Para o presidente da AMB, que também já esteve à frente de uma grande sociedade médica, o maior desafio dos novos dirigentes é estimular o engajamento dos médicos no movimento associativo
Encerrado o primeiro mês de 2023, o ano ainda reserva muitos desafios para as sociedades médicas. Para os dirigentes que estão assumindo suas gestões nesse início de ano e até mesmo para aqueles que continuam um trabalho já iniciado há mais tempo, os próximos meses devem trazer oportunidades para superar obstáculos, refletir sobre várias questões, pensar em novos passos e avaliar o que foi feito. “Esse é um ano peculiar”, resume César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB).
Segundo ele, 2023 é um ano diferente porque houve uma troca importante no Governo Federal e em vários governos estaduais, o que deve se refletir na discussão e na implementação de novas políticas de saúde.
“Sem qualquer vício ideológico ou político-partidário, o que esperamos é que os governos façam uma política que promova a acessibilidade – ou seja, que garanta o acesso das populações mais carentes ao sistema de saúde. Temos experiências que não foram tão boas no passado, o que nos abre oportunidades ímpares de buscarmos novos modelos”, explica Fernandes.
O presidente da AMB, que já esteve à frente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ressalta que as sociedades médicas têm que se engajar fortemente no sentido de oferecer alternativas para contribuir com as lideranças governamentais, auxiliando na formulação de políticas de saúde, com resolutividade e qualidade assistencial. Além disso, os programas de educação continuada, promovidos pelas sociedades médicas, vêm crescendo e Fernandes espera que se mantenham nesse caminho de expansão.
Associado como foco
Mas não é só de ações do Governo Federal ou dos governos estaduais que os gestores das entidades médicas devem se preocupar em 2023: o associado também precisa ser um foco importante das ações das diretorias dessas instituições. Para César Eduardo Fernandes, as sociedades devem investir cada vez mais em se aproximar dos médicos, tendo em vista que nas últimas décadas há um progressivo desinteresse pelo movimento associativo – comprovado, principalmente, pelo distanciamento dos médicos mais jovens.
“O movimento associativo, incluindo as sociedades de especialidades, faz um trabalho muito denso, em prol do melhor exercício da profissão e para uma melhor assistência à população. Trabalhamos na qualificação do médico, no fornecimento de título de especialista e na produção de material educativo. Mas temos um grande problema: o médico não enxerga com clareza tudo isso que é feito por ele. É preciso montar sistemas de comunicação mais robustos, para que o médico tenha a convicção do quão importante é para ele ter o movimento associativo forte e bem representativo”, defende o presidente da AMB.
O que pode ser feito?
Segundo César Eduardo Fernandes, as sociedades podem investir em ações para se aproximar mais dos médicos, tais como:
- Conscientizar o associado sobre os projetos e as iniciativas da entidade médica;
- Buscar o engajamento do associado nessas ações;
- Esclarecer sobre a representatividade das sociedades nas esferas governamentais nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em defesa dos interesses dos associados;
- Fortalecer a parceria com a AMB e com os conselhos (regionais e Federal – CFM);
- Pensar em um novo modelo associativo, em que o médico se associa à sociedade por fazer parte do movimento e não pelo que a sociedade pode oferecer (como seguro-saúde e clube de benefícios).
Orientação para quem está começando
Com experiência de ter ficado à frente de uma das maiores sociedades de especialidades do país, a Febrasgo, e estar hoje à frente da AMB, César Eduardo Fernandes recomenda aos dirigentes que assumem em 2023 suas gestões é que eles entendam a pujança do movimento associativo e sua importância.
Além disso, ele orienta que os dirigentes consigam, também, identificar as fragilidades do movimento associativo e que possam se unir, mesmo tendo em vista que cada entidade tem suas características individuais.
“Fui presidente de uma grande sociedade de especialidade e demorei muito para entender a interconexão que existe entre as diferentes sociedades de especialidades, a AMB e suas federadas. Imagino que a maioria dos presidentes, ao assumirem, tem como primeira preocupação o que pode ser feito pela sua sociedade. Hoje, olhando o conjunto de todas as sociedades de especialidades e federadas da AMB, vejo que é preciso compreender a interação que existe entre cada um de nós para o fortalecimento desse todo, que é o movimento associativo”, afirma.