Presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Eduardo Martinez conta, em entrevista especial, que um dos maiores desafios é fazer com que a população entenda o que faz um reumatologista
A melhoria do atendimento do paciente reumatológico, a valorização do especialista, a conscientização da população sobre as doenças reumatológicas e a educação continuada de residentes e profissionais mais experientes são algumas das metas de José Eduardo Martinez à frente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). Ele assumiu a diretoria da entidade para o biênio 2024-2026.
Abrindo uma série de entrevistas com os novos presidentes das sociedades médicas, Martinez revela ao Portal Universo DOC que um dos grandes desafios é fazer com que a Reumatologia seja mais conhecida. “Ainda hoje, recebemos no consultório pessoas que não sabem o que o reumatologista faz”. Leia a seguir a entrevista completa como novo presidente da SBR:
Universo DOC – Em setembro, o senhor assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) para o biênio 2024-2026. Quais são os maiores desafios da sua gestão?
José Eduardo Martinez – Os desafios são muitos. A SBR vem fazendo um trabalho amplo, tendo vários públicos-alvo. A nossa missão é melhorar o atendimento da Reumatologia para a população. Nesse sentido, começando pelo nosso associado, um grande desafio é oferecer uma educação continuada de qualidade, tanto para o residente assim como para o médico já com título de especialista. O foco é mantê-los o mais atualizado possível e com um conhecimento crítico da Reumatologia.
“Outro desafio é melhorar a jornada do paciente, ou seja, fazer com que ele chegue ao especialista o mais rápido possível. Nesse sentido, trabalhamos também com a educação para médicos clínicos e generalistas, para que eles façam o diagnóstico mais precocemente e, quando necessário, encaminhem para o especialista de maneira que o paciente chegue em condições de ter um atendimento melhor”.
O terceiro desafio é atualizar as recomendações em relação a várias doenças. Ou seja, qual é o melhor tratamento, depois de ser feita uma análise crítica da literatura, que se pode fornecer ao paciente, se adaptando às necessidades individuais. Temos mais de 40 comissões, que trabalharão muito e publicarão essas recomendações em revistas científicas. Também trabalhamos muito com pesquisas, principalmente epidemiológicas e multicêntricas. Queremos entender quem é o paciente reumatológico brasileiro. Queremos discutir com o poder público a disponibilidade de novas tecnologias e novos medicamentos. E temos três grandes eventos: o Congresso Brasileiro de Reumatologia e duas jornadas regionais, que continuarão a ser realizados.
Quem é José Eduardo Martinez O atual presidente da SBR tem doutorado em Reumatologista pela Escola Paulista de Medicina (EPM), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É professor titular do Departamento de Clínica (Reumatologia) da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na PUC-SP, aliás, foi chefe do Departamento de Medicina de 2001 a 2009, diretor de 2009 a 2012 e vice-reitor de 2012 a 2016. Na SBR, integra a Comissão de Dor, Fibromialgia e outros Reumatismos de Partes Moles. Também ocupou os cargos de secretário geral nas gestões 2014-2016 e 2018-2020 e de tesoureiro na gestão 2020-2022. Possui três livros e 82 artigos publicados, além ter escrito 26 capítulos em outros livros. É titular da Cadeira 15 da Academia Brasileira de Reumatologia. |
UD – O fortalecimento da especialidade, incluindo a conscientização da população sobre as doenças reumáticas, é uma meta?
JEM – Repare que, ainda hoje, recebemos no consultório pessoas que não sabem o que o reumatologista faz. Pessoas que passam por várias especialidades até serem encaminhadas para o reumatologista. Conscientizar os pacientes é, sim, o nosso papel. Temos uma campanha nacional de conscientização da população sobre as doenças reumáticas falando sobre o papel do reumatologista. Isso é contínuo e vem ocorrendo há alguns anos, seja pelas nossas mídias sociais ou por momentos específicos, com eventos em várias regiões do país. O que vamos fazer é melhorar ainda mais a qualidade dessa informação.
UD – O incentivo para que o reumatologista tenha o seu Registro de Qualificação de Especialidade (RQE) é uma das ações planejadas pela SBR junto aos seus associados?
JEM – No Brasil, temos dois caminhos para ser especialista: ou é pela prova de título de especialista que a SBR faz, mediante determinados pré-requisitos, ou pela residência reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). Assim, ele pode ter o RQE. Para a SBR, reumatologista é quem tem esse registro. Então, não é nem uma questão de incentivo. Reumatologista é o médico com competência para atender as doenças reumáticas e que tem o seu RQE. Entendo que seja permitido no Brasil o atendimento de pacientes reumatológicos por outros profissionais médicos. O que esses médicos não podem fazer é dizer que são especialistas, porque não são.
UD – Que projetos a SBR tem desenvolvido para ficar mais próxima do jovem reumatologista?
JEM – A maior parte dos associados da SBR é jovem: são mais de 50% deles abaixo dos 45 anos. A cada ano, recebemos de 80 a 100 novos reumatologistas, através da prova de título de especialista. Por isso, temos a nossa Comissão do Jovem Reumatologista. Eles precisam não só de conhecimento científico, mas também de conhecimentos práticos do dia a dia, de como montar seu consultório, de como lidar com a Saúde Suplementar ou de como atuar junto aos órgãos regulatórios.
“O grande desafio é fazer uma educação continuada para esse público com uma linguagem atualizada. Hoje, aquela aula clássica já não serve mais. Então, novos métodos de educação, muitos deles usando as mídias eletrônicas, serão implantados para, principalmente, levar o conhecimento para o médico mais jovem”.
UD – Quais são os frutos que o senhor deseja colher no final de 2026, quando sua gestão estiver terminando?
JEM – O que quero é deixar a SBR forte, com uma contribuição a mais no sentido de aprimorar o que vem sendo feito e fornecendo para o meu sucessor instrumentos para que ele possa valorizar ainda mais nossa especialidade e melhorar o atendimento do paciente reumático no Brasil.
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