De acordo com a consultora administrativa e financeira de clínicas médicas e sócia da XHL Consultoria Empresarial, Sandra Chiarantano, a cobrança em dinheiro ou cheque ainda é prática comum entre os médicos, e que, embora o uso de cartões esteja cada vez mais frequente, muitos estabelecimentos têm evitado esse tipo de recebimento por causa das tarifas envolvidas. “Dentro do ambiente particular, ainda observo que o pagamento maior costuma ser em cheque ou dinheiro, especialmente em serviços que envolvem cirurgias e implantes. Existe uma questão cultural envolvida também. Por hábito, os médicos gostam de guardar o dinheiro ou cheque recebido em um cofre ou até mesmo dentro do próprio bolso, principalmente quando se trata de um consultório pequeno”, afirma.
A especialista conta que, se o médico fizer o atendimento particular, mas em um local onde ele não é proprietário, o procedimento normal é que ele receba pelo seu serviço no final do dia. “Isso acontece, claro, quando o estabelecimento lida com cheque e dinheiro. Mas se é disponibilizado o pagamento via cartão, por exemplo, provavelmente o médico só irá receber no final da semana aquilo que ele poderia receber no próprio dia”, pontua Sandra.
Além de passar pelo aspecto cultural e pela praticidade, as despesas com o aluguel de máquinas de cartão de crédito e débito também são fatores que costumam pesar, conforme explica Sandra. “Os tributos envolvidos dependem muito da negociação que o estabelecimento possui com o banco. Ou seja, o quanto ele movimenta financeiramente na entidade financeira com a qual trabalha. Quando há uma movimentação razoável, é possível diminuir essa tarifa que é cobrada por movimentação.
Coloque na balança
Existem algumas entidades financeiras que cobram um percentual fixo de 2% a 3%, podendo chegar até 5%. Vale ressaltar que essa taxa precisa, de fato, existir, pois o banco realiza a cobrança de uma conta corrente e passa para outra como uma transferência normal, mas também é importante que haja uma negociação para que essa tarifa não comprometa uma fatia muito grande do recebimento do médico”, alerta a consultora.
Apesar dos custos com a aceitação de cartões no consultório, Sandra acredita que a modalidade vale a pena para os dois lados envolvidos. “A escolha pela cobrança via cartão é mais confortável para o paciente e é a certeza do recebimento por parte do profissional. O pagamento por meio de dinheiro ou cheque é complicado, inclusive por questões de segurança, já que as pessoas não se sentem tranquilas em caminhar na rua com esse dinheiro. Nesse contexto, as despesas oriundas do uso de pagamento via cartão valem a pena pela segurança do paciente e do receptor”, opina.
No entanto, na visão da especialista, as diversas formas de cobrança no atendimento particular contribuem, infelizmente, para o que ela chama de “separação de atendimento”. “Existem médicos que conseguem fazer uma seleção dos pacientes por meio do valor do atendimento. Então é inegável que existe um serviço de qualidade superior para alguns, enquanto que para outros, não. Realmente enxergo isso como um empecilho, pois impede que o paciente tenha o tratamento adequado da patologia em função de colocações de pagamento”, conclui.
Menos burocracia e mais praticidade
Há 12 anos, o pediatra Jorge Luíz de Faria optou por disponibilizar apenas o pagamento em dinheiro e cheque no seu consultório. Para o médico, a burocracia envolvendo a parceria com convênios sempre foi um fator limitante. “Além disso, o valor pago era muito abaixo do justo por uma consulta médica. Por essa razão, achei melhor parar de atender por convênio e trabalhar somente com o recebimento em dinheiro e cheque”, diz.
De acordo com Faria, o ponto positivo em lidar com as opções escolhidas é a praticidade, diferente do que ocorria com os convênios. O médico afirma que, em todos esses anos de experiência com consultório, jamais passou por dificuldades relacionadas a formas de cobrança. “Não noto nenhum paciente com problemas para pagar. Uma ou outra pessoa pergunta se são disponibilizados outros meios, mas ao dizer que não, eles aceitam pagar em dinheiro ou cheque sem qualquer obstáculo”, afirma. E se os pacientes estão satisfeitos, o mesmo acontece com o pediatra. “É a modalidade de pagamento mais prática e que acredito que mais vale a pena trabalhar. Sinto-me satisfeito dessa forma e com certeza indico para os demais colegas de profissão”, resume Faria.
Ética na hora de cobrar
A escolha da forma de cobrança no atendimento pode levar o médico a se questionar sobre o que é ético ou a não se assumir como um empreendedor. Foi exatamente isso que aconteceu com a psiquiatra clínica e forense Valéria Machado Avilla. “Muitos médicos autônomos esquecem que, se eles não são empresários, seus consultórios são, sim, empresas. De modo geral, gostamos de ser médicos e desprezamos a necessidade imperiosa de sermos administradores. Um exemplo disso é que, até pouco tempo, eu ainda tinha resistência em usar cartões de crédito, pois me parecia muito comercial e pouco confidencial. Hoje, sei que é mais seguro optar por essa forma do que aceitar cheques ou dinheiro”, conta a médica.
Dentro de sua especialidade, a psiquiatra afirma que os primeiros meses são dedicados ao diagnóstico e a achar o remédio ideal para o paciente, além de ajustar a dose eficaz para posterior manutenção. Assim, Valéria defende que a forma de cobrança pode ser um facilitador na adesão do paciente ao tratamento, condição tão importante para o sucesso da Medicina.
“Claro que não se trata de uma exigência, mas eu ofereço aos meus pacientes as três primeiras consultas em um pacote à vista com um desconto de cortesia. Esse tipo de oferta de pagamento não era muito bem visto na Medicina e, de fato, temos que tomar alguns cuidados. O meu parâmetro é me perguntar, sempre: esse acordo é benéfico para o meu paciente? Isso o ajudará? Se a resposta for sim, então é ético”, declara.
Empresas oferecem soluções para pagamentos via cartão
É notório que o uso de cartões como método de pagamento tem se expandido entre os brasileiros. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), houve um salto de 4,4 bilhões no número de transações realizadas nessa modalidade entre os anos de 2012 e 2016. Entretanto, sua adesão ainda é baixa entre os médicos. Também buscando contornar o cenário e se fazer presente nesse segmento, diversas empresas do ramo têm oferecido soluções cada vez mais práticas para seus clientes.
É o caso da Cielo, que, na busca por atingir o máximo de nichos possível. Disponibiliza algumas vantagens a seus clientes. “Um dos produtos já desenvolvidos pensando nesses segmentos é o Cielo Mobile, que transporta para o celular os recursos da máquina e tem grande aceitação entre profissionais da saúde”.
No que se refere ao uso de cartões como forma de cobrança, um dos grandes limitadores é a questão do CPF e CNPJ, que são, em geral, atrelados a uma única conta para o uso de máquinas. Visando médicos que dividem o consultório com outros profissionais, uma das soluções da Cielo é o Multi-Estabelecimento, modalidade que, de acordo com a equipe comercial, permite que em uma única máquina sejam capturadas e administradas as vendas de até 30 CNPJs, direcionando para a conta bancária de cada um os respectivos valores das transações realizadas.
Formas de cobrança
Já no tocante a valores, a empresa ressalta que as mensalidades e taxas variam de acordo com o pacote de serviços escolhido pelo cliente, ramo de atividade, porte e volume de vendas. “A Cielo oferece um plano de valor mensal único, chamado Cielo Controle. Que já inclui o aluguel da máquina e se adapta à faixa de faturamento do cliente. O pacote é destinado a empreendedores e profissionais autônomos com faturamento mensal nas vendas com cartão entre R$ 1.000 e R$ 5.000. E atende a uma das principais demandas desse público: beneficiar-se das vantagens da aceitação de cartões com mais clareza e controle financeiro”, resume a equipe comercial.
Com uma área de atuação voltada para microempreendedores, pequenos negócios e profissionais independentes, o PagSeguro, outra empresa especializada no desenvolvimento de soluções para transações financeiras que cresce em ritmo acelerado, disponibiliza um modelo de negócio que prevê a compra do equipamento, em vez do aluguel.
Vantagens
Segundo o diretor-geral, Juan Fuentes, a grande vantagem é que o médico passa a ter um controle maior sobre as despesas. A não dependência de uma conta bancária para realizar a movimentação financeira também é apontada como outro ponto favorável ao médico, além da possibilidade de a máquina também ser vendida para uma pessoa física.
“Pelo fato de sermos uma plataforma digital, nossa solução pressupõe que o cliente tenha uma conta de pagamento que ele abre conosco ao portar o equipamento. Então, todos os recebimentos oriundos do uso do cartão acontecem normalmente. A partir dessa conta, o médico decide se transfere para uma conta pessoal ou para uma ou mais instituições financeiras. De acordo com o gosto e com a necessidade dele”, explica.
Fuentes ressalta, ainda, que o profissional pode operar seus recursos diretamente da conta criada com a empresa. Por meio de um cartão pré-pago disponibilizado junto à compra da máquina. “Para isso, ele não precisa trafegar pelos sistemas bancários convencionais. Podendo fazer todas as movimentações, pagar contas e sacar recursos diretamente com o nosso cartão pré-pago, tudo isso sem nenhum custo adicional”, afirma.
Principais serviços de pagamentos por cartão para você adotar no seu negócio:
- Cielo
- PagSeguro
- Vitta Pagamentos
- Saude Service
- Rede
- Mercado Pago
- GetNet