Entre os dias 13 e 15 de outubro de 2022 aconteceu no Rio de Janeiro o XXII Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Esta edição, que celebrou os 100 anos da SBO, marcou o retorno dos eventos presenciais para a sociedade. O congresso, que reuniu profissionais de várias subespecialidades ligadas à Oftalmologia, congregou mais de 300 palestrantes. A programação científica foi o grande diferencial. Bastante elogiada, ela apresentou os temas mais atuais, além de questões ligadas a carreira do médico. Na grade da programação tivemos ainda o SBO Talks, uma seção marcada pelo brilhantismo das apresentações que trouxeram as curiosidades sobre a história da cirurgia de catarata, por Dr. Fernando Trindade, e uma reflexão sobre oftalmologia e zona de desconforto, por Dr. Milton Yogi.
Administração e carreira médica na oftalmologia
O Simpósio fornecido pela Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia (SBAO) durante o SBO foi extremamente importante para que os especialistas pudessem aprimorar e compreender melhor a discussão e futuras ações sobre o mercado de trabalho e formas de remuneração na Oftalmologia. A mesa foi dividia em três grandes temas que envolvem a área, gestão e liderança, aspectos jurídicos e carreira médica.
Abrindo as apresentações, Roberta Fernandes, especialista em marketing médico, transpôs os conceitos de administração utilizados na Disney para a realidade da gestão hospitalar. Segundo a especialista, a Disney possui quatro pilares para garantir a qualidade da experiência do cliente, são eles: segurança, cortesia, show e eficiência. Esses pilares devem ser respeitados nessa ordem, ou seja, uma cortesia não pode ser concedida a um cliente se está não for segura.
Tais conceitos podem ser aplicados na gestão hospitalar para uma melhor experiência do paciente. “É impensável achar que apenas um consultório bem decorado, com um jaleco alinhado traz satisfação a paciente. São detalhes que fazem diferença. A experiência dele começa a contar na chegada ao local, na qualidade do elevador, na recepção, no bom-dia, na cortesia da secretária que o atende, no tempo de espera até a consulta e outros. Todos esses detalhes vão contribuir para a avaliação final daquele paciente”, explica.
O que faz a diferença na administração da Disney é a observação. Em primeiro lugar, a equipe de funcionários se sente parte daquela família, o que faz com que os detalhes, os cuidados e os processos sejam muito mais eficientes. “Uma das coisas que sempre falo é para se colocarem no lugar do paciente. Será que esse lindo sofá da recepção é confortável? Muitos especialistas nunca nem se sentaram nesse sofá. Será que o banheiro é funcional? Tem apoio para as mulheres pendurarem as bolsas? São os pequenos detalhes que farão a diferença, e o médico só saberá o que de fato é falho passando pela experiência de se sentir um visitante no seu consultório ou clínica”, ressalta Roberta.
Na sequência, Augusto Lyra, sócio fundador do Instituto Elemento e CursoCompany.Com, falou sobre os diferentes estilos comportamentais. De acordo com o palestrante, a cultura organizacional de uma empresa é construída pela somatória de pessoas que ali trabalham. Independente da experiência e do comportamento de cada um dos membros, o conjunto de ações geradas pela equipe fará com que o paciente saia da consulta satisfeito ou insatisfeito.
Quando se fala sobre atendimento, um dos conceitos mais importantes a serem vistos é a empatia, que significa tratar o outro como você gostaria de ser tratado. Nesse sentido, a teoria comportamental pode contribuir significativamente para que os indivíduos possam adequar seu estilo e serem mais assertivos na comunicação. “Existem quatro estilos comportamentais, o comunicador, o executor, o analista e o planejador. Ao unirmos esses diferentes comportamentos, estamos diante de diferentes estilos de paciente, que terão necessidades distintas. Para isso é fundamental sabermos identificar as personalidades a fim de sermos mais assertivos na nossa comunicação”, explica Lyra.
Aspectos jurídicos e saúde
A seguir, foi apresentado um painel jurídico, onde Alex Souza, sócio da A. Couto & Souza Advogados, trouxe os aspectos jurídicos ligados à prática oftalmológica. De acordo com o advogado, inúmeros problemas existentes estão relacionados diretamente ao atendimento inicial, que acontece na ponta. “O temo de consentimento informado pode minimizar grande parte das ações judiciais hoje existentes. Por exemplo, um caso prático que recebi não tinha um termo de consentimento informado totalmente esclarecedor, o que caracteriza, em tese, a negligência do réu no caso. São detalhes mínimos que devem estar nesse termo para garantir a clareza das informações. Na oftalmologia, por exemplo, é preciso estar informado que a cirurgia de catarata não é para que o paciente deixe de usar óculos. Por mais que pareça algo óbvio para você, especialista, pode não ser para seu paciente ou para o juiz que irá julgar o caso”, explica.
O especialista afirma ainda que para minimizar questões judiciais, um bom relacionamento com o paciente, em todos os âmbitos do atendimento, é fundamental. Quando o paciente se sente próximo do médico, dificilmente entrará com uma ação judicial por uma complicação que porventura venham a acontecer.
Na sequência, Dr. Diogo Lucena, diretor médico da Americas Eye Clinic, finalizou o painel falando sobre reembolso médico. Segundo o especialista, o primeiro ponto que precisamos entender sobre o tema é que não está ligado a judicialização. O reembolso médico é uma cláusula contratual, e deve estar explícita ao se contratar um plano de saúde. “Ao longo dos últimos anos é notório o aprisionamento dos usuários dentro da rede credenciada exclusiva ou verticalizada. Isso quer dizer que o paciente só poderá ser atendido dentro da rede própria ou rede contratada da seguradora, e são pouquíssimos os médicos e clínicas disponíveis. Desta forma, o reembolso médico se torna uma opção viável para médicos e pacientes, que buscam essa possibilidade para um melhor atendimento”, explica.
É importante ressaltar que o tema reembolso é bastante complexo e inclui vários detalhes. Para que o plano conceda o reembolso, por exemplo, é fundamental que todos os serviços sejam esclarecidos no documento fornecido, de preferência com código. Para os médicos que desejam oferecer um serviço completo e que possuem essa demanda de pacientes que buscam reembolso, é fundamental trazer para ele orientações práticas, evitando, assim, contratempos.
Carreira médica na prática
Finalizando a mesa da SBAO, Augusto Lyra retornou para falar sobre como conduzir a carreira médica. O primeiro ponto a se saber é que há uma infinidade de possibilidades para um médico após se formar. Dentre as opções, a primeira delas é a de exercer a medicina em alguma instituição privada ou pública, seguida da carreira acadêmica e montar o próprio consultório ou clínica. “Trabalhar numa instituição privada, para o jovem médico, é uma ótima escolha, pois há toda uma estrutura de trabalho a seu favor. Ou seja, não precisa se preocupar com questões operacionais, é só atender o paciente. Além disso, ao trabalhar no regime CLT, o médico tem uma previsibilidade financeira importante, principalmente em início de carreira”, explica.
Para quem deseja seguir outros caminhos, o mais importante é consistência e proatividade. “Nós nem sempre teremos a oportunidade de fazer aquilo que amamos, mas podemos aprender a amar aquilo que fazemos. Meu conselho é para seguir seus sonhos, independente da escolha. Pense grande, comece pequeno e cresça rápido, que a vida te dará as oportunidades”, concluir Augusto.
Fechando o painel, Renato Battaglia, advogado e presidente da Comissão de Direito Médico, Saúde e Bioética do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), abordou rapidamente sobre o tema de ética e publicidade médica. Atualmente, a resolução em vigor é a 1974/11, que trata sobre as regras da publicidade médica, visando impedir o sensacionalismo, a autopromoção e a mercantilização do ato médico. Esta resolução está passando por uma reformulação, com previsão de ser alterada até o final de 2022. “Aspectos que visam preservar a intimidade do paciente e impedir que o médico faça concorrência desleal não serão alterados nessa revisão. É importante ressaltar que é proibido expor a figura do paciente como forma de divulgar a técnica, método, resultado, mesmo com autorização”, esclarece.
De forma geral, é importante que os médicos entendam que não se deve transformar a obrigação de meio em obrigação de resultado, pois, além de não ser permitido, caracteriza uma publicidade ruim. A obrigação será sempre de meio, assim como os procedimentos. “Quando o médico promete um meio, ele está garantindo que estará sempre ao lado do paciente, se esforçando, utilizando todos os equipamentos necessários para concluir seu atendimento. Dificilmente, nesse caso, poderá incidir algum processo se porventura algo der errado. Diferente de quando você promete um resultado, e o mesmo não fica dentro das expectativas do paciente”, conclui Renato.
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