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Entre conquistas e desafios, o que os médicos desejam?

Por:

Bruno Aires

- 18/10/2023

Em 18 de outubro, mais que celebrar as conquistas, surge a oportunidade para os médicos fazerem um balanço da própria carreira. Conversamos com oito profissionais, de diferentes especialidades, que contaram quais são os desafios que a Medicina brasileira ainda tem a enfrentar

O Dia do Médico, celebrado em 18 de outubro, traz para os profissionais da Saúde a chance de fazer um importante momento de reflexão: quais foram as conquistas alcançadas nos últimos anos? Que desafios ainda precisam ser superados? Como a nova geração de médicos está chegando ao mercado? Os sonhos e as perspectivas permanecem os mesmos ou mudaram? Estas e outras perguntas podem ser respondidas de várias formas, já que a Medicina é hoje uma carreira com muitos caminhos e oportunidades.

Para falarmos sobre os desejos dos médicos, incluindo suas conquistas e desafios, a Revista DOC reuniu nessa matéria especial oito profissionais reconhecidos em suas especialidades: o ortopedista Osvandré Lech; a oftalmologista Wilma Lelis; o cirurgião plástico Dênis Calazans; a pediatra Luciana Rodrigues; a ginecologista Maria Celeste Osorio Wender; o oncologista Gustavo Fernandes; a pneumologista Margareth Dalcolmo; e o psiquiatra Humberto Corrêa. Cada um com sua visão profissional e experiência de vida, eles apontam a seguir quais os desafios ainda precisam ser vencidos e quais são os motivos para se celebrar mais um Dia do Médico

Ortopedia

Mudanças e Inovações

Ao longo da sua trajetória na Ortopedia, Osvandré Lech presenciou várias mudanças na prática profissional. Presidente atual do International Board of Shoulder and Elbow Surgery (IBSES) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), o médico gaúcho acredita que a tecnologia, ao ser incorporada cada vez mais ao dia a dia, vem mudando o exercício da profissão.

“Com a tecnologia à disposição, o ensino e a prática da Medicina sofreram mudanças e inovações. Sem dúvida, a Medicina em 2023 está mais padronizada, burocratizada, técnica e complexa do que há 30 anos. Nem por isso se perdeu o encanto nem a alegria de ver a cura do paciente e a enorme satisfação pelo trabalho realizado. Tudo isso dependerá sempre do olhar de quem interpreta a Medicina”, enfatiza.

Conquistas na Ortopedia

Para Lech, as conquistas na Ortopedia resultaram hoje em uma precisão tecnológica impressionante, com procedimentos sendo realizados de maneira mais assertiva e com menor tempo de recuperação. Entre os destaques da especialidade, o médico lista:
 
✔ Cirurgias minimamente invasivas por meio de artroscopia;
✔   Reparação de nervos e vasos por microcirurgia;
✔ Cirurgias robóticas.

Um grande desafio da Medicina – e não apenas da Ortopedia – é a defesa profissional, principalmente para que seja garantido que apenas médicos realizem procedimentos específicos. Como já atuou como presidente da Sbot e de outras entidades nacionais e internacionais, Lech acredita que esse seja um tema que precisa permanecer em constante debate.

“Observamos com tristeza e decepção um número cada vez maior de sequelas – muitas delas irreversíveis – pelo mau uso de técnicas que são sabidamente de domínio médico. A ausência de leis claras associada à desinformação da população e a facilidade de comunicação via plataformas sociais criou um cenário que não é visto em nenhum outro país. O Brasil sofre – e gasta! – muito com os procedimentos médicos feitos por profissionais não autorizados para tal”, lamenta.

Além disso, o ortopedista acredita que há uma nova visão do médico sobre a própria carreira. Na sua especialidade, é cada vez mais raro o profissional que atua de maneira individual em um consultório: as clínicas e ambientes compartilhados entre ortopedistas são muito comuns. Isso é uma evolução natural da profissão a fim de reduzir custos.

No final das contas, entre problemas e conquistas, Lech faz um balanço positivo da profissão: “No Brasil, damos voltas em círculo com problemas que já não deveriam existir, como abertura desnecessária de faculdades, desrespeito ao Ato Médico, pagamento irrisório pelos honorários do SUS, entre outros. Porém, vejo a Medicina como uma bela e acolhedora profissão, em que o jovem idealista encontrará o que espera para uma plena realização profissional”, afirma.

Oftamologia

Variedade de caminhos

Muita coisa mudou nas últimas três décadas, dentro e fora da Medicina. Segundo a oftalmologista Wilma Lelis, presidente eleita do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a evolução tecnológica é um dos maiores avanços dentro da especialidade. No entanto, o que mais vem se observando nos últimos anos é o crescimento de oportunidades de trabalho em vários caminhos dentro da profissão.

“Desde que comecei na Oftalmologia, sempre esteve na cabeça de todos os médicos o desejo de ajudar o paciente, ou seja, de construir uma boa relação médico-paciente. Mas, nos últimos anos, vejo os jovens com a cabeça bem mais aberta, pensando a Medicina de forma mais ampla. Eles escolhem a Oftalmologia, por exemplo, para serem pesquisadores ou para trabalhos laboratoriais. É um leque de oportunidades para quem quer ir além da relação com o paciente”, explica. Dentro da Oftalmologia, a presidente eleita do CBO vê a tecnologia como um dos recursos que mais traz conquistas na especialidade; porém, ainda há desafios que precisam ser vencidos. “A tecnologia trouxe melhorias principalmente no diagnóstico, que hoje tem uma capacidade de acerto maior. Conseguimos examinar o olho todo por tomografia, o que implica também no tratamento de inúmeras doenças”, ressalta.

Desafios complexos

Para Wilma Lelis, alguns dos desafios da Oftalmologia hoje incluem:

·      Resolução de casos mais complexos e raros, na busca de novos e melhores tratamentos;
·       Conscientização para que todos os oftalmologistas saibam seus direitos e não permitam a invasão do seu trabalho por não médicos ou por médicos não especializados em doenças oftalmológicas;
·       Pensar em uma formação que prepare o oftalmologista para os desafios dos próximos anos de profissão.
 

Com caminhos cada vez mais amplos, a oftalmologista orienta que os profissionais reflitam como se colocar e se manter no mercado. “É preciso que os médicos pensem em como gerir suas carreiras. Isso passa por fazer escolhas. Onde vou atender? Em que cidade? Atenderei pelo SUS ou pela saúde suplementar? Há desafios em todos os caminhos”, pontua.

Cirurgia Plástica

Momento para reflexão

Dezoito de outubro: para o cirurgião plástico Dênis Calazans, a data é um excelente convite para a reflexão. Segundo ele, ao mesmo tempo em que a Medicina tem muito a comemorar, também há bastante preocupação com o futuro. “Sabe-se que a Medicina avançou mais nos últimos 50 anos do que em toda a história da humanidade. Isso é motivo de muito orgulho para os médicos. Só que, olhando para os próximos anos, é preciso se preocupar com a formação dos novos profissionais”, afirma.

Calazans, que já foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), acredita que ainda hoje existe um encantamento com a área médica, garantindo aos profissionais uma suposta segurança e conforto material. “Mas essa realidade pode mudar, com o número de faculdades médicas que se abriu e com o número excessivo de profissionais se formando todo ano no Brasil. A preocupação é com a qualidade. Não quero ser negativista, até porque acredito que sempre haverá espaço para os bons profissionais”, ressalta.

Questões preocupantes

Na Cirurgia Plástica, Calazans aponta duas questões atuais preocupantes:
 
(1) Há uma má distribuição geográfica de especialistas pelo país, se concentrando principalmente no eixo entre Rio de Janeiro e São Paulo;
 
(2) É preciso competir com profissionais não médicos ou profissionais sem a devida qualificação, em especial na área de Estética – tudo isso torna a população vulnerável.

Outro ponto importante no cenário atual da Medicina é o uso cada vez maior de tecnologias, o que pode impactar a relação com o paciente. No entanto, o cirurgião plástico, citando o uso de inteligência artificial na Saúde, destaca que alguns médicos veem esse ponto como algo preocupante. “A verdade é que a grande maioria das especialidades pode se beneficiar da inteligência artificial, porque o computador nunca será capaz de oferecer afeto, apoio e acolhimento ao paciente”, defende.

Além da preocupação com o futuro, Calazans aproveita para deixar três conselhos para os médicos mais jovens (e até para quem já tem anos de profissão): “Primeiro: descubra pelo que bate o seu coração – e normalmente isso tem que ser pela Medicina e pelos pacientes. Segundo: independentemente do que você escolher, faça bem feito. Afinal, ser o melhor que você puder pode levá-lo mais longe. Por fim: seja bom e correto, mesmo que ninguém esteja olhando”, orienta.

Pediatria

Busca por qualidade

Uma especialidade preocupada com toda a família: assim Luciana Rodrigues define a Pediatria hoje. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e atualmente primeira-vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), ela acredita que uma das maiores conquistas da especialidade nos últimos anos foi a ampliação da residência médica (de dois para três anos). No entanto, ainda existem lutas pela frente.

“O pediatra é um médico especial e diferente. Ele não só trata das doenças das crianças e dos adolescentes, mas também educa e ensina bons hábitos e faz prevenção de várias condições junto a seus pacientes pediátricos e suas famílias. A residência medica em Pediatria se ampliou e a SBP vem lutando nos últimos anos para que todas as crianças e adolescentes tenham o seu pediatra, sugerindo a inclusão da Pediatria na Atenção Básica”, destaca.

Outro desafio que Luciana ressalta, tanto na Pediatria quanto na Medicina como um todo, é a busca pela constante qualificação dos médicos. “Isso requer a supervisão da formação adequada dos novos médicos, mas também a constante supervisão do exercício profissional em adequadas condições de trabalho. Além disso, é preciso que haja a implantação da carreira do médico por gestores públicos”, aponta.

Tempos atuais

Muito se fala hoje que o médico precisa pensar na própria carreira e que as mídias digitais podem ajudá-lo a alavancar seu crescimento profissional. Luciana Rodrigues faz um alerta: “O investimento nas mídias digitais é uma realidade. No entanto, a formação técnica aprofundada, associada ao humanismo, jamais pode ser dispensada. Para quem é bom, sempre haverá lugar, mas é preciso ter uma formação sólida e educação continuada sempre”.

Segundo a pediatra, ao pensar no Dia do Médico, é preciso refletir sobre o que os profissionais buscam atualmente. “O médico deseja ter condições adequadas de trabalho e um bom salário, para exercer a Medicina com tranquilidade. Também deseja respeito e que os gestores públicos e privados possam ouvi-los. As tecnologias ajudam, mas necessitam de avalição crítica continuada. O mais importante é o pensamento crítico e a individualização de cada paciente”, resume.

Para melhorar o cenário da profissão, a atual vice-presidente da AMB acredita que seriam necessárias algumas ações complexas, como o fechamento de escolas médicas que não têm condição de existir. “Também teríamos que impedir a abertura de novas escolas. A graduação e a residência médica devem ser de qualidade para todos. Além disso, os gestores públicos e privados devem entender a necessidade de dar boas condições de trabalho aos médicos. O acesso dos pacientes precisa ser mais ágil e eficiente aos serviços de saúde. Todas as crianças e adolescentes precisam de um pediatra que os acompanhe”, conclui.

Oncologia

Possibilidades

Prestes a se tornar a primeira mulher a presidir uma das maiores associações médicas do país, a ginecologista e obstetra Maria Celeste Osorio Wender vê o futuro da Medicina com preocupação. “Temos, infelizmente, hoje no Brasil um número muito grande de faculdades de Medicina e sabemos que muitas delas não garantem um bom ensino médico. Não temos a necessidade de um maior número de médicos para a população, mas, sim, de uma distribuição geográfica melhor desses profissionais”, afirma.

Atualmente diretora de Valorização e Defesa Profissional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a médica é, em 64 anos desde que a federação foi fundada, a primeira mulher a ser eleita presidente (para o período de 2024 a 2027) da instituição.

Para ela, o ginecologista precisa ser cada vez mais valorizado para que consiga exercer suas atividades com independência, bastante embasamento científico e proteção do ponto de vista jurídico. “Já se discute há algum tempo um plano de carreira para os médicos, nos moldes do que existe no Judiciário, mas isso nunca foi implementado. Essa seria uma maneira inteligente de equacionar uma divisão regional dos médicos no nosso país”, sugere.

Ao falar da profissão, Maria Celeste enfatiza que, na Ginecologia e Obstetrícia, ainda é muito comum que o especialista abra o próprio consultório. “Acho que essa segue sendo uma das opções mais almejadas pelos ginecologistas, mesmo com outras opções, como plantões em hospitais ou se inserir na equipe de algum centro clínico. Só que a formação médica peca em não fornecer orientações suficientes para que o médico possa gerenciar seu consultório. Quando me formei, não havia nenhuma orientação para isso. Hoje, isso está um pouco melhor”, avalia.

Sem esquecer o conceito

No Dia do Médico, Maria Celeste Osorio Wender destaca que é importante relembrar questões relacionadas ao conceito de saúde. Ou seja, pensar em saúde significa:
 
·       Valorizar a qualidade de vida;
·       Pensar no ambiente e em como a população pode ter a assistência adequada;
·       Juntar a melhor evidência científica com assistência adequada e acolhimento;
·       Ver o paciente como um todo, com seu bem-estar físico, emocional e social.

Para encerrar, a presidente eleita da Febrasgo deixa uma mensagem para o jovem médico que está no início da profissão: “Mantenha seus princípios éticos e não se deixe levar pelo apelo de ganhos econômicos rápidos. O mais importante de tudo é construir uma carreira sólida em cima de uma excelente relação médico-paciente. O ginecologista precisa ser o portador de credibilidade para que as pacientes respeitem as suas opiniões”.

Ginecologia e Obstetrícia

Novos olhares para o futuro

A Oncologia é uma das especialidades que mais evoluiu nas últimas décadas, com vários motivos para comemorar, apesar de ainda haver grandes desafios. “Conseguimos hoje curar 70% dos cânceres, o que é motivo para comemorar. Porém, ainda há 30% dos casos sem cura. Isso é um contingente grande de pessoas, já que o Inca estima 700 mil diagnósticos no país até 2025”, avalia o oncologista clínico e hematologista Gustavo Fernandes, diretor geral da Oncologia Dasa.

Segundo o médico, no dia a dia, os desafios para os oncologistas são mais relacionados ao acesso e à velocidade de implementação dos cuidados, para se tentar chegar mais cedo ao diagnóstico de tumores em busca de tratamentos com mais eficácia. “A Oncologia é um ramo incrível da Ciência. Nesse Dia do Médico, é uma especialidade que tem muito a comemorar em matéria de avanços, reduzindo a mortalidade. Temos hoje a imunoterapia, que é o grande avanço da última década”, destaca.

Vários motivos para celebrar

Para o oncologista Gustavo Fernandes, 18 de outubro é uma data especial para celebrar tudo que a Medicina oferece aos seus profissionais. “Temos muito a comemorar no Dia do Médico, porque a Medicina é uma profissão que entrega tudo para nós. Ela nos dá um lugar social de respeito, uma função e um propósito automático de cuidar das pessoas. Entramos na vida dos pacientes para mudá-las para melhor. É uma profissão espetacular”, elogia.

Sobre a Medicina ser uma carreira ainda muito procurada pelos jovens, Fernandes ressalta que isso acontece porque eles veem como há muitas possibilidades na profissão. “O médico pode atender, operar, fazer exames, atuar como gestor, se dedicar a pesquisas, dar aulas como professor e trabalhar na indústria farmacêutica ou em seguradora de saúde. São várias opções, mas a que mais gosto e recomendo é a de cuidar dos pacientes”, afirma.

A grande questão que o oncologista aponta, no entanto, é que o médico não recebe preparação para muitas dessas atuações durante a sua formação. “O médico não recebe preparação para ser executivo, nem para administrar serviços ou clínicas. A formação é tipicamente científica e técnica. Se quiser seguir outro caminho, precisa buscar conhecimento nessa área. Então, aconselho todo mundo que deseja empreender na área da Medicina a estudar e a compreender bem o seu negócio”, recomenda.

Pneumologia

Futuro mais humanizado

A formação de novos médicos é uma das principais preocupações e um dos grandes desafios para a Medicina do Brasil. Quem aponta a questão é a pneumologista Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Segundo ela, é preciso olhar com atenção para a qualidade tanto da graduação quanto da residência médica.

“Tenho muita preocupação com a abertura em massa de novas escolas com a péssima qualidade de algumas escolas de Medicina, jogando médicos no mercado, a meu juízo, sem nenhuma qualificação para exercer a profissão. São muitas escolas de Medicina que nem têm hospital próprio ou sem nenhum componente de pesquisa. Isso para mim é uma tragédia”, lamenta.

Para a presidente da SBPT, há também um paradoxo no mercado de trabalho em relação ao pneumologista. “Se analisássemos os dois extremos da vida – crianças abaixo de 5 anos e idosos – as doenças respiratórias são aquelas que concorrem com a maior demanda de assistência médica. Mas hoje os pneumologistas representam um percentual pequeno no SUS. Isso é um paradoxo, que precisa ser corrigido com mais qualificação de pessoas para trabalhar no sistema público”, defende.

Desafios atuais da Pneumologia, segundo Margareth Dalcolmo
 
·       Incorporar mais técnicas, procedimentos e medicamentos ligados à especialidade no sistema de saúde;
·       Dar acesso mais fácil aos portadores de doenças respiratórias muito prevalentes, como asma, DPOC, enfisema pulmonar e bronquite crônica, que dependem de uso permanente de medicamentos;
·       Racionalizar e regionalizar os procedimentos de alto custo, como os transplantes de pulmão;
·       Qualificar cada vez mais a prova para o título de especialistas.

Questionada sobre o médico do futuro, Margareth acredita que seja necessário investir cada vez mais na humanização da Saúde. “Isso começa pela própria estrutura dos serviços. Hospitais enormes e desumanizados, por exemplo, não terão mais espaço. Estruturas menores, com tecnologia altamente presente e ligadas diretamente ao paciente, que poderia estar em sua própria casa, devem ser o modelo a ser adotado”, afirma.

A pneumologista complementa: “Para ser um bom pneumologista, antes de tudo, é preciso ser um bom médico. Isso, claro, vem da formação familiar, mas a universidade tem que complementar com uma formação em Humanidades. Algumas universidades brasileiras já fazem isso, pois ela é extremamente necessária. Nenhuma inteligência artificial substituirá compaixão e enternecimento, que são qualidades que um médico nunca pode deixar de ter”.

Psiquiatria

Evolução sem precedentes

A atualização constante, a defesa profissional e a qualificação do jovem médico são os principais desafios atuais que o psiquiatra Humberto Corrêa, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta para a Saúde brasileira. Entretanto, não é só de dificuldades que se faz a Medicina, principalmente quando se comemora um dia dedicado à profissão. O professor também acredita que há várias conquistas a serem destacadas.

 “A Psiquiatria evoluiu enormemente nas últimas décadas. Certamente, está na cabeça de todos a imagem dos grandes manicômios. Porém, hoje, temos na Psiquiatria diagnósticos dos mais acurados e tratamentos dos mais efetivos. Conseguimos tratar a imensa maioria dos pacientes em casa. Quase nunca precisamos de leitos hospitalares, embora ainda sejam necessários. A Psiquiatria, com certeza foi uma das especialidades que mais evoluiu nas últimas décadas”, avalia.

Quanto aos desafios, a defesa da Psiquiatria contra algumas ameaças é algo constante, segundo Corrêa. “Nos nossos tratamentos, usamos várias abordagens, principalmente as farmacológicas e as psicoterápicas. Vivemos uma constante ameaça por parte de outros profissionais. Temos, por exemplo, no momento um projeto de lei que quer tornar a psicoterapia uma prática exclusiva dos psicólogos. Isso é um absurdo, porque quase todas as psicoterapias foram criadas por médicos”, critica.

📅 Por que 18 de outubro é o Dia do Médico?

A data foi escolhida por ser o dia dedicado, pela Igreja Católica, a São Lucas. Acredita-se que Lucas tenha nascido entre os anos de 1 e 16 da Era Cristã em Antioquia (então parte da Síria, hoje da Turquia). Ele foi médico, além de ter escrito o evangelho que é designado pelo seu nome e também os Atos dos Apóstolos. Além dos médicos, São Lucas também é considerado padroeiro dos artistas.

Como professor da UFMG, o psiquiatra vivencia há muitos anos o ambiente acadêmico e vem observando com preocupação não apenas com o número cada vez maior de médicos no mercado – hoje, são cerca de 500 mil, com a previsão de chegar a 800 mil em 2030 – mas também com a abertura desordenada e sem critérios de novos cursos de Medicina. “Novas faculdades se tornaram um negócio como outro qualquer e muitas vezes são abertas com base apenas em critérios econômicos e políticos”, lamenta.

Para quem já atua no mercado, Corrêa destaca que a atualização constante é necessária, assim como a busca por novos conhecimentos. “A Medicina é uma carreira que exige um enorme desafio tanto intelectual quanto de dedicação humana. Acho que isso ainda atrai muitos jovens. Na Psiquiatria, ter o consultório próprio ainda segue sendo um desejo da maioria dos profissionais. Só que, durante a formação, muitas vezes, ficam de lado questões práticas, como a administração de uma clínica, questões contábeis e jurídicas. Ter esses conhecimentos pode ser fundamental para o sucesso da carreira médica”, aconselha.