A comunidade médica foi uma das mais afetadas pela pandemia. Não apenas pelo excesso de trabalho, mas também pela mudança na forma como era oferecida a educação continuada, visto que os congressos médicos presenciais tiveram de ser cancelados.
Dentro do universo médico, sabemos que além de atender ao objetivo básico da profissão, que é a atenção aos pacientes, também é preciso estar em processo contínuo de educação médica. E uma forma muito importante de atualização profissional se dá por meio dos congressos. Esses eventos são organizados tanto pela academia, dentro das instituições acadêmico-universitárias, quanto por meio das associações médicas de diferentes especialidades.
Porém, nesse período de pandemia, as sociedades e instituições tiveram que se reinventar para fazer com que os congressos fossem realizados de forma on-line.
Como os médicos reagiram aos congressos on-line?
De acordo com César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), tanto as sociedades quanto os próprios médicos tiveram que rapidamente aprender a realizar e participar dos congressos por meio de plataformas digitais. “Confesso que rapidamente aprendemos. Vejo que o médico se agarrou a esses eventos digitais como um náufrago se agarra a uma tábua de salvação”, parafraseia.
Para César, em um primeiro momento, os médicos ficaram muito entusiasmados com a iniciativa das sociedades médicas em fazer esses eventos, que passaram a ser cada vez melhores, mais organizados e adaptados para essa nova realidade. “É natural que nós (médicos) continuássemos a ter a necessidade de nos atualizar durante essa pandemia, por meio de novos conhecimentos, técnicas e procedimentos diagnósticos. E percebo que os médicos, até hoje, ainda veem com grande entusiasmo e de forma muito positiva esses eventos virtuais”, afirma.
Mas será que mesmo após a pandemia os eventos das sociedades continuarão sendo realizados de forma on-line?
Remodelando os congressos médicos: adaptações para o futuro
- O aprendizado virtual é mais econômico
Um dos principais motivos para se acreditar que os congressos virtuais devam continuar acontecendo no período pós-pandemia é pelo fator econômico. César explica que viajar para participar dos congressos costuma sair caro devido aos custos com traslado, acomodações, refeições diárias, entre outros. E para participantes internacionais os custos podem ser ainda maiores, e isso acaba levando à desistência por parte de alguns. Por isso, encontros virtuais podem ajudar a separar esses obstáculos e aumentar o índice de adesão de participantes.
- A falta de contato nos congressos on-line faz falta
Para César, apesar dos benefícios, os congressos on-line deixam de proporcionar algo que é fundamental nesses eventos: o contato com os colegas de profissão. “Nos congressos presenciais, é comum interagirmos com os colegas nos intervalos das apresentações e durante os coffee breaks, o que não é possível no on-line”, conta.
O médico ainda reforça que esse contato é enriquecedor tanto do ponto de vista educacional, para que os médicos possam tirar dúvidas pessoalmente com os palestrantes sobre as apresentações, quanto para servir de confraternização para que os profissionais possam encontrar amigos e colegas de especialidade.
Em resumo, os congressos on-line têm suas vantagens e desvantagens, e parece ter sido uma boa saída para o período de pandemia. Mas, para os próximos anos, é preciso reavaliar esse modelo e fazer os ajustes necessários para satisfazer cada vez mais médicos.
Para o presidente da AMB, o modelo híbrido parece ser o mais adequado para o período pós-pandemia. “Eu tenho a impressão de que, mesmo que tenhamos essa pandemia controlada, os eventos por meio de plataformas digitais não deixarão de existir. Acho que sempre teremos a possibilidade de fazer eventos on-line e, ao mesmo tempo, disponibilizar esses eventos para que se façam simultaneamente de forma presencial: é o que se convencionou chamar de eventos híbridos. Na minha opinião, esse é o futuro”, conclui.