A profissão médica é reconhecidamente uma profissão que exige muita dedicação, trabalho, estudo e equilíbrio emocional. Afinal de contas, ser responsável pelo bem-estar, pela saúde e muitas vezes diretamente pela vida de seu paciente não é fácil. Isso sem falar nas relações familiares que cercam cada caso.
Com a pandemia de covid-19, os médicos foram ainda mais exigidos. Além da sobrecarga de trabalho, foi necessário encarar o desconhecido para salvar vidas, além do medo de também estar exposto ao vírus e de transmiti-lo a seus familiares. Tudo isso exigiu dos médicos um gerenciamento de emoções muito grande.
Mas afinal, o que significa gerenciar as emoções?
A psicóloga Shana Wajntraub ressalta que ser dominado por uma emoção sem refletir sobre ela é perder o contato com o seu lado racional. E para o médico isso é fundamental. “Quando você deixa de racionalizar, você corre o risco de reagir como um ‘carro desgovernado’, tendo que administrar as consequências depois do ‘acidente’. Por isso, é importante desenvolver a inteligência emocional”.
Segundo a especialista, a inteligência emocional é fundamental para saber sentir e pensar ao mesmo tempo, para agir de forma consciente e criativa, sem deixar que emoções inadequadas controlem sua rotina. “Lembre-se: sentir emoção é essencial, mas no momento certo e da maneira certa”, avalia.
Isso fica ainda mais evidente na prática médica, uma vez que o profissional enfrenta muitas frustrações, pressões e urgências que podem levar ao estresse e dificuldades de conduta. Para Wajntraub, ao desenvolver a inteligência emocional, o médico irá interagir de forma positiva e asseriva com as pessoas, terá uma boa qualidade de vida e conseguirá ser produtivo.
Lidando com pessoas: pacientes e equipe
Lidar com pessoas é uma arte, sejam pacientes, colegas ou colaboradores, e em um ambiente de pressão desenvolver esta competência, onde tudo está à flor da pele, é ainda mais desafiador.
De acordo com uma pesquisa da Korn Ferry, entre pessoas com gerenciamento emocional desenvolvido, 92% têm equipes com alta energia e alta performance. Entretanto, aqueles com com baixo gerenciamento emocional criaram climas negativos em 78% do tempo.
Para exemplificar os dados, Wajntraub compartilhou o seguinte relato. “Acompanhei uma amiga ao médico, pois ela não se sentia bem. Ao chegarmos no atendimento emergencial, o médico percebeu que ela estava abalada emocionalmente e teve o cuidado para fazer uma boa escuta ativa com expressões faciais acolhedoras. Esta conduta é um diferencial e está relacionada com perceber o outro e ter o cuidado necessário que o contexto exige. Isto pode ajudar até para não ter uma relaçã ‘fria’ com o paciente”, ressalta.
Além disso, a especialista enfatiza que pessoas que sabem gerenciar relacionamentos são notadas pelas capacidades de influenciar os outros, gerir conflitos e trabalhar em equipe.A dica é entender que cada pessoa funciona de uma maneira e que é responsabilidade do profissional médico aprender o funcionamento de cada uma delas para então moldar como deve se portar.
Dicas práticas: como realizar o gerenciamento das emoções
Estratégias de autoconsciência:
- Evite rotular seus sentimentos, escute-os;
- Note as consequências de suas emoções;
- Enfrente seu desconforto, evite ignorá-lo;
- Sinta as emoções no seu corpo;
- Saiba a causa dos seus sentimentos, principalmente o que o irrita;
- Observe a si mesmo(a) como se estivesse pensando em outra pessoa;
- Para e se pergunte por que você faz as coisas que faz;
- Faça check-up constantes;
- Identifique suas emoções em livros, filmes e músicas;
- Conheça a si mesmo(a) em situações de estresse.
Estratégias de autogestão:
- Respire direito e lentamente;
- Conte até dez;
- Não tome decisões precipitadas, pense estrategicamente;
- Converse com um bom mentor;
- Incorpore mais sorrisos à sua vida;
- Garanta uma boa noite de sono;
- Converse com alguém que não seja emocionalmente envolvido no seu problema;
- Aprenda uma valiosa lição com as pessoas que cruzam seu caminho;
- Troque julgamento por curiosidade, especialmente sobre o que você interpreta dos comportamentos alheios.