Muitos médicos focam em desenvolver seus conhecimentos técnicos e acreditam que apenas assim podem construir uma carreira de sucesso. Mas outros tipos de habilidades podem fazer toda a diferença
A carreira médica é repleta de possíveis caminhos e oportunidades. Para escolher um bom caminho, que garanta a carreira bem-sucedida, o médico pode desenvolver vários tipos de habilidades. Os especialistas apontam que, hoje, há dois tipos de habilidades que qualquer profissional pode desenvolver: as hard skills e as soft skills. Na Medicina, no entanto, muitos profissionais se focam apenas nas hard skills.

O pouco foco que muitos médicos têm nas habilidades interpessoais tem raízes na própria formação do profissional.
“Tradicionalmente, a formação médica tem sido centrada no conhecimento técnico-científico, mas há uma crescente conscientização sobre a importância das soft skills. Nos últimos anos, tem havido mais compreensão de que elas são essenciais para uma prática médica eficaz e compassiva”, avalia a empresária e palestrante Cecília Negrini, consultora especializada na área da Saúde.
“Normalmente, o médico tem que complementar sua formação com cursos e treinamentos que permitem o desenvolvimento de soft skills fundamentais para o seu sucesso profissional. Os médicos que reconhecem a necessidade dessas habilidades e competências obtêm resultados melhores e mais rápidos no mercado. Além disso, vivem de maneira mais leve e feliz”, ressalta a especialista.
Para o administrador de empresas Augusto Lyra, mentor e palestrante nas áreas de Liderança, Vendas e Gestão em Saúde, o que acontece é que a capacitação técnica acaba sendo o principal foco do médico quando ele está na graduação. Ao sair da faculdade, ele se depara com a realidade do mercado, no qual outras competências são necessárias para levar ao sucesso na carreira.
“Por quatro anos, fui professor convidado de uma disciplina de Gestão em Saúde, ministrando aulas para alunos do terceiro e do quarto ano de uma faculdade de Medicina. O intuito era contribuir com o conhecimento e o desenvolvimento de habilidades que podem ajudar os profissionais a serem mais assertivos nas decisões que terão pela frente”, explica Lyra.

Quais são as soft skills?
Em resumo, as soft skills são as habilidades que o médico pode desenvolver para construir uma boa relação com o paciente, para trabalhar melhor em equipe (seja ele o líder ou não dessa equipe), para se comunicar de forma clara com colegas e colaboradores e para tomar decisões de maneira ética. Tanto Cecília Negrini quanto Augusto Lyra, entrevistados nesta matéria, enfatizam que são várias as habilidades que o médico pode desenvolver em seu dia a dia.
“As soft skills podem impactar a carreira de um médico, sua reputação e sua marca. Elas podem ser um complemento crucial ao conhecimento técnico. Ouvimos por diversas vezes relatos de pacientes que não gostaram do médico, pois ele não sabia se comunicar e não tinha empatia. Outros dizem que não iriam mais em uma clínica pelos atrasos e pelo descaso da equipe. O conhecimento técnico é obrigatório, mas as soft skills são diferenciais que elevam o posicionamento e o reconhecimento”, destaca Cecilia.
10 principais soft skills na Medicina (1) Comunicação eficaz: habilidade de se comunicar de maneira clara, compreensível e empática com pacientes, familiares e colegas. Além da oratória, inclui a escuta atenta. (2) Empatia: capacidade de entender e compartilhar os sentimentos dos outros, se conectando com eles e reconhecendo suas experiências e necessidades de forma acolhedora. (3) Trabalho em equipe: colaboração eficaz com outros profissionais, reconhecendo a importância do trabalho conjunto para a melhor entrega de cuidados aos pacientes. (4) Liderança: ao estar à frente da equipe, é o saber como orientar e inspirar os colaboradores para alcançar objetivos comuns. (5) Resolução de conflitos: habilidade de lidar com situações desafiadoras, tanto com pacientes como com colegas de equipe, de forma diplomática e eficaz. (6) Gestão de tempo: habilidade de priorizar tarefas, gerir eficientemente o tempo e manter a calma em situações de alta pressão. (7) Pensamento crítico e tomada de decisão: capacidade de analisar informações clínicas complexas, avaliar opções e tomar decisões fundamentadas em benefício dos pacientes. (8) Flexibilidade: habilidade de saber como se adaptar às mudanças e a novas situações que o atendimento no dia a dia traz. (9) Resiliência: capacidade de lidar com o estresse e desafios inerentes à prática médica, mantendo a qualidade dos cuidados prestados. (10) Ética profissional: manter padrões elevados de comportamento ético, independentemente da situação que se apresente. |
Desenvolvendo habilidades
Segundo Lyra, as soft skills podem ser desenvolvidas em qualquer ponto da carreira médica. Muitas vezes, o profissional sente na prática a necessidade de aprimorá-las.
“Muitos médicos, alguns anos após a sua formação, tornam-se empresários e passam a ter uma equipe, que pode incluir dezenas de funcionários, a qual ele precisa liderar. A falta dessas habilidades pode impactar a forma como ele se relaciona com a sua equipe, contribuindo para a rotatividade de funcionários ser mais alta, e para a qualidade do atendimento ser deficiente, impactando a satisfação do paciente e as finanças da instituição”, analisa.

“Profissionais da Saúde que desenvolvem fortes soft skills frequentemente têm carreiras mais bem-sucedidas e gratificantes. Além disso, médicos com boas habilidades interpessoais são frequentemente vistos como líderes naturais e podem ser escolhidos para posições de liderança dentro de suas instituições. Por outro lado, a falta de atenção às soft skills pode ter consequências negativas significativas”.
Augusto Lyra, administrador, mentor e palestrante
Para Cecília, vários profissionais e instituições de saúde vêm percebendo, nos últimos anos, a importância de promover o desenvolvimento das habilidades interpessoais nas suas equipes.
“Cursos de oratória, de alta performance, de gestão e de excelência no atendimento têm ajudado muitos médicos e suas equipes a desenvolverem e aplicarem soft skills em suas clínicas, hospitais e consultórios, obtendo significativos resultados. Essas práticas tendem a gerar um amplificador do ‘boca a boca’, o que na Medicina foi e sempre será o maior fator de captação de clientes”, afirma a especialista
Como desenvolver as soft skills? Educação e treinamento: faça cursos e workshops focados em habilidades interpessoais e liderança Mentoria: busque orientação de profissionais experientes que possam oferecer feedbacks e conselhos Autoavaliação: refletir sobre suas próprias interações e identifique áreas para melhorias Prática deliberada: aplique novas habilidades em situações do dia a dia até que elas se tornem naturais Feedback constante: aceite feedbacks de colegas e pacientes e identifique pontos a serem aprimorados |
Augusto Lyra orienta, ainda, que o médico veja as soft skills como uma necessidade de aprimoramento constante.
“Assim como as habilidades técnicas estão em constante evolução, as soft skills também precisam ser atualizadas e refinadas continuamente. O treinamento regular pode proporcionar novas perspectivas e estratégias para lidar com desafios interpessoais, garantindo que os médicos possam oferecer o melhor atendimento possível”, conclui.

“As instituições de saúde podem identificar as soft skills por meio de avaliações de desempenho, feedbacks de colegas e pacientes e observação direta. Valorizar as habilidades da equipe pode ser feito por meio de reconhecimento público das conquistas, programas de incentivo e investimento em treinamentos periódicos”
Cecília Negrini, consultora especializada na Saúde
Assista agora mesmo a um podcast com Augusto Lyra, com o tema: Médicos precisam de RH?