Com o intuito de compartilhar com o público geral informações, mitos e verdades sobre a síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) se uniram para promover a campanha de desinformação acerca da “síndrome do silicone”. Descrita em 2011 por Yehuda Shoenfeld, a condição consiste em desenvolvimento de doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos como resultado de exposição a adjuvantes (substâncias estranhas ao organismo que provocam reação imunológica).
Apesar de ser uma condição muito rara, o silicone tem sido considerado uma dessas substâncias, podendo desencadear reação imunológica e manifestações semelhantes à de algumas doenças reumáticas, sendo os sintomas mais comuns relacionados a fadiga crônica, dores articulares e musculares, boca e olhos secos e algumas manifestações neurológicas. A presença de autoanticorpos contra o silicone e alguns HLA específicos, responsáveis por apresentar os antígenos ao sistema imune, podem indicar o desenvolvimento da doença.
Segundo Marcela Cammarota, diretora do Departamento de Comunicação da SBCP, em relação à Doença do Silicone, existe um grande equívoco ao confundir essa com a síndrome ASIA. “A segunda, que é a mais comumente relatada pelas pacientes e digital influencers, não é uma doença reconhecida pela OMS. Essa nomenclatura foi criada pelas próprias pacientes para descrever os mesmos sintomas da síndrome ASIA e atribuir relação causal desses sintomas à presença do silicone, mas sem, no entanto, haver qualquer doença imune comprovada ou exames alterados”, explica.
Parceria e conscientização
A representante da SBCP declara que, como a população brasileira tem maior tendência a recorrer a procedimentos estéticos, o número de profissionais que começaram a atuar nessa área nos últimos anos aumentou significativamente, mesmo aqueles que não possuem formação específica. Por isso, existe uma grande quantidade de pessoas despreparadas realizando procedimentos de maneira perigosa, divulgando informações equivocadas e garantias de resultados impossíveis de se alcançar.
“Assim, decidimos iniciar uma série de campanhas de conscientização para a população compreender melhor o que é verdade, o que não é e qual o profissional mais indicado ou habilitado para realização de determinados procedimentos. Como o assunto explante está em alta, as publicações informais sobre síndrome ASIA e Doença do Silicone bombardearam a internet e os questionamentos em nossas redes sociais é crescente, resolvemos iniciar nossa campanha com esse tema. A ideia a parceria com a SBR surgiu com o objetivo de reforçar o viés científico da campanha e reforçar a idoneidade da campanha e da SBCP”, relata.
Para a SBR, é fundamental fornecer acesso à informação correta, de qualidade e que possa contribuir para o esclarecimento sobre a existência desta condição, mesmo que seja rara. “Nossa meta é contribuir tanto com o maior e melhor esclarecimento da população em geral, mas também contribuir com outros profissionais de saúde”, sustenta Lícia Mota, reumatologista responsável pela iniciativa e coordenadora da comissão de mídias da SBR.
Ela considera que o fato de duas sociedades médicas científicas se juntarem em uma campanha para esclarecimento da população demonstra o cuidado, a preocupação e a seriedade em divulgar informações corretas e importantes, para que o diagnóstico de uma possível condição autoimune possa acontecer, com o cuidado necessário para não alardear ou assustar as pessoas com informações que são incorretas.
“Vivemos em uma época de acesso fácil às informações por meio de diferentes formas de mídia. Entretanto, essa pulverização de informações pode criar distorções e disseminação de conteúdo incorreto. Por isso nós, como um canal confiável de informação, somos de grande importância, valia e utilidade pública, constituirmos parcerias como esta”, ressalta Lícia.
A diretora de comunicação da SBCP avalia que a parceria com a SBR ajuda a desmistificar a informação, dando um caráter de densidade científica à campanha, além de esclarecer à população sobre publicações que acusam os cirurgiões plásticos de se omitirem ou terem má vontade em promover estudos que possam comprovar a relação do silicone com a doença. “Cirurgia plástica lida com vidas o tempo todo e é uma especialidade médica que está muito além das fragilidades das redes sociais. Nos unimos à reumatologia agora, que teve um papel fundamental no respaldo científico, e nos uniremos a outras especialidades em outras campanhas, pois a medicina é única e fala a mesma língua. A medicina, a ciência e a segurança do paciente estão sempre em primeiro lugar”, define a especialista.
Para Marcela, trata-se de uma conscientização maior de pessoas e, além disso, a oportunidade para que todos aprendam quais os canais certos para buscar informações e sanar dúvidas, não acreditando apenas em informações divulgadas em sites e redes sociais sem embasamento científico. Lícia destaca que, como resultado desta parceria, espera que a iniciativa auxilie no esclarecimento sobre a existência da condição, mesmo que seja rara até onde se sabe.