Sustentabilidade é uma palavra que muitas pessoas ouvem, mas ainda não adotaram plenamente em seu dia a dia. Para o médico em seu consultório ou clínica, o ambiente sustentável é, sim, possível e viável
Desde o início da década de 1970, a ideia de haver um desenvolvimento sustentável vem sendo discutida em todo o mundo. Em 1992, com a Agenda 21 sendo assinada pelos chefes de Estado de 100 países durante a Rio-92, o termo “sustentabilidade” começou a fazer parte do vocábulo cotidiano de várias pessoas. No entanto, mesmo após 30 anos dessa conferência internacional, a sustentabilidade ainda caminha a passos lentos, em especial em algumas instituições – inclusive, na área da Saúde.
O chamado “ambiente verde” é possível, independentemente do tamanho da instituição de saúde (clínica, consultório ou hospital). Porém, muitos médicos ou gestores ainda não sabem como fazer esse ambiente sustentável se tornar uma realidade. Segundo Ricardo Voltolini, CEO e fundador da consultoria Ideia Sustentável, que atua há mais de 25 anos no mercado, e idealizador da plataforma Liderança com Valores, existem comportamentos sustentáveis que podem ser adotados na área da Saúde, mas, para isso, é preciso superar sete desafios. A seguir, conheça que desafios são esses:
Desafio 1 – A união faz a força
O primeiro desafio, que Voltolini chama até mesmo de “desafio zero”, é a criação de uma consciência coletiva sobre a importância da sustentabilidade na Saúde. É o que se chama de valor compartilhado. “Trata-se de um consenso de que a Saúde seria mais eficiente se governos, profissionais, sociedade civil, setor farmacêutico e outros stakeholders envolvidos no sistema atuassem conjuntamente, com cada um deles preocupados em integrar o todo e não apenas olhando a sua própria parte”, explica o especialista.
Desafio 2 – Cada um por si
O próximo desafio é a conscientização de que o indivíduo deve assumir a responsabilidade com a própria saúde, adotando um estilo de vida mais saudável e reconhecendo o valor das questões ambientais e sociais. Dessa forma, a pessoa se torna protagonista da própria vida, se preocupando em prevenir os fatores de risco e adotando comportamentos preventivos. Para Voltolini, esse olhar para si mesmo pode ser adotado pelo paciente a partir de um incentivo do médico.
“Toda mudança para a sustentabilidade começa dentro de cada indivíduo. Na Saúde, a visão integral do paciente ganha cada vez mais força. Substituir uma abordagem fragmentada do indivíduo por um olhar sistêmico, sem dúvida, pode ajudar o médico a promover o bem-estar do paciente. A prevenção diminui a dependência do sistema de saúde, o que implica em uma redução de impactos importantes no uso de energia e de recursos e com menos geração de resíduos”, analisa.
Desafio 3 – A natureza ao redor
O desafio seguinte é pensar no meio ambiente como inspiração para o paciente se sentir bem na instituição de saúde. “Hoje, pessoas mais saudáveis são as que se conectam mais com o meio ambiente e usufruem de benefícios físicos e mentais em parques, caminhadas ou lugares verdes. É interessante observar que clínicas e hospitais têm usado cada vez mais motivos da natureza para impactar, de algum modo, a melhoria da qualidade tanto no atendimento quanto na vida de pacientes e familiares”, explica Voltolini.
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Desafio 4 – Jogo de xadrez
Olhando para a sociedade como um todo, a saúde pode ser adotada como uma estratégia interessante para garantir a sustentabilidade de diversas empresas, em diferentes setores do mercado. Nesse ponto, o desafio é aumentar a consciência dentro das organizações que, ao valorizar o bem-estar de seus colaboradores, haverá um retorno de produtividade e até mesmo financeiro.
“Muitas organizações, hoje, já veem seus funcionários de outra forma. Há uma pressão por melhorar a produtividade, por buscar e reter novos talentos e por lidar com o envelhecimento da força de trabalho. Com isso, muitos gestores adotaram práticas para um olhar integral da saúde. É uma excelente estratégia. Você não só aumenta a produtividade, como também melhora a qualidade das relações e diminui o absenteísmo e os acidentes de trabalho”, ressalta o especialista no tema.
Pesquisas mostram que cada US$1 investido em programas de bem-estar para colaboradores resulta em pelo menos US$3 de retorno em produtividade |
Desafio 5 – Certificação sustentável
O quinto desafio da sustentabilidade na Saúde é reduzir o impacto que as próprias organizações causam no meio ambiente, com o uso consciente de recursos (como energia e água), com o descarte adequado de resíduos e com a utilização de materiais que geram menos poluentes. Nesse contexto, Voltolini cita o caso de algumas instituições, como grandes hospitais, que buscam cada vez mais a certificação de que são ambientalmente conscientes. “No Brasil, já são cerca de 100 organizações com uma agenda de dez objetivos propostos para se autoavaliar como hospitais verdes e saudáveis”, conta.
Não esqueça da sua equipe ⚠ |
Ao adotar práticas sustentáveis em uma instituição de saúde, o médico ou gestor não pode esquecer que é preciso treinar e incentivar todos os colaboradores para também seguirem a sustentabilidade como meta. Ricardo Voltolini destaca que a equipe da linha de frente – ou seja, aqueles que lidam diretamente com o paciente assim que ele chega – é fundamental. “São essas pessoas que podem transmitir aos pacientes a visão sustentável da organização. Elas podem fazer o meio-de-campo com quem entra na instituição, atuando como um porta-voz essencial de quem está dentro da organização. A linha de frente, assim, se torna uma embaixadora na sustentabilidade”, orienta. |
Desafio 6 – Tecnologia faz diferença
Na lista de desafios para a sustentabilidade na Saúde, entra também a questão do acesso a tecnologias e ferramentas mais modernas, já que, com esses recursos, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de doenças ficam mais fáceis. No período da pandemia de Covid-19, esses recursos tecnológicos ganharam força e mostraram como podem ser úteis nesse contexto.
“A Telemedicina, por exemplo, tem um impacto importante no meio ambiente. Na medida em que você diminui as consultas físicas, você reduz a necessidade de deslocamento. Com isso, há menos emissão de gases do efeito estufa, menos gasto de energia nos ambientes de atendimento e menos resíduos gerados nos processos. Tudo isso leva a um sistema de saúde mais saudável, ambientalmente falando”, pontua Voltolini.
A sustentabilidade na Saúde começa no consultório, com a construção de um relacionamento médico-paciente baseado no incentivo às práticas saudáveis, na busca pela qualidade de vida, na prevenção de doenças e na consciência ambiental. O impacto pode ser observado na reputação do médico, que passa a ser visto como um profissional consciente do seu papel social
Desafio 7 – Qualidade de vida como meta
O último desafio da sustentabilidade na Saúde tem a ver com a oferta de produtos e serviços focados na melhoria da qualidade de vida, como alimentos orgânicos e fitness, construção de edifícios “verdes” e incentivo a práticas saudáveis, como o deslocamento de bicicleta nas grandes cidades. “Isso tudo impacta na qualidade de vida da população, o que faz com que menos pessoas precisem usar os serviços de emergência e urgência em clínicas e hospitais, por exemplo. Quando se promove a qualidade de vida, há uma redução de custos e de desperdícios no sistema de saúde como um todo”, enfatiza o especialista
Passo a passo da sustentabilidade na Saúde · Criar uma consciência coletiva da importância do tema · Incentivar que cada indivíduo seja responsável pela própria saúde · Usar o meio ambiente como inspiração para o bem-estar · Adotar a sustentabilidade com estratégia de mercado · Reduzir impacto ambiental causado pelas organizações · Permitir mais acesso a tecnologias e ferramentas modernas · Ofertar produtos e serviços focados em melhorar a qualidade de vida |
“Na Saúde, a visão integral do paciente ganha cada vez mais força. Substituir uma abordagem fragmentada do indivíduo por um olhar sistêmico pode ajudar o médico a promover o bem-estar do paciente” Ricardo Voltolini