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Trajetória e desafios das mulheres na Medicina Brasileira

Por:

Clarissa Mathias

- 06/01/2025

As mulheres têm desempenhado um papel significativo na Medicina brasileira ao longo dos anos. No entanto, historicamente, as mulheres enfrentaram desafios para ingressar e se estabelecer na profissão médica.

No Brasil Colonial, as mulheres enfrentavam grandes barreiras para estudar Medicina, uma profissão dominada por homens.

O acesso às universidades e a aceitação na prática médica eram limitados. A primeira mulher a se formar no país foi Rita Lobato Velho Lopes, em 1887, pela Faculdade de Medicina da Bahia. Pioneira, ela abriu o caminho para outras mulheres na profissão.

Ao longo do século XX, mais mulheres começaram a se formar em Medicina e a ingressar na prática médica, embora ainda enfrentassem discriminação e desafios para se estabelecerem como profissionais.

A partir da segunda metade do século e especialmente nas últimas décadas, houve um aumento significativo na presença feminina nas faculdades de Medicina e na profissão médica como um todo. As mulheres passaram a ocupar diferentes especialidades e posições de destaque.

GIF - Matéria UD - Revista DOC #90 (1)

Atualmente, no Brasil, as mulheres representam uma parte significativa dos profissionais da Saúde, inclusive na Medicina. Elas estão presentes em diversas especialidades, desde Clínica Geral até áreas altamente especializadas, como Neurocirurgia, Cardiologia e Oncologia, entre outras. Além de atuarem como médicas, muitas também têm papéis de liderança em hospitais, nas instituições de saúde e em pesquisas médicas e acadêmicas.

A contribuição das mulheres na Medicina brasileira vai além do cuidado direto aos pacientes. Elas também têm sido protagonistas em pesquisas científicas, contribuindo para avanços que beneficiam a população como um todo. A presença feminina na Medicina tem proporcionado uma perspectiva única e enriquecedora, influenciando positivamente o desenvolvimento e a prática da Medicina no país.

Hoje, as mulheres médicas no Brasil enfrentam uma série de desafios que refletem questões sociais, estruturais e culturais. O principal desafio contemporâneo é a persistência da desigualdade salarial, com mulheres médicas muitas vezes recebendo menos que seus colegas homens, mesmo ocupando posições semelhantes ou equivalentes de responsabilidade e experiência. 

Elas enfrentam o desafio de conciliar as demandas da carreira médica intensa com as responsabilidades familiares e pessoais, afetando suas oportunidades de avanço na carreira e seu bem-estar pessoal.

Apesar de representarem uma parcela significativa dos médicos em atividade, as mulheres ainda estão sub-representadas em cargos de liderança. Estereótipos de gênero persistentes podem afetar a forma como elas são percebidas por colegas, pacientes e pela sociedade em geral, influenciando suas oportunidades de reconhecimento profissional. 

Assim como em muitos setores, algumas mulheres médicas enfrentam assédio sexual, discriminação de gênero e ambiente de trabalho hostil, o que impacta negativamente sua saúde mental e sua satisfação profissional.

Para enfrentar esses desafios, é fundamental que sejam implementadas políticas institucionais que promovam a igualdade de gênero, programas de mentoria e apoio psicológico adequado. A garantia de que as mulheres médicas tenham acesso igualitário a oportunidades de educação continuada, treinamento especializado e desenvolvimento profissional é crucial para promover uma carreira médica equitativa e bem-sucedida.

Além disso, o reconhecimento das contribuições das mulheres médicas para a Medicina brasileira e o fortalecimento de redes de apoio profissional também são essenciais para criar um ambiente mais inclusivo e equitativo.

Clarissa Mathias
Oncologista; presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) de 2019 a 2021; atualmente membro do Comitê de Lideranças Femininas da SBOC

“O principal desafio contemporâneo é a persistência da desigualdade salarial, com mulheres recebendo menos que seus colegas homens, mesmo ocupando posições semelhantes ou equivalentes de responsabilidade e experiência”