Jogos eletrônicos normalmente são utilizados como forma de entretenimento e alívio do tédio, mas o que pouca gente conhece é sua aplicação em diferentes contextos, inclusive na área da Saúde. Quando utilizados nas atividades médicas, são capazes de tornar os tratamentos mais interessantes, contribuindo, assim, para um engajamento maior do paciente. Ao fazerem uso de ferramentas lúdicas e dinamismo, os games demonstram ser de grande valia e auxílio, surgindo como alternativa aos métodos tradicionais – muitas vezes considerados tediosos e, por isso, mais difíceis de serem incorporados pelos pacientes.
Thiago Rivero, psicólogo e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (UFSP), explica que a estratégia abrange importantes aspectos que impactam na maneira como o paciente lida com o tratamento. “Os games trazem motivação, engajamento e aprendizado eficaz, permitindo que o paciente participe, de maneira mais fluida, de tratamentos que, por vezes, são longos, estressantes e complexos”, afirma. “Os jogos são ferramentas lúdicas. Nesse ambiente novo, que envolve desafios prazerosos e obstáculos a serem vencidos, existe uma motivação intrínseca muito maior do que aquilo que é obrigatório e não queremos”, define Rivero.
Um exemplo disso é relatado pela fisioterapeuta Izabela Mendes. Criadora de um jogo de realidade virtual para mulheres em reabilitação pós-câncer de mama, na Universidade do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, a médica revela que a iniciativa garante a execução correta dos movimentos de maneira inovadora, reduzindo os desconfortos causados pela doença. “Desenvolvemos uma ferramenta de fácil acesso e tecnológica, no intuito de inovar os métodos de reabilitação sensório-motora, voltados para a saúde e qualidade de vida pós-câncer”, destaca.
Ainda que apresentem grande potencial na área, Rivero salienta que os games não devem ser encarados como uma substituição aos métodos tradicionais. “Os jogos, quando empregados em um tratamento, devem ser utilizados juntamente com outras estratégias complementares”, informa.
A importância da socialização
Com o psicológico abalado, na maioria das vezes, por causa do tratamento médico, o paciente pode encontrar nos games outro importante fator motivacional: a socialização. Para Ysmar Vianna, presidente da MJV Tecnologia e Inovação, esse é o principal motivo que leva as pessoas a jogarem. Por esse motivo, a socialização deve ser trabalhada para que haja maior envolvimento do paciente. “Essa é a grande vantagem dos jogos. É fazer com que as pessoas se juntem em torno de um objetivo em comum, alinhando-as em uma direção e engajando-as cada vez mais. Na área da Saúde, os pacientes vão caminhar nessa direção de uma forma divertida, o que, em muitos casos, irá proporcionar a melhoria na adesão ao tratamento e na motivação deles”, analisa.
Jogos para educar
Além de promoverem maior adesão ao tratamento, os jogos também podem auxiliar na educação e conscientização das pessoas por meio da divulgação de informações sobre doenças e tratamentos. Foi com esse objetivo que surgiu o projeto Jogo digital para comunicação em Saúde, desenvolvido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O primeiro produto elaborado pelo grupo de pesquisa foi um newsgame virtual chamado Jogo do Acesso Aberto, um game curto e simples, para conscientizar o público sobre a importância do acesso livre para a Saúde.
Marcelo de Vasconcellos, pesquisador do Icict e coordenador do projeto, acredita que a promoção da saúde por meio de jogos faz a população se sentir parte do processo. “O jogo é um ambiente em que, necessariamente, há interação e exige uma posição ativa das pessoas”, relata. Segundo o pesquisador, a chance de interagir, “jogar junto” e ter acesso à informação se torna uma necessidade muito forte para quem está em tratamento, servindo como importante fator de apoio. “É mais uma forma de minimizar a carga negativa do medo e da incerteza sobre o tratamento. Isso é um ganho formidável para todos os envolvidos”, completa.
Com colaboração de Bárbara Mello