O valor médio de gastos assistenciais com obesidade por beneficiário em 12 meses – estimado em R$ 2,2 mil em 2020 – pode atingir R$ 3,1 mil em 2030. A quantia, que considera um cenário com ausência de políticas públicas ou privadas efetivas, representa um aumento de 42% em 10 anos, enquanto o PIB deve aumentar apenas 7,7% no período. Essas informações fazem parte do estudo “Como o aumento da prevalência da obesidade entre beneficiários pode impactar a sustentabilidade da saúde suplementar”, divulgado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O objetivo foi investigar como o aumento da obesidade afetará a despesa assistencial por beneficiário das operadoras de planos de saúde por meio de alguns cenários construídos.
As metodologias utilizadas pelo estudo foram modelo econométrico ARIMA para a projeção das despesas assistenciais, e para a construção de cenários de variação da obesidade foram adotadas algumas premissas sobre o percentual da despesa assistencial que é destinado à obesidade na saúde suplementar e sobre a relação funcional nãolinear entre a obesidade e os custos de saúde.
Os resultados do estudo apontam a importância de ações de promoção e prevenção efetivas na área da saúde suplementar com foco na obesidade para a sustentabilidade a longo prazo do setor.
Cenários para o futuro
O ponto de partida para a construção dos cenários é 2019, quando a taxa de obesidade entre os beneficiários
de planos de saúde médico-hospitalares era de 26,8%. No relatório, foram traçados alguns cenários para a despesa assistencial por beneficiário das operadoras de planos de saúde.
No primeiro cenário, considera-se que não há uma intervenção de política pública ou política privada nacional para combater a obesidade, de modo que a taxa de obesidade seguiria crescendo à mesma taxa anual que cresceu no período de 2003 a 2019: 5,0% a.a., aumentando para 46,0% em 2030. No segundo cenário, assume-se que
uma política de combate à obesidade fosse implementada e conseguisse reduzir, com sucesso, a taxa de obesidade pela metade. Isso significa que a taxa de obesidade seria 13,40% (26,80%÷2) em 2030, e que haveria uma redução de 3,75% a.a. nesse período.
Cenário I – Com ausência de intervenção sobre a taxa de obesidade
A duplicação da taxa de obesidade resultaria em uma expansão da despesa assistencial por beneficiário, que conforme projeção apresentada, alcançaria, em 2030, R$3.131,37 e o percentual da despesa associado à obesidade seria de 55,47%. Ou seja, em 2030, mais da metade da despesa assistencial estaria relacionada à obesidade e suas complicações, comorbidades e tratamentos. Esse resultado não deve surpreender, dado que quase a metade da população estaria obesa nessa data futura. O percentual que é atribuível à obesidade passa de 18,8% para 55,4%. O impacto da obesidade nos custos é alto. Mas, é muito mais alto o impacto na saúde, na qualidade de vida e na longevidade das pessoas afetadas.
Cenário II – Com uma política exitosa de combate à obesidade que reduz a taxa de obesidade na metade
Supõe-se que uma política ampla e efetiva de combate à obesidade consiga reduzir pela metade a taxa de prevalência entre beneficiários, levando-a de 26,8% em 2019 para 13,4% em 2030. Como resultado, uma gama de despesas associadas à obesidade deixaria de ocorrer. O exercício prevê que a despesa assistencial por beneficiário seria de R$1.463,11 e que a parcela associada à obesidade seria menos de 5%.
O estudo ressalta ainda que não é fácil conseguir uma redução de 50% na prevalência da obesidade no Brasil ou mesmo em qualquer parte do mundo. Mas, os números de impactos recomendam que se desenhem políticas públicas para conter seu crescimento e de preferência que se consiga reduzi-la. Isso requer um planejamento estratégico por parte dos governos, das empresas e engajamento das pessoas e comunidades. Também exige das diferentes partes interessadas, dos setores público e privado, que trabalhem em conjunto na prevenção e tratamento da obesidade e suas doenças relacionadas. Uma abordagem política mais abrangente, fundamentada em melhores dados, estimativas mais acuradas de seu impacto sobre despesas e receitas do setor suplementar, as margens de manobra do setor público, os custos de programas de redução da obesidade e a avaliação contínua das políticas serão ações fundamentais neste processo de desenho e implantação e monitoramento contínuo do programa de combate à obesidade no Brasil.
Leia aqui o estudo na íntegra.
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