É comum para o médico receber pacientes com convênio, que chegam ao consultório, apresentam suas carteirinhas e são atendidos. Ao final do processo, é preciso enviar uma solicitação de prestação de contas para que as operadoras de saúde reembolsem o prestador. Porém, nesse trâmite, o médico pode encontrar um obstáculo: a glosa médica.
Glosa é toda cobrança efetuada que não coincide com os acordos e as regras firmadas entre o serviço contratado e a empresa contratante. Na área da Saúde Suplementar, a glosa médica ocorre quando o plano de saúde suspende o pagamento de serviços contratados, como:
👥Consultas; 📞Atendimentos 💊Medicamentos; 🏥 Materiais ou taxas cobradas por hospitais, clínicas, laboratórios ou outros profissionais conveniados. |
O custo é, então, repassado para os prestadores do serviço. Existem, basicamente, três tipos de glosas:
Administrativa | Caracterizada por processos administrativos incorretos, como: • Erros no preenchimento do número da carteira do beneficiário ou do código de um procedimento • Realização de um serviço não coberto pelo plano • Falta de assinatura do paciente ou do médico na ficha clínica |
Técnica | Associada à necessidade de um auditor para avaliar procedimentos cobrados sem argumentação técnico-científica, como: • Descrição incompleta da assistência de Enfermagem prestada no prontuário do paciente • Anotações realizadas a lápis • Utilização de um procedimento diferente daquele autorizado pelo plano. |
Linear | Recorrentes de uma postura unilateral dos convênios ou planos de saúde. Podem caracterizar prática irregular e possibilitar visita técnica e outras medidas regulatórias por parte da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). |
Evitando as glosas
Márcia Massari, gerente de contas médicas do Hospital Prontobaby, no Rio de Janeiro, revela que as glosas mais comuns são as administrativas. Isso acontece porque, ao cadastrar o paciente no sistema e inserir informações como matrícula, solicitações de autorizações e senhas, alguns erros passam despercebidos.
Por isso, Márcia aconselha: “Para evitar essas situações, temos sempre que verificar se todos os dados do paciente estão corretos, além de conferir se as guias estão devidamente assinadas e preenchidas, e enviar também documentação comprovando a realização dos procedimentos cobrados e justificativas técnicas, quando necessário”.
Para Marcelo Brito, presidente da Federação Baiana de Saúde (Febase), outro tipo de glosa comum é em relação a valores. “Há uma tabela determinada em contrato e a operadora, por alguma razão, passa a dizer que aquele valor acordado ficou desatualizado. Com isso, ela passa a aplicar um novo valor, sem a concordância nem a aceitação por parte do prestador de serviço”, exemplifica.
A fim de evitar essas situações, Brito aconselha: “O que se pode fazer é ter muito cuidado na confecção da fatura e ter uma equipe absolutamente preparada para isso, além de ter um sistema de informática de faturamento robusto, para que o médico possa apresentar a fatura”.
Usar a tecnologia também tem se mostrado uma ótima forma de evitar as glosas, como constata Márcia: “Antigamente, os recursos eram, em sua maioria, presenciais. Hoje, com o avanço da tecnologia de informação, eles podem ser feitos pelo site da operadora, com mais agilidade e otimizando tempo”. Dessa forma, a tecnologia auxilia na troca de informações e organização de dados, aprimorando a rotina de consultórios. Um bom exemplo é a implantação de prontuários eletrônicos.
Essas plataformas reduzem de maneira significativa o número de erros e deixam as informações mais claras, além de padronizar os processos, como acrescenta Brito: “A própria ANS determinou um critério de apresentação de glosas, um formulário eletrônico padronizado. Porém, a maioria das operadoras não implementou o arquivo. Ou seja, elas não têm interesse em justificar essa glosa, pois permitem ao prestador apresentar recursos ou acirrar o relacionamento se a glosa for indevida, podendo ele exigir o pagamento integral, sob pena até de uma rescisão contratual”.
Como recorrer da glosa médica?
O prestador de serviços deve buscar o Poder Judiciário para que seja declarado o abuso dessa prática e a para que a operadora seja condenada a pagar pelos serviços. Além disso, Márcia aponta que a agilidade do prestador também pode auxiliá-lo no ato de recorrer uma glosa: “Quanto mais rápido ele analisar as glosas e fizer o recurso, mais rápida será a resposta. Existem várias formas de realizar os recursos, que são determinadas pela operadora: por meio do próprio site da operadora, planilhas em Excel, telefone, presencialmente ou por outros meios”.
Infelizmente, essa pode ser uma situação complicada e nem sempre recomendável, pois, na maioria das vezes, a maior parte do faturamento desses profissionais decorre do atendimento pelos planos de saúde. Isso significa que, para o prestador, o vínculo com a operadora faz toda a diferença, mas a recíproca nem sempre é verdadeira, porque a operadora pode descredenciar o profissional quando quiser sem ser afetada.
Porém, as operadoras não descredenciam os médicos por glosas reiteradas. Para elas, não faz diferença, já que simplesmente suspendem o pagamento e, se pagarem meses depois, não incluirão juros nem atualização financeira.