Após duas gestões como vice-presidente, Leonardo Haddad assume em 2025 como principal dirigente da ABORL-CCF. Seu objetivo é seguir em defesa da Otorrino, combatendo a invasão de não especialistas
Janeiro é um mês de nova diretoria também na Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). Seguindo a série de entrevistas que o Portal Universo DOC vem publicando com os novos presidentes das sociedades médicas, dessa vez, conversamos com Leonardo Haddad, principal dirigente da associação representativa dos otorrinos brasileiros.
A grande preocupação de Haddad é com a defesa da especialidade. “No cenário atual, temos uma invasão de não especialistas atuando na nossa especialidade, tanto da área médica, assim como – e principalmente – por outros profissionais da Saúde”, critica. De acordo com o novo presidente da ABORL-CCF, é preciso realizar ações para evitar essa situação. Ele também pretende aumentar o interesse do jovem médico pelo movimento associativista. Leia a entrevista completa a seguir:
Universo DOC – O senhor assume agora em 2025 a presidência da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), após estar à frente da associação como primeiro-vice-presidente em 2024 e como segundo-vice-presidente em 2023. Quais são os maiores desafios para a sua gestão?
Leonardo Haddad – De fato, fiquei dois anos como vice-presidente e assumo a presidência em 2025. Esse é um modelo de gestão muito interessante, que nos permite uma adequada integração do funcionamento e das demandas já existentes, bem como a participação de projetos que vêm sendo desenvolvidos e podemos estruturar os que precisam ainda ser colocados em prática. No cenário atual, temos uma invasão de não especialistas atuando na nossa especialidade, tanto da área médica, assim como – e principalmente – por outros profissionais da Saúde. Sem a devida formação na área, isso pode trazer sérias consequências à população. Acredito que os principais desafios da minha gestão serão relacionados a esse tema e também ao engajamento dos otorrinos em participar da associação e fortalecer ainda mais a nossa especialidade.
Quem é Leonardo Haddad Leonardo Haddad é professor adjunto do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É mestre e doutor também pelo Departamento de Otorrinolaringologia da Unifesp. Na ABORL-CCF, atuou como diretor presidente da Comissão de Título de Especialista entre 2012 e 2014. Em 2023, assumiu como segundo-vice-presidente da associação, passando a primeiro-vice-presidente no ano seguinte. Em 2025, assume a cadeira de presidente da entidade. |
UD – Que ações vêm sendo feitas e continuarão com o objetivo de evitar essa invasão de não especialistas, valorizando o trabalho dos profissionais?
LH – A maior garantia da qualificação dos otorrinolaringologistas se dá pela prova do título de especialista, diretamente ligada à qualidade dos serviços de residência. Para isso, temos um comitê de título de especialista e um de ensino e residência extremamente estruturados e dedicados a esse tema. Além disso, atividades relacionadas aos comitês de Educação Médica Continuada, de Comunicação, de Ética e de Defesa Profissional são fundamentais para melhorar a formação, defender e proteger as ações indevidas sobre a nossa especialidade e alertar e orientar a população sobre os perigos da atuação do não especialista.
UD – Como o senhor acredita que a ABORL-CCF pode ficar mais próxima dos seus associados e dos pacientes?
LH – Acredito no potencial cliente que a nossa associação pode ser para o mercado. Pensando nisso, em relação aos associados, para 2025, já temos estruturada uma série de benefícios em curto e médio prazos para aumentar o engajamento dos otorrinos. São eles: negociação de valores diferenciadas para prontuário eletrônico, negociação com fintechs, buscando taxas reduzidas de cartões de débito e crédito, além de taxas atrativas para o financiamento para compra de materiais médicos e reforma de consultório, e parcerias com empresas de materiais de uso do otorrinolaringologista, garantindo os menores preços do mercado para o nosso associado.
“Em relação aos pacientes, temos a intenção de fortalecer um braço social já existente na associação, além de promover campanhas educacionais e de conscientização sobre a abrangência da Otorrinolaringologia. Exemplificando: uma das várias ações que vêm sendo realizadas são as campanhas, como a da voz, a da respiração, a do sono e a da tontura, entre outras”.
UD – Que projetos a ABORL-CCF tem desenvolvido para ficar mais próxima do jovem médico?
LH – Acredito que o engajamento e o associativismo do jovem médico às entidades de classe seja um desafio não apenas da Otorrinolaringologia, mas de todas as especialidades. O que atraía o jovem médico a participar da sua sociedade de especialidade na minha geração já não é atrativo para muitos na geração atual. Entender isso é um primeiro passo. Criar canais de comunicação mais ágeis, uma linguagem mais atual e trazer cada vez mais benefícios para o associado, especialmente ao mais jovem, são estratégias que estamos traçando para a nossa gestão. Por exemplo: teremos um programa de educação médica continuada gratuito por meio de plataforma digital, focado para as áreas em que os residentes mais têm dificuldade na nossa prova de título de especialista. Também fizemos acordo com uma empresa de prontuário eletrônico para que, mesmo durante a residência, o jovem otorrino tenha acesso a um produto diferenciado, com preço acessível, disponível em seu celular e ainda com contabilidade integrada. Estaremos também subsidiando cursos práticos hands-on em cadáveres para o jovem otorrino, sempre pensando em uma melhor formação do residente e beneficiando, na outra ponta, os nossos pacientes. Enfim, esses são alguns projetos, entre outros, que já implantaremos logo no início de 2025.
UD – Quais são os frutos que o senhor deseja colher daqui a um ano, quando sua gestão terminar?
LH – Quando resolvi aceitar o desafio de presidir a nossa associação, tinha em mente que seria um trabalho árduo, de muita responsabilidade, mas que me daria a oportunidade de retribuir à especialidade tudo que me foi proporcionado ao longo dos meus 25 anos de Otorrinolaringologia. Portanto, não quero colher os frutos, quero que a ABORL-CCF e a Otorrinolaringologia brasileira colham os frutos de uma gestão dedicada a todos os associados e, se possível, que consigamos atrair aqueles que, por um motivo ou outro, em algum momento, se afastaram da associação.
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