Os impactos da pandemia em crianças e adolescentes e como orientar os pais a lidar com a situação
Com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social que se iniciou em março de 2020, muitos pais tiveram dificuldade em se adaptar à nova realidade e administrar as demandas de seus filhos. Durante o período cercado de incertezas, as crianças e adolescentes vivenciaram, além das mudanças no mundo externo, mudanças em sua rotina por causa das medidas de contenção da doença, que impactaram diretamente sua saúde física e mental. Diante disso, novos desafios surgiram para as famílias e, consequentemente, para os pediatras, que ficam com o desafio de entender a nova realidade infantojuvenil e se preparar para orientar os pais dessa nova geração a lidar com seus filhos.
A nova geração
Ainda no início da pandemia, uma das maiores preocupações dos pais era que seus filhos não contraíssem a doença, mas com as medidas de isolamento social, parte dessa preocupação se voltou para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças durante o isolamento. Agora que o período mais restrito de isolamento passou, já é possível delinear esses impactos e as diferenças importantes na geração que vivenciou a pandemia de Covid-19 ainda na infância e adolescência.
Um estudo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sobre os impactos psicossociais do isolamento social nas crianças, por exemplo, apontou para o aumento da dependência do uso da internet e dos sintomas de quadros de depressão, ansiedade, medo, estresse e insônia.
Outro artigo, feito por especialistas da Universidade Federal de Uberlândia, apontou para maior incidência de sentimentos como ansiedade e depressão e piora no desenvolvimento cognitivo e social da faixa etária, sugerindo a necessidade do acompanhamento da saúde mental e física por especialistas. Tal realidade afeta não só a qualidade de vida das crianças, mas a dinâmica da família como um todo.
Essas novas características atravessam a relação dos pais com os pediatras que, como os profissionais de confiança que fazem a ponte entre a saúde da criança e da família, são muito importantes no acompanhamento deles. Neste momento, é crucial que o pediatra esteja pronto para ouvir as queixas e dúvidas dos pais, e que também, esteja preparado se prepare para orientá-los. É importante, também, que tenha em mente que muitos desses pais não sabem como agir em relação às mudanças que seus filhos vivenciaram e se sentem culpados por tudo que ocorreu com eles durante o período de isolamento.
Orientações para os pais
É fundamental, para que a pandemia de Covid-19 seja parte do passado, que os pediatras discutam com as famílias sobre a necessidade de se continuar com cuidados para proteger a saúde das crianças, como evitar aglomerações e utilizar álcool em gel, mas também a necessidade da vacinação infanto-juvenil.
Outro tópico para ser abordado durante o acompanhamento, agora mais do que nunca, é a importância de que os pais incentivem seus filhos a fazer exercícios físicos, já que, além de essencial para a saúde física e bom desenvolvimento dos pequeninos, a prática de exercícios físicos muitas vezes proporciona que a criança esteja em ambientes em que possa se desenvolver socialmente e construir laços com pessoas de fora da família.
Este assunto pode não ser bem aceito pela criança que já não está acostumada a se exercitar. Portanto, é interessante ajudar as famílias com estratégias para tornar o exercício físico mais atrativo para elas. Envolver a criança na escolha de uma atividade, por exemplo, procurar o apoio de outros pais ou até buscar fazer atividades em família, como corrida ou uma simples dança na sala de estar, podem ser maneiras de incluir as atividades no dia a dia da família.
Falando de saúde mental
Outro assunto que merece atenção durante a consulta, é a saúde mental das crianças. Como apontado pelos estudos e muitas vezes identificado pelos próprios pais, essa é uma geração bastante fragilizada emocionalmente, logo, é importante oferecer apoio e orientação em relação a isso. É crucial que os pais estejam atentos para comportamentos que podem ser preocupantes, como isolamento além do normal, agressividade e desinteresse por atividades que antes eram de seu gosto.
Em alguns casos, o pediatra será responsável por abordar o assunto com a família pela primeira vez. Logo, é preciso sensibilidade para fazê-lo e buscar abrir espaço para que a família dialogue sobre isso, principalmente com crianças mais velhas e adolescentes. É importante que o pediatra também auxilie os pais a:
1. Entenderem tudo o que a pandemia significou para seus filhos, dos novos sentimentos como o medo e a insegurança;
2. Entenderem as frustrações de anos inteiros de aulas online e viagens canceladas;
3. Entenderem que eles precisem de mais apoio emocional que precisariam antes.
Para pais de crianças e adolescentes que foram diagnosticados com transtornos de ansiedade e depressão no período, é muito importante aconselhá-los em relação ao prognóstico de seus filhos e incentivá-los a prosseguir com o tratamento e acompanhamento adequado, mesmo com uma possível melhora do quadro e a “volta à normalidade”.
Com o isolamento social tendo ficado para trás, o retorno da maioria das atividades presenciais e o avanço da vacinação, o mundo parece estar voltando a ser o que era antes. No entanto, para a geração que teve parte importante de seu desenvolvimento num cenário de isolamento social, a vida pós-covid sempre terá marcas desse período e cabe aos pais e pediatras se unirem para ajudá-los a processar tudo o que houve, e a se desenvolverem com qualidade de vida, apesar de tudo o que aconteceu.