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Expectativas e frustrações dos pacientes na balança – Parte 4

Por:

Nayara Simões

- 25/06/2020

O que fazer quando um paciente deposita suas expectativas em resultados irreais ou incertos? No dia a dia dos consultórios, esse é um desafio que precisa ser superado para que a relação médico-paciente não seja afetada de forma negativa. Nesse cenário, construir uma relação de confiança em cada consulta e deixar claro todos os desfechos que podem ser alcançados pode colaborar para a prevenção desses problemas.

Porém, diariamente, cada profissional lida de maneira distinta com seus pacientes. Por isso, conversamos com médicos de diferentes especialidades para entender as melhores formas de lidar com alguns desses casos e preparamos uma série especial dividida em 6 partes que será divulgado ao longo da semana (22 a 27 de junho). Acompanhe a seguir a parte 4:

Resultado “para ontem”

Expectativa e frustração são dois lados de uma mesma moeda e não estão restritas apenas à estética. A mente humana é a responsável por desenvolver as expectativas, por vezes irreais. Ao levar esse fator em consideração, é possível dimensionar o trabalho de um psiquiatra quando o tema é a busca por resultados perfeitos. Nessa especialidade, distúrbios e problemas de Saúde afetam uma parte muito sensível do organismo e que pode desencadear diversos outros tipos de doenças. Dessa forma, muitos pacientes esperam que, ao iniciar certa medicação ou tratamento, tudo volte ao normal e esses problemas sejam automaticamente eliminados.

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De acordo com a psiquiatra Valéria Avilla, ex-presidente da Associação Psiquiátrica de Goiás (APG), isso ocorre porque, apesar de os meios de comunicação oferecerem muito mais informações do que há 30 anos, ainda há resistência em se procurar um psiquiatra. “Além disso, colegas médicos ainda encaminham pouco. A maioria de nossos pacientes vem encaminhada por outros pacientes ou por familiares de pacientes que melhoraram. Ou seja, o paciente demora muito a chegar até nós”, lamenta.

Na Psiquiatria, nem sempre as expectativas são o problema. Na relação médico-paciente, há casos em que as pessoas, quando vão à consulta, já não possuem esperança. “Quando recebemos um paciente que já passou por muitos psiquiatras, tendemos a ficar preocupados, pois é um caso refratário aos inúmeros fármacos existentes, ou o paciente já está muito desgastado e terá dificuldade em confiar em nós”, analisa Valéria. Nessas situações, segundo a especialista, conquistar a confiança e a esperança desse paciente já tão sofrido será uma tarefa maior do que a de costume.

A psiquiatra acrescenta que, certa vez, atendeu uma pessoa com transtorno bipolar grave com várias internações, relatadas como traumáticas, e Valéria era apenas a próxima psiquiatra de sua romaria, em um momento de sintomas psicóticos associados e com clara indicação de uma nova internação por risco de suicídio e agressividade. “Resolvi realizar uma internação domiciliar, com enfermeiros de plantão. É claro que a família colaborou bastante, mas uma internação domiciliar é bastante complexa. Ela ficou grata e de fato nunca mais teve indicação de internação”, relembra.

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Valéria ressalta que jamais teria feito isso em seu começo de carreira, pois a atitude requer cuidado e frequente reavaliação dos riscos e dos benefícios. Além disso, ela diz que a Medicina deve voltar a ser mais humanizada. “Devemos retomar àquele médico em quem a família confiava. Ao médico que lia literatura e filosofia e por isso entendia não só da doença, mas principalmente do homem, o sujeito singular quando adoece”, assegura.

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