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O que fazer se um paciente cair ou se acidentar no consultório?

Por:

Beatriz Soares

- 31/08/2023

Acidentes podem ocorrer em todos os lugares, mas, quando ocorrem dentro de uma clínica, podem gerar ações que prejudicam a imagem da instituição. Pensando nisso, o Universo DOC ouviu o advogado Lymark Kamaroff, especialista em Gerenciamento de Riscos, para nos auxiliar na seguinte questão: o que fazer se um paciente cair ou se acidentar no consultório?

Tipos de acidentes

No dicionário, acidente significa “qualquer acontecimento, desagradável ou infeliz, que envolva dano, perda ou morte”. Já na prática, independentemente de o acidente ocorrer por falhas humanas ou não, é necessário que se tenha atenção aos detalhes. Dentro de uma clínica, é importante entender todos os pontos cruciais a fim de evitá-los. A seguir, trouxemos alguns exemplos de acidentes que podem ocorrer:

 • Quedas: podem ocorrer por diversos fatores; entre eles, pela presença de objetos no chão, devido a itens de decoração que não estão em lugares estratégicos ou por piso molhado.
 
Machucados: podem ser ocasionados pelo contato com objetos pontiagudos e que não possuem proteção, como quinas de mesa, cadeiras e balcões. Também podem ocorrer pelo contato com móveis enferrujados, como cadeiras de espera.
 
Incidentes da equipe: colaboradores podem derrubar nos pacientes líquidos quentes ou frios por falta de treinamento ou simplesmente devido a objetos fora do lugar, como itens de decoração, que os fazem tropeçar e se acidentar.
 
Quedas de maca: podem acontecer quando não há proteção ou cuidado ao manejar o paciente para colocá-lo confortavelmente na maca.

Como evitá-los?

1. Projeto arquitetônico


 
Para Kamaroff, uma das primeiras ações que devem ser feitas antes de abrir uma clínica é realizar o projeto arquitetônico dela, idealizando os possíveis acidentes que podem ocorrer e montando, de acordo com as características da clínica, como fluxo de paciente e tamanho, um projeto a fim de evitá-los.
“A primeira questão para a gente evitar acidentes seria estar preparado para isso no projeto arquitetônico da clínica, no qual prevê essa situação, principalmente levando em consideração o fluxo de trânsito. Então esse projeto identifica por onde o paciente percorre, se tem algum risco nesse caminho e se existe alguma coisa com a qual o paciente possa se machucar, dando atenção aos espaços de locomoção em cima de área de trânsito da clínica, para que fique sempre livre e com bastante espaço para que ele possa ter movimento dentro da clínica sem se acidentar”, orienta.

2. Reposição de itens de decoração

A decoração da clínica também pode colaborar para possíveis acidentes. Por isso, itens como tapetes, vasos de plantas, espelhos e lixeiras podem ser evitados ou inseridos em locais onde não há tâansito de pacientes ou que não atrapalhem o atendimento.

3. Treinamento dos colaboradores

Ter uma equipe treinada pode ajudar a evitar os acidentes que ocorrem do lado de fora do atendimento. O treinamento dos colaboradores que ficam responsáveis pela recepção de pacientes, bem como pelo lado de fora da sala de consulta enquanto o médico está trabalhando, é essencial.

“O treinamento de pessoas é muito importante, mesmo daquela que serve uma bandeja. As pessoas nem sempre têm habilidade. Então, podem tropeçar, perder o equilíbrio e derrubar o líquido ou objeto no paciente. Então, o treinamento é fundamental para evitá-los”, pontua o especialista.

4. Protocolos de segurança

Manter a clínica com suas devidas sinalizações é importante para, além de indicar o perigo ao paciente, se respaldar de possíveis desentendimentos ou ações judiciais que podem ser movidas por ele. Então, a manutenção dentro da clínica é sempre necessária. Sinalizações de piso molhado ou instruções de possíveis perigos como tomadas e, claro, a proteção de quinas pontiagudas e de objetos que podem machucá-lo são indispensáveis.

Como conduzir a situação

Imaginemos que mesmo com todos os cuidados, ainda assim o acidente ocorreu. Como conduzir a situação? Em ocasiões como essa, o primeiro passo é manter e transmitir calma para que, tanto os pacientes presentes no momento do incidente quanto o próprio acidentado se sintam seguros.

Para Kamaroff, o passo primordial é nunca culpar o paciente e entender que acidentes acontecem. “A palavra de ordem é acolhimento. Então, se o paciente caiu, é preciso examiná-lo, verificar se ele se machucou e se há algo que possa ser feito. Ter um kit de ajuda para o paciente é fundamental”.

Além de calma e compreensão, alguns outros pontos podem fazer a diferença nesse momento:
 
• Controlar os ânimos;
• Atender o paciente em um local reservado;
• Certificar-se de que o paciente está bem;
•Demonstrar à vítima, a seus acompanhantes e aos demais pacientes presentes que o mais importante é o bem-estar do acidentado.

Outro ponto importante é novamente o treinamento da equipe, dessa vez com outra perspectiva, considerando que o acidente já ocorreu. Realizar o treinamento e inserir um protocolo de como reagir e prosseguir é fundamental para manter uma equipe treinada e independente, podendo ser um alicerce para o médico.
 “A gente nunca pode pensar que essas coisas não acontecerão. Temos que imaginar como reagiremos caso aconteça. A reação é sempre algo inesperado, por isso é importante montar um treinamento para que todos os colaboradores saibam como conduzir a situação, desde a recepcionista até a secretária e a equipe técnica” acredita Kamaroff.

Ações movidas
 
Após se acidentarem, as pessoas podem ter diversas reações, como não se importar com o ocorrido ou decidir levar isso para um processo, abrindo uma ação contra a clínica. De acordo com Kamaroff, nesse caso, as ações seriam sempre cíveis, com pedido de danos morais e materiais. “Talvez lucros cessantes, se ela deixar de ir ao trabalho ou ficar incapacitada em função da lesão sofrida pelo acidente”, destaca.
Para esses casos, o especialista ressalta a importância de ter bem definidos e inseridos na clínica os protocolos de segurança. “Todo alerta de perigo para aquelas áreas que são mais sensíveis a acidentes funciona muito bem, não como um protocolo preventivo, mas também como uma informação importante que o próprio paciente pode ter negligenciado e, por isso, ocasionado a queda”, afirma.
“O juiz quer saber o seguinte: a pessoa poderia ter evitado aquilo ou ela não tinha como evitar porque não foi passado para ela alguma informação importante? Se ele entender que a informação passada era adequada para ela se precaver, ele entenderá que aquele acidente foi causado por descuido do próprio paciente e não por alguma falha de informação por parte do ambiente, do médico ou da equipe”, avalia o profissional.
 
Seguros de acidentes
 
Para essas situações, em que o paciente se acidenta dentro da clínica, há seguros específicos que podem auxiliar e responder em nome da clínica, mas Kamaroff alerta que o profissional precisa mapear todas as possíveis situações e questionar ao seguro se ele realiza a cobertura. “ É muito importante que o profissional já tenha isso tudo mapeado para, quando for perguntar ao corretor de seguros, conseguir pontuar as situações que a clínica precisará de cobertura e garantir que a apólice cubra essencialmente isso”, orienta.