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A polifarmácia e sua interferência na relação médico-paciente

Por:

Gabriela Leonardi

- 15/01/2024

A polifarmácia é caracterizada pelo uso de cinco ou mais medicamentos em um mesmo paciente. Esse cenário é mais propício em dois grupos: pessoas jovens com múltiplas doenças e, o mais comum, os idosos, que estão muito mais suscetíveis a terem multimorbidades. Então, como administrar o tratamento desse paciente de forma eficaz?

A partir do momento que uma pessoa com mais de uma doença precisa de diversos medicamentos, eles costumam ser prescritos por mais de um especialista, que avaliará apenas sua área. Para a geriatra Ana Cristina Canêdo, isso é um fator inicial que contribui para o aumento da polifarmácia. “Cada especialista acaba olhando para um órgão específico sem considerar o paciente como um todo. Isso gera, às vezes, o acúmulo de medicações muitas vezes desnecessárias ou selecionadas de forma fragmentada”, alerta.

Além disso, há um aumento de chances de erro na tomada das medicações e complicações no gerenciamento feito pelo paciente. Ao considerar que muitas vezes ele é um idoso que já pode apresentar queixas de memória, é essencial que o médico esteja ao lado para auxiliar na rotina e fique atento à necessidade de “desprescrever” medicações de acordo com a individualidade de cada paciente.

A endocrinologista Erika Paniago reforça que cabe ao médico a avaliação da adesão a cada consulta, buscando entender os motivos de falhas no seguimento do esquema terapêutico. Dessa forma, ele consegue ajustar o tratamento de uma forma que o paciente consiga seguir.

🧩Dicas para incentivar a adesão ao tratamento
• Ajustar horários de tomada de acordo com a melhor conveniência para o paciente

•Prescrever combinações de medicamentos em um mesmo comprimido, reduzindo o número de comprimidos por dia

“É muito importante que o médico explique para o paciente a razão para o uso cada medicamento, de forma simples e com linguagem compreensível, mostrando por que ele não deve deixar de usar”

Erika Paniago

O incentivo à desprescrição

Erika explica que a desprescrição é o processo de redução gradual, descontinuação ou retirada de medicamentos com o objetivo de controlar a polifarmácia e melhorar os resultados. “Os médicos geralmente tentam reduzir ou interromper os agentes com base na experiência e no julgamento clínico. O profissional também deve analisar a história clínica de cada paciente, o exame físico e os exames complementares”, contextualiza.

Também existem guidelines específicos sobre o assunto, que são uma base importante para as tomadas de decisão. Mas, alinhado a isso, é importante ter uma relação fortalecida com o seu paciente para conhecer todas as suas questões e dificuldades em relação ao manejo da polifarmácia no dia a dia, e, consequentemente, verificar a possibilidade de desprescrever alguns medicamentos. Ana Cristina compartilha a importância desse gerenciamento para o bem-estar do paciente:

“Mesmo que as medicações sejam prescritas por outros médicos, deve-se conversar com eles para tentar minimizar o impacto da polifarmácia.

É importante que cada remédio que o paciente tome seja de uma eficácia garantida, que haja a certeza de que ele é fundamental e que vai, de fato, trazer benefícios”.

Ana Cristina Canedo

Muitos pacientes podem não entender o motivo para a desprescrição de um medicamento que já estava em sua rotina, o que reforça a necessidade de ter uma comunicação saudável para a efetividade do tratamento, como enfatiza Erika: “Para toda doença crônica que exige polifarmácia contínua, o processo de educação do paciente em relação à doença é importante para manter a adesão ao tratamento proposto. Cabe ao médico ou equipe de saúde, a cada consulta, abordar a compreensão do paciente sobre a(s) doença(s) e sobre as metas terapêuticas que precisam ser alcançadas”.