva possível” afirma Roni Mukamal.

Importantes instruções do médico para o paciente na pré-consulta

Saber orientar seu paciente antes de toda consulta pode ser um valioso instrumento para garantir um atendimento fluido e completo. Por isso, considere os seguintes pontos ao preparar seu paciente:

  • Solicite que ele escolha um lugar adequado e silencioso;
  • Sugira que deixe os exames ao alcance das mãos;
  • Lembre-o de anotar as dúvidas que gostaria de verificar com você;
  • Indique que ele se certifique de que a conexão da internet esteja boa;
  • Oriente-o a desligar aparelhos que possam atrapalhar o andamento do atendimento;
  • Sugira que ele se arrume como se fosse a uma consulta presencial, para reforçar a ideia de que a consulta é válida e eficiente;
  • Explique que ele pode fazer uso da ferramenta que for mais confortável para ele.

Outro ponto importante a se reforçar antes e durante as consultas é que o atendimento remoto é um ponto auxiliar de uma gama de atendimentos e procedimentos.

A primeira coisa que o geriatra tem que fazer quando se dedica a essa modalidade de atenção à pessoa idosa, é entender que a Telegeriatria faz parte de uma rede de cuidados. Então, ela não substitui o atendimento presencial”, explica Alessandra Tieppo.

Benefícios

Apesar das dificuldades presentes nesse tipo de atendimento, são inúmeros os benefícios advindos da Telemedicina, tanto para o profissional quanto para o paciente. Otimização do tempo, auxílio rápido, acompanhamento de paciente crônico, menor desgaste com locomoção, entre outros, são exemplos positivos da contribuição dessa modalidade de atendimento.

“O paciente não está longe quando você dá a ele um acesso por meio de uma tecnologia para que ele possa estar próximo do seu médico. A Telemedicina, muito ao contrário do que todos pensam, não distancia o médico do paciente: ela aproxima. Ela faz com que o paciente tenha acesso profissional, o que muitas vezes ele não consegue em uma rede normal ou habitual”, conclui Alessandra.