Assumindo a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) em 2025, Paulo Lobo Jr. revela os desafios de estar próximo tanto dos médicos mais jovens e quanto dos mais experientes
Um ano que promete ser um marco para a história de uma instituição quase centenária: é dessa forma que o ortopedista Paulo Lobo Jr. define 2025 quando o assunto é a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), cargo que ele assume este ano. Um dos maiores desafios da instituição para os próximos anos é a construção do seu centro de treinamento, prevista para começar em breve. Uma forma de se aproximar cada vez mais, principalmente, dos jovens médicos.
Em uma entrevista especial ao Portal Universo DOC, o presidente da SBOT enfatiza também como a educação continuada e as campanhas de prevenção de acidentes seguem sendo metas para a sociedade. Com uma mudança recente na governança da sociedade, Lobo Jr. espera um ano de muito trabalho e de importantes resultados na sociedade. Veja a entrevista completa:
Universo DOC – Em 2025, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) completa 90 anos de fundação. Como novo presidente da sociedade, quais são os desafios de assumir esse cargo em um ano tão emblemático?
Paulo Lobo Jr. – Primeiramente, a SBOT passou recentemente a ter um Conselho Administrativo, composto por um Conselho Consultivo e uma Comissão Executiva. Essa mudança de governança fez com que o planejamento das gestões passasse a ser trianual e não mais anual. Então, em 2023, foram planejadas as ações que seguem até este ano. O que faremos é, basicamente, seguir o que já está acordado. Um dos principais desafios é o início da construção do nosso centro de treinamento em cadáver, que será o maior desse tipo na América Latina, com 30 estações para estudo e aprendizado. Só para se ter uma ideia, a American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS) tem um centro de treinamento com 24 estações. A proposta é que o centro da SBOT favoreça também outras especialidades médicas e, por meio de parcerias com universidades e com o Governo, seja acessível a residentes e acadêmicos de Medicina. A construção será em São Paulo, cidade onde fica a sede da SBOT, e ficará ao lado do Aeroporto de Congonhas, para favorecer o acesso de ortopedistas de todo o país.
UD – Além da construção do centro de treinamento, que outro desafio a sua gestão terá pela frente?
PLJ – Um dos grandes desafios que temos enfrentado é como ajudar o ortopedista na sua defesa profissional. A valorização do ortopedista é o maior anseio que temos quando fazemos qualquer tipo de ação. Agora entre janeiro e fevereiro, faremos nosso segundo maior evento, atrás apenas do nosso congresso, que é a prova do Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia (TEOT). Junto a esse evento, faremos um fórum de defesa profissional, com representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), entre outras instituições, auditores médicos e advogados. Precisamos elaborar projetos que possam defender o ortopedista perante as situações que ocorrem dentro da sua prática clínica. Temos queixas de norte a sul do país de situações bizarras, como uma cirurgia que é autorizada para depois ser glosada pela operadora de saúde.
“Outro desafio que temos é o de celebrar nossos 90 anos. Para isso, criamos a meta de comemorar ao longo de 2025 essa data histórica em cada capital do país, com a ajuda das nossas 27 regionais. Poucas sociedades completam 90 anos com tanta pujança como a SBOT”.
UD – A Ortopedia é uma das especialidades que mais exigem do médico uma atualização frequente, por conta dos avanços tecnológicos constantes. Que ações a SBOT tem para ajudar o ortopedista a ficar atualizado com essas novas tecnologias e procedimentos?
PLJ – Sobre a educação continuada, a SBOT talvez seja uma das sociedades médicas mais organizadas do país. Atuo na parte administrativa da SBOT desde 1985 e, ao longo de todas essas gestões, vi como a educação continuada evoluiu. Temos duas comissões na SBOT que são imexíveis: a de Ensino e Treinamento (CET), que cuida dos residentes e da formação e aprovação dos especialistas, e a de Educação Continuada (CEC), que tem um leque de ações. Algumas ações são pontuais. Posso citar, por exemplo, a Rádio SBOT, com uma série de podcasts; os carrosséis, que são cursos dados em cidades do interior do Brasil, mas também em algumas capitais; a Revista Brasileira de Ortopedia, que é um símbolo da nossa sociedade; além de eventos, webinars e aulas on-line que a CEC realiza todo mês. Tudo isso faz parte de um grande projeto de educação continuada do ortopedista.
Quem é Paulo Lobo Jr. Paulo Lobo Jr. se graduou em Medicina em 1981, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Em seguida, fez residência médica no Hospital de Base do Distrito Federal e se especializou em Medicina Esportiva. Também atuou no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde fez treinamento em cirurgia do joelho em 1986. No fim da década de 1990, foi associado ao Departamento de Cirurgia Ortopédica e Medicina do Esporte da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Lobo Jr. é membro titular da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia no Esporte (Sbrate) e presidiu essa entidade em 2014. Integra a Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ), a European Society of Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy (ESSKA) e a International Society of Arthroscopy, Knee Surgery and Orthopaedic Sports Medicine (Isakos). Também coordena o Departamento de Ortopedia e Medicina Esportiva do Hospital Home. O ortopedista é ainda presidente do Instituto de Pesquisa e Ensino (IPE Home), coordenador do Departamento Médico do Brasiliense Futebol Clube, membro da diretoria da Comissão Nacional de Médicos do Futebol (CNMF/CBF) e membro da Câmara Técnica de Ortopedia do Conselho Federal de Medicina (CFM). Antes de assumir a presidência da SBOT em 2025, atuou como primeiro e segundo-vice-presidente nos anos anteriores. |
UD – Todas essas ações da SBOT, obviamente, têm impacto na vida dos pacientes. A SBOT tem ações e campanhas para falar diretamente com a população?
PLJ – São inúmeras. Ao longo desses anos, a Comissão de Campanhas Públicas vem fazendo campanhas desde para ensinar como a criança deve usar a mochila e o peso do que ela carrega até a prevenção de acidentes de trânsito. A campanha que daremos mais ênfase em 2025 é a prevenção de acidentes de trânsito. A SBOT vem atuando, nesse sentido, com a Confederação Nacional em Defesa do Trânsito Seguro (CNseg). No entanto, campanhas públicas é algo que viemos fazendo ao longo dos anos. A SBOT não quer só tratar o paciente no pronto-socorro, mas queremos prevenir lesões. Com a prevenção, você deixa os hospitais mais vazios para atender quem precisa de cirurgias eletivas, porque, muitas vezes, a emergência toma conta de todos os leitos hospitalares do Brasil, tanto do sistema público quanto da saúde suplementar. Então, com uma campanha, você diminui esse afluxo de gente no pronto-socorro. Esse vem sendo um mote da SBOT ao longo dos anos e que continuará sendo.
UD – Quais são os frutos que o senhor espera colher no final de 2025, ao final da sua gestão?
PLJ – A SBOT não é a gestão de uma pessoa, mas de muita gente que trabalhou ao longo desses 90 anos para que ela chegasse no apogeu que está hoje. Com a mudança da governança, estamos transformando a SBOT em uma instituição corporativa – e muitas pessoas trabalharam para isso. Eu poderia responder que já estou com saudades de 2025, do ano que mal começou. Estou tão entusiasmado e me sinto tão honrado de estar à frente do Conselho de Administração, que até já tenho saudades de 2025. Espero terminar o ano passando um legado de muito trabalho para que a sociedade mantenha seu padrão de alta qualidade.
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