Como o médico pode adquirir conhecimento para melhorar sua abordagem com adolescentes e suas famílias
O momento da consulta é muito importante para o retorno e fidelização do paciente, e no caso de adolescentes, isso não é diferente. Algumas particularidades desta faixa etária, no entanto, podem interferir nesse momento e na construção de um relacionamento de confiança com o pediatra, por isso é preciso que o médico que se propõe a atender esse público busque o conhecimento adequado para conseguir uma consulta de excelência.
Hoje, cerca de 20 a 30% da população do Brasil é composta por adolescentes e, de acordo com Tamara Goldberg, secretária do Departamento Científico de Adolescência da SBP e professora do programa de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), é cabível que eles sejam atendidos com dignidade. Segundo Goldberg, os adolescentes representam o futuro da nação e cabe ao profissional que se propõe a atendê-los ter uma formação digna e se dedicar aos seus pacientes. A professora também acrescenta que a realização da residência em Medicina do Adolescente lhe parece essencial.
Quando o assunto é Medicina do Adolescente, a SBP não tem poupado esforços para fortalecer a área, disponibilizando inúmeros materiais no portal sobre as particularidades do atendimento desta faixa etária, com destaque para o manual de orientação “Consulta do Adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra”, que já possui três anos de lançamento e segundo Tamara Goldberg – que participou do seu desenvolvimento – continua muito atual.
O que o pediatra encontra no manual
Nesse material, são elencadas questões éticas e legais da consulta de adolescentes, a postura que o pediatra deve ter ao atendê-los, além de um guia para o protocolo HEEADSSS de anamnese, utilizado em diversos países do mundo e que se propõe a auxiliar na identificação de questões que podem afetar a saúde do adolescente.
Na parte introdutória do manual é ressaltado aos pediatras que a pessoa central da consulta é o adolescente. E, para isso, é preciso que o médico se atente para práticas que, sem querer, comunicam ao jovem o contrário, como por exemplo, se dirigir apenas aos responsáveis.
Outro ponto tido como central da consulta e que pode ser delicado para tratar com certas famílias é o direito ao sigilo entre o médico e o paciente. Para Tamara Goldberg, a base da confiança no atendimento ao adolescente se apoia na privacidade e confidencialidade e os pediatras são os interlocutores entre filhos e suas famílias, sempre mantendo o sigilo essencial à consulta. Segundo as orientações do manual, é preciso deixar claro ao adolescente seus direitos ao sigilo, privacidade e confiabilidade.
Para garantir esses três pilares, é importante que o médico conheça os limites do sigilo. Confira abaixo as orientações do manual:
Quando o sigilo deve ser mantido
1. Ficar, namoro, iniciação sexual (excluída violência por sedução ou imposição explícita);
2. Experimentação de psicoativos (sem sinais de dependência);
3. Orientação sexual, conflitos com identidade de gênero;
4. Prescrição de contraceptivos (para o/a adolescente com maturidade para adesão);
5. IST (afastada violência sexual e desde que o/a adolescente tenha maturidade para adesão ao tratamento).
Quando o sigilo deve ser interrompido
1. Presença de qualquer tipo de violência: emocional, maus tratos, sexual, bullying, interpessoal no namoro etc.;
2. Uso escalonado (cada vez maior) de álcool e outras drogas, sinais de dependência química;
3. Autoagressão, ideações suicidas ou de fuga de casa, tendência homicida;
4. Gravidez, abortamento;
5. Sorologia positiva de HIV (comunicar aos familiares e à parceria sexual);
6. Não adesão a tratamentos, deixando o adolescente ou terceiros em risco;
7. Diagnóstico de doenças graves, quadros depressivos e outros transtornos do campo mental.
No portal do associado o pediatra encontra também documentos desenvolvidos pelo Departamento Científico de Adolescência sobre temas que fazem parte da realidade dos adolescentes, como “Bebidas alcoólicas e os prejuízos à saúde da criança e do adolescente”, atualizado em 2021 e “Prevenção da Gravidez na Adolescência”, de 2019, que contêm linguagem adequada para auxiliar o médico a responder as principais dúvidas que podem aparecer durante a consulta e atender seus pacientes com qualidade sempre exemplar.