Entre os dias 16 a 18 de novembro, o Rio de Janeiro sediou a 24ª edição do Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica. O evento, organizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reuniu milhares de especialistas para debater as principais novidades da especialidade, reforçando a importância dos avanços inseridos na Saúde. Além disso, promoveu-se como lema “Acesso e Equidade”, o que gerou diversas reflexões sobre o futuro da Oncologia no país.
É inegável que os jovens oncologistas são um papel essencial para o desenvolvimento da área e, por isso, o Universo DOC trouxe um panorama de algumas aulas que foram apresentadas para esses especialistas. Leia a seguir sobre o que foi discutido nas sessões Desafios do início da carreira após a residência e dicas para o desenvolvimento da carreira:
Assistência em um grande centro
No início do módulo, Camila Bragança, oncologista no Hospital Sírio-Libanês, exemplificou a rotina de um assistente, cargo ocupado após a residência e que mostra o primeiro contato no mercado de trabalho. Ela ressaltou os benefícios desse período para desenvolver diversas habilidades e, principalmente, os conhecimentos adquiridos com o chefe da equipe: “Outra questão importante é ter a possibilidade, em um grande centro, de ter suporte para fazer pesquisa. Você vai ter recursos financeiros para apresentar um trabalho fora do país e um número grande de pacientes para poder conduzir essas pesquisas”, acrescentou.
Outro ponto positivo abordado por Camila foi entender o modelo de cuidados dentro de um grande centro médico, ainda mais se o profissional não teve sua formação em uma instituição com o mesmo perfil. Devido à alta produtividade provocada pelas demandas nesse tipo de ambiente, a oncologista aconselhou: “Talvez seja um momento de pensar se isso faz sentido para você. Geralmente são centros que têm grandes volumes de consulta, casos muito complexos e uma procura cada vez mais frequente do tratamento personalizado, e você precisa ver se isso se encaixa na sua vida”.
Além disso, a especialista também comentou sobre a necessidade de manter sua individualidade dentro da equipe médica, algo que pode ser um desafio no dia a dia. “Isso é bom porque se você é mais confiante, tem mais habilidades e é mais motivado, consequentemente trará melhores ideias ao resto da equipe e melhores desfechos, obviamente, ao paciente”, destacou. Para finalizar, Camila explicou o conceito do “espelho quebrado”, em que o assistente analisa características de seu chefe que não devem ser repetidas no futuro. Alguns pontos importantes nesse balanceamento são:
- Diferença geracional
- Prioridades na carreira
- Estrutura de trabalho
- Condutas específicas no dia a dia
Realidade fora dos grandes centros
Em seguida, a oncologista clínica Aline Bobato apresentou sua experiência de ter voltado para sua cidade natal, no interior do Paraná, após anos vivendo em São Paulo. Considerando os dados da pesquisa Demografia Médica de 2023, em que 63% dos médicos residentes estão nas capitais brasileiras, Aline refletiu: “Será que sair de um grande centro é trocar uma ferrada por uma carroça? Quando atuava em São Paulo, passava o dia inteiro no hospital. Quando eram nove horas da noite eu conseguia ir à academia, que era do lado da minha casa, e era apenas isso que eu fazia além do trabalho”. Por isso, a oncologista indicou pontos que podem levar um médico a sair de um grande centro médico:
- Qualidade de vida
- Menos tempo de deslocamento no trânsito
- Maior rendimento do seu dia para outras atividades fora do trabalho
- Proximidade com a família
- Crescimento profissional mais rápido do que nos grandes centros
- Saturação profissional nos grandes centros
- Menor custo de vida
Em contrapartida, Aline contou que existem obstáculos ao sair de um grande centro, como a dificuldade de comunicação entre especialidades (incluindo a falta de reuniões multidisciplinares e de conhecer encaminhadores), inserção no mercado e em atualizações dentro da área. “É muito importante alinhar as expectativas ao definir o seu propósito de vida. No final, não tem resposta certa ou errada”, enfatizou.
Fellow internacional: expectativa versus realidade
Guilherme Harada, coordenador da Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, sintetizou, em seguida, o processo de fazer um fellow em outro país, algo que pode gerar muitas dúvidas para o médico. “Obviamente não vai ter uma resposta certa. Isso vai ser muito individual de cada momento, e se fosse para dar uma dica, o primeiro ponto de decisão, para mim, vai ser sempre a família”, apontou.
Harada explicou que é importante considerar as prioridades em sua vida e alinhar esses propósitos com os seus familiares. Feito isso, a experiência do fellow pode ser bastante enriquecedora, onde você conhecerá novas pessoas e uma cultura diferente, além de ter a chance de ter um mentor te acompanhando durante todo o processo.
Em relação às expectativas, Harada afirmou que é indiscutível que irão surgir desafios durante o fellow, incluindo a adaptação ao idioma e à nova rotina: “A chave para o sucesso passa pela resiliência e por diversos processos de adaptação ao longo da vida”. Ao final do período, o oncologista reforçou a imensidão de caminhos que podem ser seguidos pelo médico, incluindo a decisão de permanecer no país estrangeiro, algo que não foi feito por ele pela proximidade com a família. Ele complementou: “É preciso de muitas pessoas apoiando, pois na vida ninguém consegue fazer nada sozinho. Ser humilde e grato
às pessoas que te ajudaram faz total diferença”.
Finanças: como lidar e cuidar do seu rendimento
Seguindo para o módulo de dicas para o desenvolvimento da carreira, André Sasse deu dicas essenciais de educação financeira para os jovens oncologistas, considerando que eles estão no início da vida profissional e podem ter dúvidas ao se organizar, uma vez que “educação financeira” não é um tema abordado durante a graduação.
“Muitas vezes, a Medicina estabelece um padrão baseado em alta remuneração, e você precisa parecer um médico bem-sucedido e demonstrar isso de uma forma que, muitas vezes, não condiz com o que tem no início”, disse Sasse.
O oncologista apresentou um panorama da vida profissional do médico, em que a maioria são profissionais autônomos, o que significa que a entrada de recursos depende exclusivamente de sua força de trabalho. Logo, situações inesperadas impactam fortemente em sua receita mensal, o que pode causar ainda mais problemas se não houver uma reserva para esse tipo de cenário. Por isso, Sasse ressaltou alguns conceitos de educação financeira:
- Veja-se como uma empresa, em que você é o seu maior ativo e principal produto
- Conheça os modelos de remuneração que são praticados no mercado de sua especialidade
- Esteja atento a conceitos de economia em Saúde e custo-efetividade
Marketing digital
Por último, a venezuelana Narjust Florest, oncologista e cofundadora do movimento #LatinasInMedicine, trouxe dicas do uso das redes sociais para a carreira médica. Um dos caminhos é divulgar suas pesquisas e marcar, inclusive, revistas acadêmicas que podem ajudar no aumento do alcance. Narjust aconselhou que haja um monitoramento e busca do seu nome na internet, pois você está inserido no mundo virtual mesmo se não for sua intenção.
A oncologista também exemplificou os principais pontos de ter uma forte presença digital, onde o principal questionamento a ser respondido é: Qual é a mensagem que você quer compartilhar? Ela está alinhada com os seus objetivos? Além disso, criar conteúdo online pode ajudar no combate a desinformações, algo que se tornou muito comum durante a pandemia, em que informações cientificas falsas eram disseminadas em larga escala. Para finalizar, Narjust mostrou pontos importantes para ter em mente ao usar as redes sociais profissionalmente:
- Seja cuidadoso: publicações representam você e seu local de trabalho
- Seja transparente: divulgue os seus conflitos de interesse
- Seja claro: fale por si mesmo e não em nome do seu local de trabalho
- Seja inteligente: não poste nada que você possa se arrepender depois
- Mantenha limites: não exponha os seus pacientes