Em tempos de pandemia de Covid-19, a telemedicina tornou-se uma alternativa para médicos e pacientes evitarem o contágio pelo novo coronavírus e manterem o atendimento regular. No entanto, a telemedicina é uma ferramenta que veio para ficar e está sendo usada em praticamente todas as especialidades médicas, inclusive a pediatria. De certa forma, pediatras já estão acostumados a tirar dúvidas a distância. Telefonemas de pais preocupados sempre fizeram parte da vida dos especialistas e, mais recentemente, as mensagens por WhatsApp tornaram-se bem comuns na rotina pediátrica. Porém, quando a orientação pelo aplicativo deve ser substituída por uma consulta por telemedicina?
– Ainda atravessamos um momento crítico em nosso país e no mundo no que se refere à pandemia. Desde o início desse cenário, observamos a criação de novos modelos de atendimento, dentre eles a aceleração dos modelos de assistência a distância. O bom senso deve reger o momento em que passamos de orientações concisas e objetivas aos pais e familiares para uma consulta de teleatendimento. Esse momento está intimamente relacionado à manutenção da queixa clínica que originou as dúvidas envolvidas no caso, assim como uma necessidade de maior investigação diagnóstica. Devemos ainda ter sempre em mente a necessidade de respeito à integridade, segurança e sigilo das informações – considerou Guilherme Sargentelli, pediatra e Coordenador Médico do Universo DOC.
Um dos desafios em telemedicina é manter a relação médico-paciente de acordo com os princípios da confiança, segurança e conforto. Para minimizar a falta do contato, o médico deve redobrar a atenção ao paciente na consulta on-line, de modo que a humanização do atendimento torna-se ainda mais importante. Com toda certeza, a impossibilidade de realizar exames físicos é uma complicação para o teleatendimento em pediatria, assim como é mais difícil analisar a evolução do paciente sem vê-lo pessoalmente. Numa consulta pediátrica, além do paciente ser uma criança, que nem sempre consegue passar o que está sentindo, os pais são parte essencial dessa relação. Como não é possível fazer o exame clínico na criança, o principal recurso na telemedicina é a anamnese: ouvir os pais e buscar entendê-los para então chegar a um diagnóstico e oferecer tratamento.
– O conforto aos familiares em uma consulta, e nessa situação podemos falar tanto de um teleatendimento como de uma consulta presencial, estará sempre ligado a valores como segurança, credibilidade e acolhimento. Empatia é um pilar fundamental da relação médico-paciente, que pode, e deve, também ser praticado em consultas a distância. No caso específico da telemedicina, que impõe o afastamento físico entre os envolvidos, me parece que todos esses conceitos necessitam ainda de maior atenção por parte do pediatra – considerou Sargentelli.
Uma dúvida que pode surgir é se a consulta on-line é possível ser realizada em todas as fases da criança. No primeiro ano de vida, é possível que a telemedicina pediátrica substitua o atendimento presencial? O especialista ressaltou que os dois primeiros anos de vida da criança são fundamentais no seu acompanhamento. As consultas mais próximas no primeiro ano de vida, com inúmeras orientações quanto ao crescimento, desenvolvimento e adequações alimentares, constituem uma fase de extrema importância na sua vida futura.
– Pensarmos numa substituição desse atendimento presencial pela consulta on-line nessa época da vida ainda me parece incorreto. E, seguramente, neste contexto, teremos que exercitar com mais eficiência dois companheiros frequentes nessa discussão: bom senso e visão crítica. A telemedicina é uma ferramenta que veio para ficar, mas que exigirá de todo pediatra uma consciência muito grande para exercê-la com boa prática – avaliou.
Para Guilherme Sargentelli, ainda é difícil saber quais são os benefícios da telemedicina em se tratando da pediatria, pois, como toda ferramenta relativamente nova dentro do universo da Medicina, é necessária maior curva de aprendizado para se posicionar com mais precisão sobre o tema.
– Entretanto, já afirmaria que, neste momento, o universo do atendimento não presencial nos permitiu repensarmos um melhor dimensionamento das nossas prioridades em termos de agendamento de consultas. Ou seja, na medida em que passamos a ter duas agendas paralelas de consultas, presencial e on-line, isso abre uma pauta de novo fluxo de organização do atendimento por parte de pais e pediatras, o que soa a mim como interessante. Mas, acredito que o futuro consolidará mais esses conceitos em todos nós – considerou.
Para orientar os pediatras a respeito do uso da telemedicina durante a pandemia de Covid-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou, no ano passado, recomendações para o atendimento dos pacientes por meio de ferramentas de tecnologia a distância. Clique aqui para acessar a nota da SBP.