As mulheres têm desempenhado um papel significativo na Medicina brasileira ao longo dos anos. No entanto, historicamente, as mulheres enfrentaram desafios para ingressar e se estabelecer na profissão médica.
No Brasil Colonial, as mulheres enfrentavam grandes barreiras para estudar Medicina, uma profissão dominada por homens.
O acesso às universidades e a aceitação na prática médica eram limitados. A primeira mulher a se formar no país foi Rita Lobato Velho Lopes, em 1887, pela Faculdade de Medicina da Bahia. Pioneira, ela abriu o caminho para outras mulheres na profissão.
Ao longo do século XX, mais mulheres começaram a se formar em Medicina e a ingressar na prática médica, embora ainda enfrentassem discriminação e desafios para se estabelecerem como profissionais.
A partir da segunda metade do século e especialmente nas últimas décadas, houve um aumento significativo na presença feminina nas faculdades de Medicina e na profissão médica como um todo. As mulheres passaram a ocupar diferentes especialidades e posições de destaque.
Atualmente, no Brasil, as mulheres representam uma parte significativa dos profissionais da Saúde, inclusive na Medicina. Elas estão presentes em diversas especialidades, desde Clínica Geral até áreas altamente especializadas, como Neurocirurgia, Cardiologia e Oncologia, entre outras. Além de atuarem como médicas, muitas também têm papéis de liderança em hospitais, nas instituições de saúde e em pesquisas médicas e acadêmicas.
A contribuição das mulheres na Medicina brasileira vai além do cuidado direto aos pacientes. Elas também têm sido protagonistas em pesquisas científicas, contribuindo para avanços que beneficiam a população como um todo. A presença feminina na Medicina tem proporcionado uma perspectiva única e enriquecedora, influenciando positivamente o desenvolvimento e a prática da Medicina no país.
Hoje, as mulheres médicas no Brasil enfrentam uma série de desafios que refletem questões sociais, estruturais e culturais. O principal desafio contemporâneo é a persistência da desigualdade salarial, com mulheres médicas muitas vezes recebendo menos que seus colegas homens, mesmo ocupando posições semelhantes ou equivalentes de responsabilidade e experiência.
Elas enfrentam o desafio de conciliar as demandas da carreira médica intensa com as responsabilidades familiares e pessoais, afetando suas oportunidades de avanço na carreira e seu bem-estar pessoal.
Apesar de representarem uma parcela significativa dos médicos em atividade, as mulheres ainda estão sub-representadas em cargos de liderança. Estereótipos de gênero persistentes podem afetar a forma como elas são percebidas por colegas, pacientes e pela sociedade em geral, influenciando suas oportunidades de reconhecimento profissional.
Assim como em muitos setores, algumas mulheres médicas enfrentam assédio sexual, discriminação de gênero e ambiente de trabalho hostil, o que impacta negativamente sua saúde mental e sua satisfação profissional.
Para enfrentar esses desafios, é fundamental que sejam implementadas políticas institucionais que promovam a igualdade de gênero, programas de mentoria e apoio psicológico adequado. A garantia de que as mulheres médicas tenham acesso igualitário a oportunidades de educação continuada, treinamento especializado e desenvolvimento profissional é crucial para promover uma carreira médica equitativa e bem-sucedida.
Além disso, o reconhecimento das contribuições das mulheres médicas para a Medicina brasileira e o fortalecimento de redes de apoio profissional também são essenciais para criar um ambiente mais inclusivo e equitativo.
Clarissa Mathias
Oncologista; presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) de 2019 a 2021; atualmente membro do Comitê de Lideranças Femininas da SBOC
“O principal desafio contemporâneo é a persistência da desigualdade salarial, com mulheres recebendo menos que seus colegas homens, mesmo ocupando posições semelhantes ou equivalentes de responsabilidade e experiência” |