Ser médico era um sonho de criança, como é o sonho de muitas das pessoas que optam pela carreira. Sempre gostei de desafios, e já tinha muita criatividade para a solução de problemas. A possibilidade de solucionar os problemas de saúde das outras pessoas também foi algo que me encantou. Diferentemente de outros colegas que escolhem a profissão, eu nunca convivi com problemas agudos e graves de saúde em minha família. Mas tinha, desde pequeno, muita admiração pela profissão.
Me inspirei nos médicos que cuidaram de mim desde a infância, observando tudo o que eles faziam. Dos quatro aos nove anos de idade, morei em Santo Antônio da Platina, uma pequena cidade no norte do Paraná, onde eu tinha o médico que me acompanhou durante este período. O que me impulsiona em ser médico, em apreciar e praticar a Medicina é a inovação. Para mim, a Medicina foi, ao longo do século XX, a profissão mais criativa entre toas as outras, pois graças a ela vivenciamos inestimáveis avanços nos últimos cem anos. Toda nova tecnologia oriunda de outras áreas tinham a sua aplicação na medicina. Tem como não se encantar com isso? Proporcionar qualidade de vida e minorar os problemas das pessoas doentes é muito interessante. De verdade, é gratificante.
A maior recompensa é ser definitivo direta o indiretamente no bem-estar das pessoas. Ter sucesso é consequência, pois quando você é bom no que faz e se transforma em uma referência, o dinheiro, a fama e o prestígio, aparentemente, são consequências naturais. Não acredito que a profissão dê, necessariamente, dinheiro e segurança, ou seja, ela não te deixa rico. Vida financeira tranquila, sim. Rico, não! A dinâmica da Medicina não dá espaço aos medianos. Para ser médico é preciso ser muito aplicado, e é por esse esforço que somos recompensados. Saber lidar com dinheiro não tem nada a ver com isso.
Como todas as profissões que estão bem estabelecidas e bem sedimentadas, a Medicina também sofre um choque muito grande provocado pela modernidade, pela globalização e pelo excesso de informação. Na verdade, todas as áreas que detêm o seu status de ciência fundamental sofrem esse abalo, porque não sabemos lidar com o excesso de informação. Nesse sentido, a tendência é de que o paciente assuma um papel cada vez mais importante em seu processo de recuperação. A nós, caberá entender e trabalhar da melhor forma.
O conhecimento não é mais unidirecional, e o médico não é mais o “ditador” do que o paciente tem que fazer. Considero a Medicina importante porque encaro a saúde como peça fundamental para o desenvolvimento da cidadania de toda a sociedade. Através dela eu penso nos melhores meios de comunicação com as demais profissões e, ainda, em como produzir conhecimento com essas outras pessoas. Pluralidade é a palavra do futuro – e fazer com que isso tudo funcione é a minha função social como médico.
Fernando Carbonieri – médico generalista, criador e diretor do portal Academia Médica, Preceptor da Semiologia Geral do curso de Medicina da PUC-PR (Campus Londrina), integrante da comissão de integração do Médico Jovem do CFM