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Novos horizontes: a carreira médica na indústria farmacêutica

Por:

Franco Martins

- 17/02/2025

Novos horizontes a carreira médica na indústria farmacêutica

A carreira médica é amplamente associada à prática clínica. O futuro de carreira mais esperado contempla um consultório próprio de sucesso, dar aulas em faculdade ou estar consolidado em uma equipe hospitalar de excelência.

Assim, uma boa remuneração deveria frutificar naturalmente. Porém, dentro dessa projeção profissional da maioria dos médicos, que exige muito esforço e inteligência, temos uma área relevante e promissora que não recebe a devida atenção: a indústria farmacêutica.

Durante a graduação, o currículo não aborda as oportunidades do ambiente corporativo, concentra-se na gestão do SUS como um palco onde o médico é ator, até um protagonista, mas não como o diretor da peça. As referências nesse período, na residência e nos próprios locais de atendimento são professores, familiares e colegas médicos, que atendem pacientes ou aliam pesquisa e ensino. O ambiente que o médico atua não propicia contato com líderes, gestores ou executivos de saúde em que possa se inspirar e gerar curiosidade.

O contato com a indústria farmacêutica ocorre durante toda a jornada do médico, com amostras grátis, laboratórios e centros de pesquisa e inovação e, mais comumente, em congressos e simpósios. Após a formatura, os tradicionais convites para encontros científicos e visitas dos representantes são frequentes. Com o tempo e com uma especialidade no currículo, aliados a um bom histórico de docência e construção de poder de influência sobre os pares, podem surgir convites para aulas remuneradas, ainda mais quando o médico é vinculado à pesquisa clínica.

Imagine que um novo medicamento, vacina ou dispositivo médico, doravante chamados de produtos, mostre em estudos clínicos de fase III resultados positivos de eficácia e segurança que permitam sua administração e comercialização. O que é necessário para que uma pessoa ou paciente se beneficie dele?

A área médica da indústria deverá cocriar uma estratégia para viabilizar sua presença no Brasil, começando com a redação do potencial cenário de uso, quem são os pacientes que mais se beneficiam, se a doença tem diagnóstico complexo ou pouco acessível. Também deve mapear os potenciais prescritores, se especialistas ou generalistas, seu nível de entendimento da fisiopatologia e quais canais são mais efetivos para comunicar toda a jornada do paciente e os benefícios reportados, bem como a necessidade de mais estudos.

A existência de políticas públicas de acesso, como protocolos clínicos e incorporações pelo Estado, ampliada pela participação do terceiro setor e das associações de pacientes são determinantes. Finalmente, todo o processo de submissão para aprovações regulatórias conta com ação e deliberação do gerente médico responsável pelo produto. Toda essa estratégia, tática e muito do operacional descritos contam com intensa participação e liderança do gerente médico na indústria farmacêutica. Atividades que vão muito além de dar aulas, percepção inicial comum.

É papel da área médica garantir que todas as partes envolvidas na jornada do paciente estejam bem-informadas, servindo como fonte confiável de consulta ativa e reativa sobre o produto e tudo que o cerca. O profissional que desempenha esse papel é o medical science liaison (MSL), a referência científica de um produto tanto para stakeholders externos como internos. O MSL e o gerente médico podem ou não ser médicos. Essas funções são as principais oportunidades para o médico no ambiente corporativo da indústria farmacêutica.

Expandir os horizontes para além das paredes do hospital pode revelar um mundo de oportunidades para os médicos, permitindo que utilizem suas competências e habilidades acumuladas nos anos de assistência, ensino e pesquisa. Sua bagagem profissional é muito valorizada e bem remunerada, indispensável para os objetivos das melhores indústrias. Muitos médicos que hoje desejam impactar a sociedade devem considerar a indústria farmacêutica como uma gratificante transição de carreira, com benefícios especiais de um dos melhores empregadores da Saúde.

Franco Chies

“Expandir os horizontes para além das paredes do hospital pode revelar um mundo de oportunidades para os médicos, permitindo que utilizem suas competências e habilidades acumuladas nos anos de assistência, ensino e pesquisa”

Franco Martins, pneumologista e especialista em Medicina do Sono.

GIF - Matéria UD - Revista DOC #90 (1)